1551: Sabotagem


O tempo se esvai, a inevitabilidade dele nos aprisiona.

“Na minha desventura, contemplo um mar tão vasto de infortúnios, que nunca poderei salvar-me a nado, nem ao menos vencer esta vaga fatal que ora me assalta” (Hipólito – Eurípedes)

Então, chegamos mais uma vez a uma encruzilhada, olhar para trás está fora de questão, Orfeu se arrependeu, ao fazê-lo, é um sinal claro de que o passado, passou, nada de viver pelo retrovisor, ou ficar tentando reviver, o que não mais existir. Quem sabe emular uma época, uma situação, pode ser desastroso e o resultado nem sempre será o que se busca.

Mas voltemos ao caminho, a metade do caminho da vida, quem sabe a reta final, as armadilhas continuam aparecendo, as respostas de resistência, são menores, as incertezas do porvir leva a uma certa paralisia, uma horrível sensação de que não se pode mais ousar, apenas deixar a vida fluir, sem exposição às tempestades, aos mares revoltos.

Por outra mão, a necessidade de seguir, deve significar uma eterna sabotagem, uma aceitação e receio do que não se conhece, ainda que não reste tanto, o vigor físico e de vida vai se perdendo, sobra, muitas vezes a vaidade intelectual, de se julgar que tudo se sabe, tudo se viveu, então, por uma lógica cartesiana, nada mais pode ser diferente do que já se viveu.

A construção ambígua entre experiência e medo do porvir, pressiona-nos ano a ano, quando se dá conta, tudo já se foi, nada foi bem vivido, entretanto, não há mais como ter uma segunda chance, ou remoçar. Daí a sentença maior, bate duro: A vida é breve, quantos e tantos pensaram sobre tal questão, pois não se é dado a escolher o quanto viver, não somos donos do tempo, apenas da razão, nem sempre pura.

A terrível consciência do tempo, dos limites, geram dois movimentos combinados, viver o hoje, ou esperar o amanhã, nessas duas linhas, saltamos como se fossem caminhos paralelo, mas que vão se separando à medida que avançamos, as inseguranças do bom viver, agora ou depois, vai maltratando os sentidos lúdicos da vida, do amor.

Por mais que fujamos, esqueçamos, essas questões nos põem xeque, quase sempre, fatal. Ou, adiamos, e invariavelmente nos sabotamos, dia a dia. Quando achamos que resolvemos, a incrível capacidade de nos negar, toma corpo e nos derrota, e tudo que nos parecia sólido, sumiu aos vento como nossos anelos, na voz do bardo maior.

Apenas mais uma sexta…

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