1597: Amargo


A tempestade de um tempo cruel

“Close the door, put out the light
You know they won’t be home tonight”
(No Quarter – Led Zeppelin)

Curvo-me mais uma vez à tristeza de um final de domingo, aquele dia em que todas as incertezas da vida conspiram juntas e derrubam até os mais fortes, imagine, os mais vulneráveis de longas jornadas de batalhas inglórias e cujas esperanças não parecem vir mais de lugar algum, e tudo isso não é um mero exercício de linguagem e impressionismo, apenas é.

O sol se foi, restando no céu o cinza, que turva a vista, embaçando os pensamentos e antecipando as dores de uma segunda que ameaça a chegar. Esse é o recorrente sentimento que me habita há tantos anos, tornando o fim de tarde domingo, horas torturantes, de uma contemplação tensa sobre o passando, pior, a violência do porvir cada vez mais imprevisível, numa palavra, deriva.

O fim de ano, essa época sempre baixo astral, que jamais gostei, o vai e vem, pelo nada, a combinação de mentirosas reconciliações com as falsas promessas do “ano que vem será diferente”, e continuando a ser iguais, raramente melhores.

O tapinha nas costas daqueles que te ignoraram o ano inteiro, ou dos chefetes canalhas que precisam parecer humanos. Aquelas confraternizações micadas do “mundo corporativo” ou dos contatos, para não se perder o “network”. A falsidade é a marca, ainda que haja até boas intenções, assim como as piso do inferno anual, tão vem pavimentado por elas.

O azedume toma conta de mim, não preciso disfarçar o que sinto, essa é a vantagem quando se chega a um determinado grau de maturidade, ou seria de ruindade?, então algumas falas incomodas, dizemos sem medo, goste-se ou não, a vida que segue, nesse lamaçal geral em que o Brasil se meteu e não sairá tão fácil, todos os canalhas que você desconfiava que eram, assumiram e isso é ótimo, não há mais necessidade de cordialidade.

Abandonamos a educação formal diante de tantos comportamentos calhordas. De certa forma, isso nos liberta de qualquer coisa, a (má) escolha que fizeram, não nos obriga mais a conviver com essa gente horrenda, mudamos de calçada sem constrangimentos.

Como não tem jeito de pular esses dias vindouros, melhor viver socialmente o menos possível, recolha completa, silêncio e nenhum contato com quem nos fez/faz mal.

Numa réstia última de luz, traindo o tudo dito, amanhã será um novo dia, o ano que vem também.

 

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Share this on WhatsApp “carpe diem quam minimum credula postero” ( Horácio, Odes) ( Colhe o dia presente e sê o menos confiante possível no futuro) Então vamos lá, atravessando desertos