Arnobio Rocha Crise 2.0 Apogeu e queda do Neoliberalismo (12 – 02/2010)

Apogeu e queda do Neoliberalismo (12 – 02/2010)

 

 

Mistificação de Números da Crise Mundial

Apogeu e queda do Neoliberalismo

 

A grande crise que estourou no mundo em Setembro de 2008 ainda repercute gravemente na Economia, na Política e claro na vida do cidadão comum. A maior conseqüência sem dúvida foi que o canto do cisne soou alto para a visão Neoliberal de mundo.

Rebobinando a fita, lembremos que antes do dia 15 de Setembro de 2008 fomos massacrados por 20 anos de ofensiva ideológica neoliberal, não havia qualquer possibilidade de “tatear” um contexto de ação econômica ou política fora desta ordem. Mesmo governos claramente identificados com políticas de esquerda sucumbiram ao marasmo deste Tsunami interminável. Nunca uma ideologia capitalista perdurou tanto como esta Neoliberal, que teve seu inicio com a derrota dos mineiros ingleses no Governo Thatcher, amplificado por 8 anos Reagan, que culminou com a queda do muro de Berlim, 30 anos ao todo,sendo os últimos 19 anos(89 a 2008) sem qualquer combate global ideológico.

Particularmente a defensiva política pela qual passamos com a queda do muro de Berlim, desarmou a esquerda ideológica que foi reduzida a pequenos círculos sem efetivo contato e produção política que oferecesse qualquer combate sistemático e global ao neoliberalismo. Em todos os campos sociais e políticos. A situação ficou tão ruim que Francis Fukuyama chegou a prever o fim da “história”.

Massacre Midiático

 

Grosso modo a perspectiva Neoliberal tinha os seguintes comandos lógicos:

1)       Fim da intervenção do Estado na economia;

2)      Estado apenas regula as disputas econômicas;

3)       Diminuição dos direitos sociais, fim da previdência pública e sistema de saúde privado;

4)      Fim da educação pública gratuita, prestação do serviço por entidades privadas;

5)      Sindicatos apenas “formais”, sendo diluído aos interesses das empresas privadas;

6)      Representação pública sem qualquer poder decisório, poder apenas formal, o real fica com as grandes corporações;

7)      Poder executivo vira uma espécie de tecnocrata que representa formalmente os interesses “nacionais”;

8)      Poder Judiciário capturado pelas demandas privadas, legalista e sem preocupação coletiva, no limite: apenas legitimar os interesses privados;

9)      Ideologia do extremo individualismo, “só apenas você interessa”, o importante é seus status e nenhum compromisso social;

10)   Qualquer iniciativa coletiva é tolhida, taxada de atitude velha e ultrapassada;

11)    História é apenas a nomeação de fatos isolados e datados, sem vinculação de classes e poder;

12)   Consumismo desenfreado, culto ao corpo, ao modismo, relações pessoais apenas as de interesse;

Os arautos midiáticos nos lobomotizaram longamente, reações esporádicas de vozes isoladas foram caladas, intelectuais identificados com a esquerda foram seletivamente ou cooptados ou jogados no limbo, as noções mínimas de jornalismo foram abandonadas.

Nas escolas e universidades a ideologia e o culto ao individualismo é a norma do dia, a necessida de de  que o importante é se dar bem, nem a mínima ética foi respeitada, percebe-se isto claramente no ambiente de trabalho em que colegas recém saídos das escolas com seus MBAs  chegam pisando em qualquer um, pois o objetivo é “crescer”.

A queda do muro de Wall Street

 

A lógica de produzir fortunas a qualquer custo, em particular as alavancagens bancárias, foram criando ondas especulativas em a “riqueza virtual” superava em até 10 vezes a riqueza real. A necessidade crescente de guerras e conflitos para revigorar a produção de capital a emissão de moedas e o endividamento do USA, combinado com a inversão de fluxo de capital dos países periféricos para o centro criou o caldo de cultura para a futura crise.

A redistribuição da produção, privilegiando China e Índia, com a visão de barateamento ao extremo dos custos, leva conseqüentemente à desindustrialização dos grandes centros, começa um ciclo de sobrevivência das famílias através de empréstimos bancários cada vez mais “generosos”, uma bolha de consumo nunca vista na história ameaça todo o sistema. Grandes corporações americanas passam a ter mais “lucros” com atividades interbancárias de empréstimos do que com o produto vendido, caso exemplar da GM, Ford.

Os bancos como bombeadores do sistema com seus imensos créditos sem lastro vão à bancarrota de forma inacreditável, no espaço de 45 dias as maiores instituições bancárias do mundo falem sincronizadamente.

Socorro neoliberal pelo Velho ESTADO

 

Seria cômico se não fosse trágico, mas o Estado vilipendiado pelo neoliberalismo virou o socorro às estas almas carentes de fé na sua ideologia, todas as práticas e discursos foram esquecidos e como na música do Chico a fila para Geni salvar tinham todos os personagens.

Em poucos dias o USA elegeu Obama, quase 30% da economia americana foi formalmente estatizada, no quadro abaixo publicado por Celso Ming no Estadão no dia 31/01/2010 mostra claramente o esforço estatal nos países centrais, para salvar a economia. A dívida líquida e o déficit público as jóias da coroa neoliberal foram enfiadas no saco, a prova cabal de que a ideologia e a política não resistem a dinâmica de crise econômica produzida pelo capital.

