Arnobio Rocha Crise 2.0 Por Uma Saída de Esquerda.

1295: Por Uma Saída de Esquerda.


É preciso construir uma saída de Esquerda  (foto de Roberto Parizotti/CUT)

É preciso construir uma saída de Esquerda (foto de Roberto Parizotti/CUT)

“Do infinito a amplidão confins recebe.
À sua voz segunda as trevas fogem,
Brilha a luz, ordem da desordem nasce”. (Paraíso Perdido , John Milton).

Do nosso ponto de vista, só com a análise da Estrutura Econômica se terá uma melhor compreensão do que virá num futuro governo Temer-Serra-Cunha, o governo do Estado de Exceção (O Estado Gotham City, sem Batman). É preciso investigar a dinâmica do funcionamento da Estrutura da Economia, razão última dos movimentos do Kapital e das classes em luta. Para aqueles que não concebem o método de análise de Marx, acabam perdidos no meio do Caos, ou buscam uma explicação quase religiosa, cheia de culpas e comiserações.

Vou reconstruir um artigo de outubro passado, 2015, sobre a Crise no Brasil e seus desdobramentos finais do governo Dilma. Localizando as questões no tempo e espaço, além de apontar os limites de ações, ou falta delas, que levaram a definitiva derrota recente, no Golpe parlamentar. Comecemos com o conceito de Crise.

A Crise de superprodução de Kapital tem uma lógica própria, que poucos se dão conta de seu movimento real. Alguns tentam adivinhar seu fim, outros, o seu começo. Mas quase nenhum se preocupa em entender o seu ciclo, ou a sua dialética, pois, ao mesmo tempo, a Crise é o momento do auge de um ciclo do Kapital, ela também anuncia seu declínio, bem como vai parir um novo Ciclo. O hiato, entre os ciclos, é o que comumente percebemos como Crise.

A queima de Kapital (Empregos, salários e preço das mercadorias), que caracteriza o fundo do poço, é a condição sine qua non para o início de um novo ciclo, pois, sem a ruptura (a queda do sistema como um todo, através da Revolução), a roda da história continuará a girar, a girar, num crescente, jamais com o fim em si mesma, com alguns autores vulgares preconizam.

A Crise de Superprodução de Kapital que atingiu os EUA, em 2005, e depois a Europa, em 2007, já debatida aqui e no meu livro, deu-se quando houve o pleno emprego (ou taxa mínima de desemprego), com o maior pico de salários e do preço das mercadorias, em especial, nos EUA, dos imóveis (hipotecas). A “crise”, só se tornou “pública” com a quebra dos bancos em 2008, nos EUA e 2009, na Europa.

A superabundância de Kapital no mundo, no início dos anos 2000, aportou no Brasil, China, Índia e Rússia, não a toa o bloco dos BRICS foi possível, com forma organizada de receber e aplicar essa parcela do Kapital, vinda para esse lado como forma de se expandir e extrair mais lucros. Mão de obra farta, barata e possibilidade de grandes obras de infraestrutura, como também as privatizações das empresas locais, já como parte do “lucro”.

Coincidiu com os governos de Lula essa entrada e a expansão do Kapital no Brasil, a despeito das enormes desigualdades regionais, do abismo social e da infraestrutura precária, fruto de um Estado endividado pelos militares, depois semiprivatizados pelos tucanos, além de uma esdrúxula dolarização da economia completamente artificial, mantida com taxas de juros pornográficas (lucros consolidados pelo Kapital Financeiro).

Os primeiros oito anos da aventura petista foram de pleno sucesso, alguma das tarefas mais elementares do Estado, como o combate à fome, garantia de renda mínima, emprego (ainda que de baixa qualidade), foram possíveis graças a essa entrada de Kapital. Mas o ciclo sempre tem seu fim, em meados de 2010, o país tinha situação típica da superprodução: Pleno emprego, salários recompostos (o mínimo que nunca passara de US$ 100, chegou aos 350 dólares), crédito para compra de bens e produtos, uma febre de consumo.

