1873: Assoberbado


A vida é o eterno retorno, recomeço, e de novo e de novo…

“Mas eu que despertara, refletia em meu irrepreensível espírito
se devia morrer, lançando-me nas ondas ou se permaneceria
em silêncio e continuaria entre os vivos.
Resolvi sofrer e ir vivendo… ” (Odisseia, Canto X, 49-53, Homero)

Assoberbado pelo o dia, não este apenas, todos eles, de mais um ano cruel, desde quando nossa vida saiu do prumo, acentuada pelo torpor amplo, geral e irrestrito, trazido pela Pandemia que mudou tantos paradigmas da modernidade líquida, sólida ou gasosa.

O que nos impõe a necessária Reflexão, como nos ensina Junito de Souza Brandão, vem  de “Reflectere, de re, “novamente” e flectere, “curvar-se”, significa etimologicamente, “voltar para trás”, donde reflexus, “re-flexo”, retorno, e reflexio, -önis, “inclinação para trás”.  Um arremesso ao passado me assalta.

Os eventos particulares permanecem circunscritos a nós mesmos, num ciclo vicioso, que um dia, quem sabe, cada um poderá romper. Em contrapartida, os atos coletivos, históricos, dependem de todo um arranjo complexo, de coincidência mútuas que somadas, irrompem um novo amanhecer e aquilo que parecia sólido, se dissipa ao vento.

Essa combinação de humores, algumas vezes entram em sintonia, no entanto, na maioria das vezes são fenômenos assíncronos, vida privada e participação coletiva, social. A unidade em luta interna, ou em conflito com o todo, aliás, essa é a dialética da vida, com toda as camadas de incertezas, dores, prazeres, altos e baixos.

A confusão mental, de vitórias, pequenas, frente às grandes derrotas, pessoais e coletivas, o recuou civilizatório, de mais dez anos de lutas cruentas, a soma dos retrocessos nos abala, e voltamos ao termo Reflexão, no conceito tomado de Jung de como entende o seu real significado:

“O termo reflexão não deve ser entendido como simples ato de pensar, mas como uma atitude. A reflexão é uma atitude de prudência da liberdade humana, face às necessidades das leis da natureza. Como bem o indica a palavra ‘reflexio’, isto é, ‘inclinação para trás’, a reflexão é um ato espiritual de sentido contrário ao desenvolvimento natural; isto é, um deter-se, procurar lembrar-se do que foi visto, colocar-se em relação a um confronto com aquilo que acaba de ser presenciado. A reflexão, por conseguinte, deve ser entendida como uma tomada de consciência”

A citação é longa e tão perfeita, que cabe em mim, nos meus conflitos, incertezas e lutas, nada fora do lugar, que pensei em trazer integralmente.

 

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