Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: O Risco EUA

494: Crise 2.0: O Risco EUA

 

 

As "verdinhas"inundando o mundo

 

Apenas numa grande Crise, como esta, é que podemos realmente ler nos jornais e revistas alguma dose de verdade sobre como funciona o Capital. A sinceridade com que os articulistas estão escrevendo, algumas vezes, nem preciso fazer qualquer adendo ou retoque. Os últimos posts tenho procurado, Aqui na série sobre a  Crise 2.0, os movimentos do coração do sistema: Alemanha, carro chefe da UE (     Crise 2.0: A Farsa das”Lições de Casa” AlemãsCrise 2.0: Alemanha – Todos dizem Eu te Amo!) e EUA ( Crise 2.0: EUA, a Fraca RecuperaçãoCrise 2.0: EUA, sete anos depois…) como forma de localizar com precisão para onde nos encaminhamos.

 

Atendendo as duas premissas acima, hoje, Celso Ming, no Estadão, nos traz uma coluna extremamente precisa, com o que concordamos quase integralmente. Logo no título se percebe a gravidade do tema “Grande risco”, acompanhemos juntos o que ele nos conta, comentando alguns tópicos:  “Nos quatro últimos dias, tanto o Fundo Monetário Internacional como Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), avisaram que entre os grandes riscos que corre a economia mundial está a falta de solução para os problemas da política orçamentária dos Estados Unidos”.

 

Tratamos deste tema, do problema orçamentário dos EUA, ontem no post Crise 2.0: EUA, a Fraca Recuperação, em que acompanhamos o pessimismo do Presidente do FED, Ben Bernanke, na apresentação ao senado. Ming nos dá mais detalhes do imbróglio:”É uma situação esdrúxula. Enquanto os grandes bancos centrais são fortemente convocados a imprimir moeda, para desempoçar o crédito e estimular a atividade econômica, o presidente do Fed adverte que são os políticos ou, no caso dos Estados Unidos, é o Congresso que tem de fazer sua parte”.

O problema de fundo é que as despesas em 12 meses do governo dos Estados Unidos vêm sendo cerca de US$ 1,3 trilhão mais altas do que sua capacidade de arrecadação. A solução imediata implica expansão da atual capacidade de endividamento, hoje de US$ 15,2 trilhões. Se o Tesouro dos Estados Unidos não for autorizado a emitir mais títulos, a única saída passaria pela drástica contenção das despesas públicas, cuja principal consequência seria uma profunda recessão.

O maior obstáculo para essa solução é a recusa do Partido Republicano em aprovar tanto o aumento da dívida quanto o de impostos. Em agosto do ano passado, o Congresso dos Estados Unidos conseguiu aprovar, à décima primeira badalada, uma elevação da dívida pública de US$ 14,3 trilhões para US$ 15,2 trilhões. Outro aumento desse teto, para US$ 16,4 trilhões, só poderia acontecer com nova aprovação explícita do Congresso. Se o Tesouro dos Estados Unidos não puder emitir mais dívida, o governo terá duas opções: ou passará o calote em parte dos seus fornecedores ou será obrigado a cortar despesas unilateralmente, com os desdobramentos já apontados.

 

Aqui reforça o que estamos repetindo como mantra, tanto EUA, como Alemanha, não economizaram nos gastos para conter a crise, mas exigem dos endividados, ou seria dos que não têm poder real, que cortem gastos. Ming entrega o jogo dizendo: Contenção das despesas públicas, traz mais recessão. Pena que ele pregue exatamente isto no Brasil, ele insiste que o Governo Dilma, assim como na época de Lula, cortasse gastos públicos, mas voltemos aos EUA. Ming, oportunamente, esquece de nos informar que o aumento do déficit público se deu pelo salvamento dos bancos que consumiu cerca de 3 trilhões do tesouro americano. Basta ver o gráfico, que ele mesmo publicou:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Somados os déficits de 2008-2011, teremos o acumulado de 4,6 trilhões de dólares, que foi torrado na tentativa de salvar a economia, na verdade para remunerar o grande capital, pois o Estado cumpre o papel específico de equalizar o valor, beneficiando as frações do Capital que o domina, no caso, os banqueiros.

