1926: AMA-ME


AMA-ME: grande filme turco, uma tragédia de hoje, que ressoa o passado humano.

A incrível qualidade do cinema turco impressiona por suas histórias bem contadas, a fotografia e os atores. A crueza dos enredos, sem nenhum apelo de outros cinemas é que torna a relação visceral, contundente, não se espera um final feliz, um conto de fadas, mas a poesia da realidade brutal da nossa tosca existência humana.

De uma sequência recente, vi “O milagre da cela 7″, “Dano Colateral” até o grandioso e dolorido filme “AMA-ME” (Beni Çok Sev), com roteiro e direção de Mehmet Ada Öztekin, ótimo elenco: Sarp Akkaya, Songül Öden, Ercan Kesal. Disponível no Netflix.

É daqueles filmes que tiram o sono, mergulham profundamente em nossas almas, remete ao passado daquelas civilizações, turca, grega, do balcãs, mas a história poderia se passar no sertão nordestino, no interior do Pará, numa quebrada de São Paulo, num morro no Rio de Janeiro, num bairro segregado de Paris, ou de Nova York.

A trama e drama de um presidiário, é apenas o pano de fundo, mas não trata da culpa do eventual crime, ou de condenação, muito menos das condições de cárcere, mas as consequências trágicas das vidas despedaçadas pelos fatos pretéritos, das famílias que se desfazem, das condições de vida que dali vão se derivar.

A matéria prima é a dor, a angústia, a ausência, como também da honra que tem que ser reparada pelos crimes de sangue. Ainda que na Oréstia, os crimes de sangue não podem ser continuados, como numa vingança sem fim, como traço da solução privada para determinados crimes, o dente por dente, olho por olho,  de certa forma, não cala em nosso inconsciente.

A narrativa é forte, as idas e vindas, contadas por uma terceira pessoa, quase um espectador a ler um livro, em que participa como coadjuvante, com seus próprios dilemas, vacilações e quem sabe, se redimir dos pecados internos.

Grande filme.

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