Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0:Riscos das Agências (Post 136 – 90/2011)

137: Crise 2.0:Riscos das Agências (Post 136 – 90/2011)

 

Peço perdão por escrever tantos artigos sobre a Crise 2.0, mas hoje é impossível deixar de lado o que acontece no mundo e não tentar entender a dimensão da atual crise. Infelizmente não temos um corte marxista, que é tão necessário para interpretar e agir no momento atual. Este pequeno blog tem procurado colaborar nesta perspectiva, ir além das manchetes e matérias econômicas da grande mídia.

O trabalho é árduo e complicado, feito em intervalos do trabalho, as correções ortográficas e de erros lingüísticos peço que relevem e me ajudem a corrigi-los, mas muita vez preciso publicar sem qualquer tempo de uma melhor revisão. Outro problema é o pouco retorno das leituras, que ajudam a compor melhor uma visão da realidade, como é bom ler comentários, principalmente os que questionam a linha do que escrevo. Também é um termômetro do que estamos a fazer.

Agências de Ri(s)cos ou Máquina mortífera

Como não sei se todos estão familiarizados com o que são as famosas Agências de Ri(s)cos vou tentar explicar, grosso modo, como elas funcionam. Fundamentalmente elas são grupos especializados em ler e interpretar dados de economia de uma empresa, grupo econômico e por vezes de países, para que recomende aos seus clientes onde melhor aplicar seu dinheiro.

Em tese esta é a função que nos anos 70/80 era parte da estruturas dos grandes bancos. Nos anos 90/00 com a reestruturação do sistema financeiro estas Agência se tornaram grupos autônomos que vendem seus serviços não só aos bancos, como também empresas, fundos de pensões e governos.

Porém na recente crise do subprimes estas agências foram postas à nu, pois longe de efetivamente analisar e ter cenários econômicos precisos sobre os investimentos, elas simplesmente entraram na ciranda financeira, fazendo recomendações de altíssimos ricos, pois suas notas passaram a ter muito peso para as empresas e instituições analisadas. Um exemplo clássico é que Lehman Brothers era AAA, a máxima nota, um mês antes de ruir completamente.

A falta de órgãos reguladores fortes e atuantes provocada pela onda neoliberal, em particular nos EUA, fez crescer mais o valor destas agências privadas, pouco importando os métodos de atuação e precisão científica de suas analises.

Países inteiros passaram a depender de grupos yuppies com seus ternos modernos, lembro de uma porta voz da S&P no Brasil, não tinha nem 30 anos, impondo “regras” de economia ao Brasil, mostrando o caminho para um governo de 190 milhões de pessoas, com uma arrogância de dar nojo.

A Espanha Negativa

A S&P acaba de condenar a Espanha a mais sofrimento, rebaixou sua nota soberana e com um cínico comunicado, uma pérola digna de Mailson:

“Apesar dos sinais de resistência no desempenho econômico em 2011, vemos riscos destacados para as perspectivas de crescimento da Espanha devido à alta taxa de desemprego, duras condições financeiras, o nível ainda elevado da dívida do setor privado e a provável desaceleração econômica nos principais parceiros comerciais da Espanha

No ponto que mais há sacrifício do povo espanhol, já tão punido pela desastrada situação econômica, a S&P lhe impõe mais um problema. Prefiro mesmo a frase de Delfim Neto sobre as agências: “As agências são todas 171”

A situação espanhola e do que eles chamam periferia do Euro: Portugal, Irlanda e Grécia, hoje são condenadas moralmente pela crise que se alastra pela Europa, mas num excelente artigo do economista Kash Mansori sobre a crise na Zona do Euro, ele deixa bem claro sobre os vícios de origem (tema que venho tratando nos meus últimos artigos) na implantação do Euro:

“ IMPLICAÇÃO É que a própria criação da zona do euro já plantou as sementes desta crise, e não o comportamento dos países da periferia. Embora estes países não tenham necessariamente agido totalmente de maneira correta, eles estavam num jogo de cartas marcadas. Mas se a fácil explicação da crise – ou seja, que ela ocorreu devido ao comportamento irresponsável dos países da periferia da Europa – não é a resposta certa, então precisamos reavaliar como ela tem sido tratada.

