Arnobio Rocha Reflexões Viver e Morrer em São Paulo!

1768: Viver e Morrer em São Paulo!


A imagem do Viaduto do Chá, aio fundo o Teatro Municipal. (foto de José Cordeiro)

“O Arnesto nos convidou
Prum’ samba, ele mora no Brás
Nós fumos, não encontremos ninguém
Nós vortermos com uma baita duma reiva
Da outra vez, nós num vai mais”
(Arnesto – Adoniran Barbosa)

Este é o 32º aniversário dos 467 anos de São Paulo, desde que vim viver na grande metrópole brasileira, a mais fascinante e louca cidade do país. Nessa monstruosa aglomeração humana nada é certo, preciso e previsível, sob nenhum aspecto, talvez a razão é de que não haja razão ou lógica que possa definir São Paulo.

Aliás, o mais correto seria dizer que há pelo menos umas dez cidades dentro de São Paulo, então buscar uma definição única, ou com pouca complexidade, não abarca a enorme diversidade do que se convencionou chamar por São Paulo.

Vir de fora é quase tão natural  quanto os que aqui nasceram.

A cidade, feito Gaia que engolia os filhos de Urano, engole a todos, não admite que alguém se sobreponha a ela, ninguém ficará acima dela, brilhará mais, seria maior, lhe rouba o protagonismo, apenas aquilo que ela mesma permite e, se, permitir, terá sempre o cuidado de que não exagere ou ela cuidará de derrubar.

São Paulo é tão autônoma que consegue ficar por anos sem prefeito, sem autoridade ou alguém que a represente, pelo simples capricho de provar que é superior a qualquer um que pensa que a dirige.

Talvez seja essa consciência, a mais grave, que aprendemos, a de que a cidade tem luz própria, por sua enormidade, ela é ser dona da narrativa, assim, não aceita “donos” ou imposições, nada vai ser maior do que ela. Nem mesmo movimentos políticos, culturais, regiões, grupos étnicos.

Ao final, ela sempre será o centro, o umbigo, onfalo, falo, vagina, homem, mulher e ser.

São Paulo não aceita ser descrita como Jardins, Morumbi, Vila Madalena, Itaquera, Capão Redondo, Heliópolis, Butantã, Santana, Jabaquara, USP, Higienópolis ou Tatuapé. Ela pode ser Jardim Ângela, Parada de Taipas, ou não ser nenhum, ao mesmo tempo que ela é todos, é o Ibirapuera, a Paulista, a Radial Leste, a 23 de maio, pois seus acidentes geográficos, terão a Sé, Patio do Colégio como seu centro, sem ser centro.

Quais são os nomes, as pessoas, apenas passageiros, São Paulo não será lembrado por ser terra de ninguém em especial, mas todos podem reivindicar que são daqui. Como são daqui, judeus e árabes do Bom Retiro, os japoneses, chineses, coreanos da Liberdade, os povos da nação nordeste estão em Itaquera e Tatuapé.

Todos somos daqui, ela nos aceita, nos ama, nos lambe, nos regurgita, nos expulsa e nos acolhe como filhos pródigos.

São Paulo é o encontro do impossível com o improvável.

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