1925: Por que Lutamos?


A solidão militante que ainda observa a liberdade do sol e sua teimosia de voltar todos os dias.

“Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão”
(Drão – Gilberto Gil)

Às vezes pensamos se vale a pena (sobre)viver e passar por tudo isso.

Ora, não obstante a violência própria do Estado Burguês, com todas as suas formas de opressão, a falta de liberdade, a necessidade premente de contar as moedas para pagar as contas e ter alguma dignidade. Temos que enfrentar as maledicências e canalhices do “fogo amigo”, daqueles que, em tese, estão no nosso mesmo campo político e ideológico.

De outras vezes, aqui, nesse minúsculo espaço, minha tribuna, tratei da questão da solidariedade perdida, em especial após a queda do muro de Berlim, inaugurou-se um “vale tudo” entre nós, nunca antes visto na história, assim, por mim, descrito que:

A questão que mais distinguia a Esquerda, até 1989, era a Solidariedade,  a despeito das enormes diferenças entre nós e até mesmo com os adversários, um militante político de Esquerda, tinha a obrigação moral e revolucionária de ser companheiro, camarada e solidário com o outro. Nas piores situações, no cárcere, por exemplo, esta qualidade inata de qualquer homem de esquerda, despertava a admiração e o respeito de todos.

Infelizmente, o que percebo e o que sinto é que após a queda do Muro de Berlim, a nossa derrota não foi apenas política e ideológica, mas principalmente no aspecto humano, da nossa formação mais especial que se traduzia na Solidariedade. As várias correntes de Esquerda que, politicamente, definharam e ainda definham, nestes últimos 25 anos, com suas rupturas cada vez mais sem sentido, a autofagia selvagem, nos levaram ao abandono deste princípio norteador de um revolucionário, para com seus camaradas e para com o povo.

Que fique claro que não é um mero lamento, a reclamação individual, muito menos um apelo emocional por nossas tragédias pessoais, pois, a despeito de  cada processo, não retrocedemos ou usamos como desculpa para não lutar: Do luto, se fizemos luta, pois, ou é isso, ou é nada.

Revivemos, em nós, a solidão do rochedo, os grilhões que prendiam Prometeu, são os mesmos que hoje nos tornam escravos da luta de classes, assim como a águia de Zeus que comiam o fígado do titã, em muito nos lembra as ações vis, dos que assim nos tratam, ainda que “parentes”, os desejos de poder, impõe o castigo para aqueles que não se submetem a qualquer poder, pagamos pela nossa rebeldia.

De todas as épocas, mal comparando, essas práticas aconteciam, desde os processos de Moscou, aos expurgos, dos isolamentos e perseguições, a grande diferença é que no momento atual isso se dá de forma mais sutil, higiênica e sórdida.

Nossa tola ousadia de fazer o que precisa ser feito, de ir aonde todos deveriam ir e ter um pé na realidade miserável de nosso povo, parece ofender à casta militante, uma espécie de elite descolada do mundo real, que vira conservadora e passa a defender, ainda que inconscientemente (será?), os mesmo privilégios burgueses, passa a viver e a se apegar aos mesmos valores da classe antípoda à nossa.

Assim, sigamos, ou não. Terminemos, por hora, com o Prometeu Acorrentado:

“O Destino, que tudo cumpre, ainda não decretou que assim seja.
Só depois de me dobrar sob milhares de suplícios e tormento me verei livre destas cadeias; os fados podem muito mais do que a astúcia”

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