18 – O Desassossego


Os dias, os meses, vão passando lentamente, machucando nossas mentes, pela dolorida saudade.

“Que vale a glória, a saudação que enleva
Dos hinos triunfais na ardente nota
E as turbas devaneia?
Tudo isso é vão e cala-se na treva…
— Tudo é vão, como em lábios de idiota
Cantiga sem ideia” (Lira dos 20 anos – Álvares de Azevedo)

O 18 é especial na tradição judaica e cabalística por representar o valor numérico da palavra chai, que significa “Vivo”. Também é importante pela  oração hebraica chamada Shemonê Esrê, que significa “dezoito”, e enumera 18 bênçãos. Tendo igual valor para os muçulmanos, os praticantes do sufismo, por exemplo, o consideram um número sagrado e, por isso, alguns deles costumam dar presentes em múltiplos de 18.

Para mim, 18 será marcado para o resto dos meus dias, como aqueles em que parte boa de mim, se foi. É impossível olhar no calendário e não sentir a dor, desse dia estranho, triste e trágico. A alegria de viver foi perdida naquele dia, TUDO passa a não ter mais o mesmo sentido, até o palíndromo, formado por aquela 18.11.18, lendo de lida da esquerda para direita, ou ao contrário.

No fundo, não é uma questão esotérica, nem mesmo uma busca de algo que ajude a buscar algo que reconforte, que possa inspirar uma ideia de que possa ter uma explicação além da capacidade cartesiana, certa e lógica, para algo tão brutal. Talvez surja um alento, uma razão para não desistir da vida, e há. sem dúvida.

É certo que precisamos seguir, enfrentar com dignidade a vida, o dia depois, lutar pela sobrevivência, principalmente, a mental. Por mais racionalidade que tenhamos, perder uma filha tão especial, não conseguimos encontrar uma lógica, qualquer sentido que seja para isso, depois de tudo que ela estoicamente enfrentou, morrer de forma rápida e estúpida, sem uma explicação coerente de médicos e hospital.

O que não nos escapa é que de alguma forma, vamos em frente, quer seja no trabalho, na alienação que ele produz, quer seja num mergulho em alguma religião, crença, ou no surdo esquecimento, como se nada houvesse acontecido. As reflexões servem para isso, para domar os sonhos cruéis, o choro na madrugada, acordado pelo desassossego da ausência, da falta, a saudade dos que não se fazem mais presentes.

Celebramos cada mês, renovamos nossos sentimentos, nosso amor, não temo evitar olhar tudo que Letícia fez, como fez bem, suas coisas, não perfeitas, mas com esmero, a intensidade com que ela viveu, seus poucos anos, essa luz que nos iluminará, tornando dor em sorriso, lágrimas em amor.

Minha saudade, meu amor.

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