Para começar, se a crise é o resultado de forças inexoráveis fora do controle dos países da periferia da zona do euro, não é apropriado censurar ou punir esses países, aplicando um remédio amargo de auxilio insuficiente. Esta crise não deve ser transformada numa questão moral.

Mas o mais importante é que, como a periferia da zona do euro é que sofreu a maior parte dos riscos sistêmicos inerentes a esta área da moeda comum, enquanto os benefícios foram partilhados por todos, do centro e da periferia, é profundamente injusto que o ônus da solução da crise recaia de modo tão esmagador sobre os países da periferia, por meio de medidas de austeridade que só debilitar estes países, exigidas pelos países do centro. França e Alemanha estavam na direção quando o sistema foi criado e ficaram satisfeitos em obter vantagens da moeda comum quando foi em seu benefício. Agora têm que reconhecer que a responsabilidade pela solução desta confusão em grande é sua.”

Why Greece, Spain, and Ireland Aren’t to Blame for Europe’s Woes

 

Ministros da fazenda do G-20

Hoje se inicia, em Paris, a reunião dos ministros da economia do G-20, claro que o foco será a atual crise. Pelas notas prévias o que se percebe é que o assédio será intenso sobre os BRICS e seu fantástico estoque de reservas cambiais, juntos eles têm 4,6 trilhões de Dólares.

A Zona do Euro precisa urgente inflar seu fundo de reserva de estabilidade de 440 Bilhões de Euros para 2 trilhões, número cabalístico de salvaria a economia como um todo, mas que o BCE não tem como garantir com recursos próprios, seria de grande valia a ajuda dos Brics neste momento crítico.

A tarefa não é fácil, basta ler o que diz o Ministro da Fazenda do Brasil:

“Não há posição homogênea sobre isso, por isso há essas discussões preliminares, para ver se nós podemos chegar a uma posição comum. Eu prefiro discutir isso com meus colegas primeiro”

A China só aceita participar se for reconhecida como Economia de Mercado pela Europa, a Índia começou um plano de contenção de gastos, para reduzir seu déficit público, o Brasil também faz aperto, além de que os números do crescimento neste ano e no próximo estão abaixo do esperado, suas reservas podem ser usadas para garantir o crescimento interno diante da crise mundial.

Mais uma vez descem as cortinas…

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0 thoughts on “137: Crise 2.0:Riscos das Agências (Post 136 – 90/2011)”

  1. Oi Arnobio! Acho que todos, infelizmente, não conseguimos tempo para acompanhar de perto tantos assuntos quanto gostaríamos! E embora sempre dê uma passada de olhos nos teus posts, o que mais me admira é essa capacidade que tens de, em meio ao trabalho, trânsito, família, etc, conseguires plasmar o que pensas em belas postagens!
    Abração amigo!!!!
    E sempre com Fernando Pessoa: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena!!!

    Denise

  2. Como trabalhei muito tempo na área de análise de crédito de um grande Banco e, depois, em uma pequena confecção, conviví muito com análises de riscos.

    Minha formação na área foi em cima das tradicionais análises, como os 5C, balanços, balancetes, capacidade do empreededor, mercado inserido, nível de endividamento, faturamento, custos, caráter dos sócios, etc.

    Nos casos mais duvidosos, era o “olho no olho” e a visita “in loco” ao projeto que daria o respaldo necessário para uma boa análise de risco.

    Nunca consegui entender as tais “agências de risco”. Parece coisa de gabinete ou de encomenda. Sempre me pareceu que não passavam de instrumentos para os manipuladores do tal “mercado” manter a jogatina criada com o mercado futuro e de derivativos.

    Pela minha formação, o mercado real com seus ativos e passivos, seriam mais importantes, no entanto, o tal mercado elevam as “agências de risco” a um patamar que tudo o que elas falam podem virar sentenças definitivas, para o bem ou para o mal.

    Engraçado que quando elas classificavam os países emergentes com notas baixas suas credibilidades não eram contestadas. Mas bastou rebaixar algumas economias do primeiro mundo para que até os EEUU duvidarem de suas competências.

  3. Abaixo da crítica essas manipuladoras! Concordo com o Savio, porque o interesse delas é direcionar investimentos. E tome mamata. O melhor é que tiveram que engolir o Brasil. É uma triste ironia que rebaixem os países que seguem à risca sua receita… Cretinas!

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