Arnobio Rocha Reflexões O Fim e o Reload.

1441: O Fim e o Reload.


O Tempo, passa e não passa.. (pixabay)

“Deus me acuda! A arte é longa, a vida breve.” (Fausto- Goethe)

Reli uma velha crônica que escrevi, Finitudes , com o patético pedido de que algumas canções ou livros, nunca terminasse. O luto, a sensação de perda, ao terminar uma obra, muitas é devassador, produzindo em mim, ou é nós, uma não aceitação de que tenha acabado, aquele gosto amargo de quero mais e a certeza de que não terá mais, foi definitivo ali.

Na minha memória, escrevi que: a música ainda possa vibrar um pouco maisalgumas vezes ouvindo em LP arranhado ela se prolonga mais, um átimo, um último prazer, inenarrável. Pois bem, como ouvir a sequência músicas do disco Wish You Were Here, 1973, ou melhor a transição de Have a Cigar para Wish You Were Here, do Lado B, do LP. Aquele barulhinho da agulha no LP, o fim, começo, só pode ser compreendido no formato analógico, tem mais profundidade.

Isso me remete à leitura de livros de papel em contraposição ao formato digital, não é a mesma sensação, o cheiro do papel, a textura, desperta uma emoção completamente diferente, isso influencia inclusive no que representa ler a última página, a última frase, não tem o mesmo efeito, pelo menos em mim. Virar a página e olhar perdido, o perdido olhar do que acabei de ler.

Esses pequenos prazeres/sofrimentos que a arte provoca em nós, talvez seja o que nos tornava humano, numa realidade que nos massacra, apenas isso nos lembrará de um contexto único de que nossas afinidades eletivas nos diferenciavam das feras, ainda que ela esteja dentro de nós, o outro lado, prevalecia.

O que não deixa de ser muito “louco”, é que apesar de tanto avanço tecnológico alcançado, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, conectados do Camboja ao Haiti, tudo isso apenas para nos devolver às cavernas. Esses prolongamentos estéticos, artísticos teimam em vibrar forte em mim, como uma luta para dizer quase um sussurro, ainda não fomos vencidos.

A escuridão da alma, dos horizontes, as incertezas de para onde se caminha, não sombreia os deleites do amor aos livros, aos discos e revistas. Vivemos a tragédia humana que Dante viveu, ou Shakespeare descreveu, pois pensamos que é isso é de hoje, como se não houvesse tantos marcos no passado. Compreender a pouca luz, não se farar noturno, o torturante momento.

Pedir um pouco mais de um poema, de uma partitura, é algo tão breve, sendo a arte tão longa.

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