Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0:UE – do Amor ao Ódio

Crise 2.0:UE – do Amor ao Ódio

 

A luta aberta nas ruas de Atenas, ontem, mais uma Greve Geral

 

Ao final de mais uma cúpula dos líderes da UE, se percebe o clima de derrota generalizado, uma reunião que delega à outra a decisão que esta não toma, por absoluta falta de acordo. Mais uma vez, tem sido assim, desde que Hollande assumiu a presidência da França, houve um duro e ácido debate entre Merkel e ele, com a Chanceler alemã impondo-lhe mais uma derrota. Quem nos acompanha aqui, na série sobre a Crise 2.0, já compreendeu o que tem de fundo neste embate entre os dois países. O artigo de ontem Crise 2.0: UE – De Cúpula em Cúpula, já apontava estas questões.

 

A Alemanha com seu poder econômico inconteste, esmaga as posições políticas contrárias, por mais que uma aliado dileto, a Espanha, esteja para explodir, Merkel permanece insensível ao que se passa no restante da UE. Age como se todos os países devem continuar a lhe prestar vassalagem, não como engrenagem de uma união política e econômica. Mais de uma dezena de artigos aqui já demonstrei como a Alemanha cresceu e se reposicionou graças a UE, que nos momentos mais complicados de sua unificação, lhe foi completamente solidária, mas que, agora, com seu poder recomposto, trata os demais parceiros como delinquentes e irresponsáveis.

 

Esquece a Alemanha que a UE lhe garantiu mercado cativo aos seus produtos, sem barreiras, além de franquear o controle de fluxo de capitais, tudo isto se deu graças a relação de União, princípio norteador da UE, mas que Merkel faz questão de pisotear, como sua viagem provocação à Grécia na semana passada, agindo como antigos imperadores romanos ia visitar suas “colônias”, apenas para lhes mandar um recado: Eu Mando. Os sátrapas locais agiram de forma violenta reprimindo os manifestantes, com polícia e ajuda dos neonazistas locais.

 

Ontem, em Bruxelas, não foi diferente, o duro embate Hollande x Merkel, sobre as bases de resgate espanhol, disfarçado de “União Bancária”, uma forma mais branda de lhe emprestar dinheiro do resgate, que era defendida por Hollande, foi rechaçada por Merkel. A proposta de união bancária foi jogada para 2014, uma sinalização que teremos mais 15 meses de mais tragédias locais. Esta claro, que não sobrará outro caminho à Espanha que não seja o do Resgate e a entrega do poder local para Troika. A resolução de ontem foi passar ao Eurogrupo (reunião do ministros da Economia da UE) a tarefa de coordenar os novos resgates e, inclusive, exigir mais garantias da Espanha.

 

Merkel usou de uma tática já conhecida, chega a reunião com uma posição extremada, era contra a União bancária, assim como era contra o EuroBônus, bate a reunião inteira, divide os que defendem as posições contrárias e no final repassa as decisões para órgãos que nada decidem. No caso do EuroBônus jogou para o BCE, nunca mais se voltou ao tema, o BCE usou a resolução e promoveu 3 QEs em 1 ano. Agora, no caso da união bancária, recairá para o Eurogrupo a decisão, o que parece não sairá do lugar. Esta dinâmica, mata politicamente a UE, pois acirram as diferenças e se torna claro quem manda, voltando, ao presente, os antigos ódios regionais.

 

Sobra, neste meio, figuras patéticas como Monti, o premier Biônico da Itália,  que aparentemente apazígua, intervindo no embate França x Alemanha, mas que no fundo apenas favorece a posição do mais forte, Alemanha. Este ganhar tempo, atinge de forma mais cruel a Espanha e Grécia, cujos governos locais estão falidos, dirigidos por capachos, mas que até na desonra geral, tentam manter alguma sobriedade. Ontem os gregos fizeram sua quinta greve geral em 2012, e os estudantes secundaristas ocuparam Madri, o caminho do desespero pela sobrevivência neste pequeno recorte de uma cena em Atenas, ontem:

“Anne Yannikou , uma advogada de 30 anos. O protesto tinha sido dissolvido, mas ainda havia tempo para mais prisões. Com sua jaqueta de algodão fino, Yannikou não é  a imagem típica de anarquistas atirando pedras. Mas, enquanto observava os últimos grupos se  enfrentando com a polícia, ponderou em voz alta: “Se apenas um pequeno grupo lutar não vai a lugar nenhum. Se todas as pessoas que vieram antes, e foi muito, muito mais do que o outro dia, enfrentar a polícia, se obtém melhores resultados. ” E onde levará os confrontos violentos? “Eu me considero uma pessoa educada, mas eu acho que não há mais violência. Tenho um filho e tive que ir morar com meu namorado. Mas a cada mês nós percebemos que não temos como subsistir. Estão roubando nossas vidas “, argumenta”. (El País, 19/10/2012)

 

Chocante e revoltante, bem-vindos ao Caos, uma típica criação mitológica grega, além da tragédia.

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