A Crise do Kapital, no seu centro ( EUA e Europa) fechou as torneiras e cobrou a volta à matriz dos investido aqui e nos outros países. Por quatro anos, a nova Presidente tentou domar a economia, usando de instrumentos que já não surtiam efeitos, é fato que evitou uma queda dolorosa e rápida como nos EUA ou na Europa, que o desemprego dobrou em menos de um ano (dados de 2007 para 2008 nos EUA e 2008 para 2009 na UE).

Aqui a queda foi lenta, até pelas condições gerais e custos das empresas com salários não tão altos, mas em 2015 veio o “ajuste” imposto pelo Kapital. A imposição de Levy e o conjunto de medidas em execução são parte da estratégia do Kapital para retomar o controle total do Estado.

O petismo caducou, já não serve, por vias eleitorais perderam, por bem pouco, mas perderam. Entretanto, a via escolhida agora é de mudar o comando, por bem ou por mal.

Portanto, o  Kapital não cairá de maduro ou podre, ele sempre se recompõe, seus ciclos podem diminuir dramaticamente, mas não acabam. Feitas essas observações, cabe à pergunta fundamental: Em que momento do ciclo do Kapital, a economia no Brasil se encontra? A resposta não é simples e direta, vamos construir uma visão.

A Crise econômica efetivamente já tem um novo patamar, a desvalorização do Real, cerca de 40% do seu valor, é a maior queima de Kapital já feita em tão curto espaço de tempo. O desemprego sobe rapidamente, o preço relativo dos salários e das mercadorias também caiu, a condição fundamental para que um novo ciclo se reinicie estão dadas, faltam às condições políticas para azeitar o Kapital.

Do ponto de vista puramente econômico não há mais o que ajustar, mas sempre o Kapital tentará impor mais perdas, pois está em pleno ataque, gostemos ou não, a luta de classes é isso. Manda quem tem mais força, resiste quem pode. O governo não tem instrumentos para resistir, entregou o pomo de ouro aos seus algozes, os ministérios da economia e o Banco Central, além de não ter como segurar a política de transferência de rendas.

As bases do governo Temer-Serra-Cunha foram dadas por Temer no áudio “vazado” , apontam para medidas extras para agradar o Kapital, ainda que o ajuste principal já tenha sido feito, com os dados da Economia apontando recuperação em março e abril de 2016. Mas as medidas de força causarão impacto e tentarão impor uma derrota mais ampla aos trabalhadores.  No horizonte teremos: quebra do ensino público gratuito, o fim do SUS, ataque às aposentadorias e a retomada violenta das privatizações: Banco do Brasil, CEF e Petrobrás,

A resposta para questão geral é: a crise não é para sempre. Aliás, o Brasil já entrou no novo ciclo, mas os seus reflexos políticos, continuarão imprevisíveis. Efetivamente, o Governo do PT, foi, objetivamente, um entrave à liberdade do Kapital. Nesse novo patamar do neoliberalismo redivivo (Estado Gotham City), a democracia é um estorvo, ou um mero detalhe, o triunvirato vencedor (Temer-Serra-Cunha) bem o sabe.

Para piorar o quadro, eles contarão com o judiciário para enjaular as principais lideranças de esquerda, para criminalizar a política e a qualquer um que pense diferente, aqui nos incluímos (blogs, intelectuais, militantes) nos possíveis perseguidos, seletivamente ou de forma aberta.

A lição parece muito clara, lembro-me de Augusto dos Anjos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, pois então, a mesma Economia que deu dois mandatos a FHC e lhe tirou o governo em 2002, punido pelo apagão e péssimo segundo mandato, está fazendo o mesmo com o PT agora, quem sabe volte à planície.

Há tempo para mudar o rumo, mas Política e Economia devem andar lado a lado, pois só a segunda, já não garantiu a vitória. PT, ou o que sobrar dele, deveria voltar a fazer política, ouvir, repensar seus quadros e rejuvenescer, como fala o ex-presidente Lula, tem que se reinventar, este novo momento, precisa de novas ideias e novos interlocutores.

Novos atores surgem para resistir, poucos de nós tem a respostas de como aglutinar, de como agir numa conjuntura de retrocesso, como apontei no artigo, O Dia Depois do Golpe. Vamos nos unir e pensar, refazer os caminhos, para um nova utopia, novos tipos de organizações e práticas políticas.

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