 

Vejamos que de repente, Ming se dá conta da contradição central, EUA gasta trilhões aumenta sua dívida, mas a política exigida aos outros é diminuição de despesas, quando fala da UE:“Na Europa, multiplicam-se críticas ao excesso de austeridade imposto aos países prostrados pelo excesso de dívidas e, ao mesmo tempo, exige-se que o Banco Central Europeu (BCE) tome o mesmo caminho do Fed: emita moeda e, com ela, recompre os títulos de países do euro – especialmente os de Espanha e Itália. O objetivo dessa manobra é criar mais demanda para os títulos, de maneira que os juros possam cair e, assim, mantenham o endividamento sustentável. O governo alemão vetou essa política, que implicaria o uso do BCE para levar todos os países do euro a pagar um pedaço da conta, que é só de espanhóis e italianos. Mas a falta de uma solução duradoura para a crise do euro talvez torne inevitável esse passo do BCE, que atualmente é considerado irresponsável”.

 

Países prostrados é a definição perfeita mesmo, a pressão é para que BCE use as mesmas armas do FED, mas o veto alemão, como já dissemos amplamente, é bem calculado, pois o quanto pior daqueles países, mais a Alemanha se beneficiou, até agora. Nos EUA, o FED tem mãos livres para agir, nos seguidos QE(1, 2 e talvez um 3), mas o BCE, com oposição da Alemanha e seus aliados menores, não fará o mesmo na UE, o que apenas piora o quadro.

 

De um lado, os EUA faz seu afrouxamento monetário, mas não tem acordo fisca
l possível, congresso em oposição ao governo, limitando as ações e por conseguinte uma saída mais consistente da Crise. Do outro lado, na UE, como há apenas uma moeda comum, o BCE está de mãos atadas, não agindo para resgatar países como Espanha e Itália. O coração do Capital continua funcionando com marcapasso, quase quebrado.

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0 thoughts on “494: Crise 2.0: O Risco EUA”

  1. Perfeita demonstração, Arnóbio! Muito orgulho de acompanhar por aqui essas contradições todas, que se acumulam vergonhosamente!!!

  2. Olá, Arnobio!

    Excelente reflexão a sua. Parabéns!
    De minha parte, sem o seu conhecimento de economia – apenas de um jornalista e cidadão que procura antenar-se com as coisas do mundo – toda vez que olho pra essa crise me remeto à possibilidade histórica de o centro do capitalismo (EUA e UE, principalmente) partirem para a saída historicamente preferida da beligerância deletéria. Não é por acaso que se alimentam nas mais variadas regiões do planeta (Oriente Médio e Ásia, principalmente) de crises diplomáticas cujo único objetivo (insofismável) é vender armas, alimentando ainda mais a essência de suas economias (a indústria bélica). Tem sido assim desde que se estabeleceu o fim da chamada Guerra Fria. O espírito belicista do centro do capitalismo não se arrefeceu mesmo com as consequências profundamente nefastas para a humanidade das duas grandes guerras do século passado. Eu diria que está no DNA do capitalismo, que deixou de ser revolucionário no sentido da inovação científica e tecnológica para dedicar-se especialmente ao desenvolvimento bélico, sempre identificado pelo espírito colonial-imperialista, cada vez mais reanimado, feito sanguessuga – parasita compulsivo.
    Sem querer ser apocalíptico, desculpa o exagero do texto…
    Um abraço e obg pelo espaço
    Luca Vianni

    1. Luca,

      A Série Crise 2.0 começou por mero acaso, ganhou contornos dramáticos com a piora acelerada da crise, objetivo é debater, obrigado pelas palavras, estamos de acordo, as guerras “locais” e seletivas estão no contexto de reprodução do Capital, não é por acaso, que se demoniza “minorias” e países que denominam eixo do mal e outras lorotas.

      Abraços,

      Arnobio

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