Arnobio Rocha Reflexões O Peso de Tempo e os Sonhos que não se tornaram realidade.

1985: O Peso de Tempo e os Sonhos que não se tornaram realidade.


O nosso tempo é tão curto, o da história é longo.

Ontem numa conversa com um companheiro, Márcio de Sessa,  falando sobre as questões políticas presentes, e de situações vividas no passado, bateu aquele sentimento de melancolia sobre o que fizemos nessa trajetória, as frustrações, os erros, as apostas que não funcionaram, Uma dura reflexão sobre as nossas militâncias políticas e de vida, as escolhas, ainda jovens, e como nos manter firmes nesse momento tão confuso.

De fundo, no meu caso, tem muito a ver com a questão da idade, o tempo voou e mal nos damos conta. Da minha tomada de consciência de classe, de entender que não há outro caminho na vida, de que não seja lutar, coletivamente, buscar saídas para as mazelas sociais e econômicas.

Desse tempo vivenciei anos intermináveis como os de 89, 90, 91, parecia que tudo aqui era um enorme pesadelo, alguns companheiros espanaram, não deram conta de tantas porradas, o tamanho do buraco ideológico, de refluxo daquilo que sonhávamos e desmoronou, simbolicamente identificado com a queda do Muro de Berlim, mas não só por ela, tudo associado, o fim da URSS, um mundo inacreditável.

A pouca idade, mal chegara aos 20 anos, o que dá tempo de se reinventar, recomeçar, estudar, investigar, amadurecer ideias, encontrar uma explicação ou mesmo romper com uma série de conceitos que não se aplicava, que era mera ilusão e que é preciso mudar, para construir um novo sonho e uma nova perspectiva, a idade ajudava.

Os anos terríveis voltaram entre 2013 e 2020, longos 8 anos, novas e mais fortes pancadas, para derrubar até mesmo quem sobreviveu ao Muro de Berlim. Há um cruzamento de dores políticas, com questões de vida, familiares, um pandemônio e um pesadelo sem fim, pior, a idade já não favorece, ao contrário, pressiona e maltrata o corpo e a mente.

A conversa com o Márcio de Sessa foi importante demais, pois senti o peso dos anos, a crueza de sabermos que fizemos muitas coisas boas, mas nem por isso nos acalma, pela certeza de que foi pouco, quase nada, que mais uma vez estamos em situação de impasse histórico, um ano eleitoral complexo, a luta contra a ameaça fascista, acaba rebaixando expectativas, é quase por sobrevivência. No meu caso, o tempo futuro é tão menor e restrito, que não sei o que é possível realizar.

Tempo, tempo…

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