Arnobio Rocha Reflexões Em Meio da Jornada

1223: Em Meio da Jornada


A brevidade da vida, veloz como o brilho de um cometa ( Getty Images)

A brevidade da vida, veloz como o brilho de um cometa ( Getty Images)

 

“Como quem lucro anela noite e dia,

Se acaso o tempo de perder lhe chega,

Rebenta em pranto e triste se excrucia”

( Inferno – Divina Comédia – Dante Alighieri)

E a nossa vida, muitas vezes, se resume a uma eterna reciclagem de sentimentos. Vamos vivendo (ou revivendo) e buscando razões para sermos felizes, dos mais vagos aos mais nobres motivos, um jogo de futebol ou um campeonato inteiro, uma música ou a coleção completa. Nas situações de limites é que conseguimos enxergar com mais clareza sobre a nossa real natureza, na maior parte, é apenas uma doce ilusão e sonhos não realizados.

Mas somos buscadores de algo mais, somos teimosos ao extremo, então insistimos e persistimos, antes de virarmos apenas cínicos. Parece que é essa a dialética da vida, por mais sofisticados que sejam nossas ideias e pensamentos, em algum momento, a chave para negação completa de todo conhecimento e aspirações honrosas, é virada e nos tornamos absolutamente comuns, sem cheiro ou fedor, apenas cidadãos pálidos, sem brilho e sem cor.

Venho sendo assombrado por esses sentimentos, em especial nos últimos anos, não sei se é o famoso efeito da “crise dos 40”, ou crise da meia idade, não custa lembras as lições do poeta maior, Dante:

“Da nossa vida, em meio da jornada,

Achei-me numa selva tenebrosa,

Tendo perdido a verdadeira estrada”

Ele, que também se achou perdido, mas transformou a derrocada em poesia, coisa que a mim falta, talento. só me sobra a lamúria e a constatação, dos anos e dos infortúnios que pesam sobre nós.

Volto a antigos escritos e me encontro mais uma vez na mesma reflexão de outrora. Depois de tanto percorrer caminhos, frequentar tantos lugares, viajar por muitos estados e países, conhecer maravilhas de variados locais e culturas, tive oportunidades incríveis de ser levado pelos mundos mágicos da literatura, do conhecimento formal, dos bancos de estudos, como se fosse acumulando títulos e honrarias intelectuais, mas o que vale realmente para vida?

Nossas pequenas e grandes vaidades e ambições, cada vez mais sendo azeitadas pelo Mais, não pelo justo e necessário, muitas vezes transformada em orgulho tolo de um Poder ilusório, sem perceber a transitoriedade da vida, de como é curta nossa existência.

Nada nos parece fácil ou difícil, as coisas apenas são o que são, cabe a nós remoer e reviver a cada dia, para, no limite, encontrar algo que vá justificando nossa presença aqui.

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