O Brasil e o neoliberalismo

 

Limitarei a falar sobre o período Lula, pois é mais que evidente que Collor/Itamar e mais ainda FHC abraçaram felizes o Neoliberalismo sem menor divergência com suas diretrizes.

Como falamos acima nenhum projeto político ficou imune a lógica Neoliberal, o do PT de Lula se adaptou a este mundo, mas por uma condição particular de extrema miséria e às doses cavalares do receituário neoliberal aplicados aqui, já se começava a gestar iniciativas tímidas de tentativas de fazer algo diferente à política dominante.

Dois fatores, para mim foram fundamentais:

1)       Diminuição da dependência americana, busca de novos parceiros comerciais;

2)      Rompimento com a política de privatizações, que preservou o Banco do Brasil a CEF e a Petrobras;

Mesmo sob críticas ferozes Lula buscou desde 2003 remar lentamente contra a maré, fez um excelente política externa coordenada por Celso Amorim, aproximando da China, da África e uma aliança estratégica com a Europa, em particular com a França.

Impulsionou o G20 grupo que passou a ter voz ativa na OMC e fazer frente às demandas  dos países centrais de maior exploração dos recursos destas nações e imposição de seus interesses de privatização e invasão de seus produtos.

A segunda política, a de parar as privatizações salvou um pouco do patrimônio público e deu margem de manobra para impulsionar uma política de desenvolvimento incentivado pelo Estado.

A Petrobrás que quase fora privatizada por US$ 3 bilhões em 1999, em janeiro 2003 tinha seu patrimônio em US$ 20 Bilhões, em janeiro de 2010 ela vale US$ 200 Bilhões e movimenta cerca de 10% do PIB, sendo hoje a quarta maior petroleira do mundo. Os ganhos do Pré-Sal podem definitivamente tirar o Brasil da miséria endêmica.

O Brasil e a grande crise

 

Aos primeiros sinais da crise Lula, falou que ela seria uma “marolinha”, quase foi massacrado pela mídia e seus acólitos no parlamento. Porém ele jogou todo seu patrimônio político no combate a crise, enfrentou-a de peito aberto, com o significativo pronunciamento no natal de 2008.

Lula jogou todas as suas forças e recursos do Estado para que o Brasil fosse pouco atingido pelos efeitos da crise, importante lembrar os coveiros (Miriam Leitão, Sardenberg, PSDB e DEM) que torciam entusiasmados com a possibilidade de derrotar o governo, todo dia eles comemoravam um n;úmero ruim que saiam, em abril chegaram a dizer que o desemprego iria explodir em 2009, que a geração de novos empregos seriam nulas. No parlamento a ‘“marolinha” era motivo de chacota, os programas eleitorais do DEM/PSDB/PPS repetiam as piadas sobre a crise.

Logo em junho a situação se reverteu, o pior passara, o crescimento seria ZERO, mas o mundo todo em média seria de -4%, ou seja estávamos no Lucro. A previsão de geração de emprego foi de 1 milhão.

Lula passou a ser visto no mundo como o “CARA” nas palavras de Obama, sua rapidez de agir, firmeza e principalmente a confiança de que só nós podíamos vencer a crise convenceu a população de que era possível.

A mídia e os resultados de 2009

 

Olhando a tabela acima sobre os números da economia mundial e comparando com os do Brasil abaixo:

Dívida Publica x PIB

Em Dez/2008 = 37,3 % do

Em Dez/2009 = 42,96%

Supervit da Contas Públicas X PIB

Em 1999 = 3,26%

Em 2000 = 3,46%

Em 2001 = 3,64%

Em 2002 = 3,89%

Em 2003 = 4,32%

Em 2005 = 4,85%

Em 2008 = 3,54%

Em 2009 = 2,06

Mesmo com toda crise nossos números são extremamente favoráveis, mas lógico que donas Miriam, Sardenberg da vida e PSDB/DEM acham que estamos no casos pois geramos so 995 mil empregos(5 mil a menos do que previsto), que nossa dívida publica aumento e o superávit caiu.

Como há muitos incautos é bom comparar com o mundo e ver o porquê Lula foi agraciado em Davos e nossos brilhantes “economistas”(não seria apenas torcedores?) não entendem nada de nada. Ademais a oposição entra em pânico ante os números das pesquisas.

Vendo isto hoje, vejo que  precisamos urgente de um filme “Adeus, Reagan”, duro é saber quem faria o papel da velhinha Neoliberal, sugestões?

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0 thoughts on “Apogeu e queda do Neoliberalismo (12 – 02/2010)”

  1. arnobiorocha, caro, deixa te dizer q após encontrar sei lá como teu blog cá na net, tornei me absolutamente simpático às tuas idéias; falta ver qtas mais pessoas tb serão- não creio muito nas pesquisas recentes q apontam dilma como tecnicamente empatada com o “vampiro brasileiro”, e vc?
    *conversa a continuar…

  2. Gostaria de conhecer mais sobre Dilma , pois as ultimas aparições dela como a de Fortaleza tem me assustado . Principalmente sobre não saber ouvir o que diz a sociedade e seu radicalismo .
    Sou Lula e Minc , PT/Pv desde de criança .
    Participei na guerra em Volta Redonda e nunca esperei posições desse tipo, é vergonhosa a posição radical contra as drogas e fora de sintonia com o mundo , em grande sintonia com o xerife do mundo EUA.

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