Arnobio Rocha Crise 2.0 Dilma x Aécio – Civilização ou Barbárie

Dilma x Aécio – Civilização ou Barbárie


A luta de classes contra o Estado Gotham City ( Praça Tahir - Foto AFP)

A luta de classes contra o Estado Gotham City (Praça Tahir – Foto AFP)

“No ar; e tudo que nos parecia ser corpóreo se fundiu como ao vento nosso anélito. Oh! se tivessem demorado um pouco!” ( Macbeth – William Shakespeare)

O Estado burguês neoliberal, ainda com elementos de Estado de Bem Estar Social, faliu em 2005, não em 2008 como muitos pensam e escrevem por aí, entretanto, a Crise de Superprodução se deu precisamente em meados de 2005, quando todos os índices da economia nos EUA atingiram os maiores picos em décadas – salários, empregos e valor das empresas. Ali, no auge do ciclo, a Crise 2.0, a “pletora do Kapital“, passou a agir.

Como dizia Marx, “a crise de Superprodução encerra um ciclo do Kapital”, dialeticamente ele complementa (e que a maioria esquece) “que também é o início de novo ciclo“, exceto se houver a revolução, durante o interregno da queima de forças produtivas, que é condição sine qua non para que o Kapital possa se restabelecer. O Kapital pune cruelmente os trabalhadores, privando-o de vender seu bem mais valioso, o trabalho. Ao mesmo tempo prepara um novo ciclo, neste, a classe trabalhadora e o povo em geral entra em piores condições de vida material, pois o Kapital sugou-lhe os últimos tostões.

Ao contrário do que diz o trotskismo, a crise não é permanente, muito menos a revolução, este erro grave de Trotsky se deve a não ter lido ou compreendido de forma superficial o Kapital. Assim como os economistas vulgares, não importando as matizes ideológicas, que acham, em toda Crise de Superprodução, que o Kapital acabou ou que a crise é terminal. Tudo bobagem, o Kapital não morrerá por si, se assim fosse por que precisaríamos de partido ou de revolução?

Mas para realizar um novo ciclo amplo do Kapital, o elemento fundamental é o Estado, não apenas a sua condição política e ideológica do convencimento coercitivo dos trabalhadores e do povo, mas a sua faceta primordial, a de “organizar” a partilha da Taxa de Lucro que está sendo recomposta. O Estado Neoliberal foi para o ralo em 2005/2008 nos EUA e em 2007/2009 na União Europeia, mas a retomada do ciclo pressupõe o “Novo” Estado, que passei a chamar de Estado Gotham City.

O Estado Gotham City é um aprofundamento Radical da forma neoliberal anterior e que tem como missão acabar com dois valores que eram fundamentais no Estado de Bem Estar Social, a Democracia e a Política, que foi atacado de forma dura no anterior Estado Neoliberal, mas que não deu fim a elas. Com esta nova forma, a sobrevivência destes valores, se torna irrelevantes, aliás eles impedem que o ciclo se estabeleça de forma continua, os custos de Democracia e Política, já não interessam ao grande Kapital, ambas viraram estorvos ao Kapital. Elementos da barbárie social passam a ser tolerados e aceitos como dados da realidade, as ações de força e intolerância são marcas fundamentais dos novos tempos.

O PT se insere neste contexto da luta de classes, como uma forma política do “velho” e antigo Estado burguês (nem é de Estado de Bem Estar Social, pois este nunca se estabeleceu plenamente no Brasil). O PT, objetivamente, é o Entrave ao Estado Gotham City, ele é o entrave do ciclo amplo do Kapital no Brasil e em parte significativa do mundo, a construção dos BRICS é a contradição maior do Kapital hegemônico mundial. Boa parte desta ideia política foi trabalhada e impulsionada pelo PT, o que em parte ajudou o Brasil a não afundar, como era comum, na Crise, basta lembrar as três falências do país pós-Real com FHC, por não ter sustentação própria e depender completamente dos EUA e/ou UE.

O Estado Gotham City precisará se impor aqui no Brasil, em grande parte o “Projeto Marina” era o que melhor se coadunava com esta nova forma de organização do Estado Burguês, a negação da Política e dos Partidos, indo mais fundo é a negação da Democracia. O Estado seria gerido por formas intermediárias de representação com maior poder em organismos permanentes como as agências reguladoras, tendo como grande exemplo, o Banco Central independente, a exemplo do FED (Banco Central dos EUA) que significa na prática retira do “governo eleito” o poder de interferir na economia e nos destinos do país.

Além disto, a visão de substituir funções de Estado por ONGs, OSCIPS ou organizações paraestatais com finalidade de esvaziar o poder político do Estado, eliminando seus funcionários públicos, o que também significa passar diretamente para entes privados parte dos impostos arrecadados em nome de Saúde e Educação ou Cultura, por exemplo. O modelo de burocracia público-privada que transita nos dois lados do balcão, mas que trabalham não para o público, sim para garantir maior transferência de recursos para empresas provadas em detrimento do Estado.

Este “Projeto”, que sintetiza bem o Estado Gotham City, em parte é abraçado por Aécio Neves, não é à toa o apoio e adesão de Marina à sua candidatura, mas também não é livre de contradições próprias, o PSDB, quando governo, com toda a hegemonia política dos neoliberais nos anos de 1990 não foram capazes de dar cabo ao Estado. O que nos parece igual agora, mesmo que o seu candidato, Aécio Neves, seja um bon vivant e que já de antemão entregou o seu “futuro” governo ao príncipe dos neoliberais, Armínio Fraga (ler aquiArmínio Fraga – O Futuro Czar do Brasil? ), não estará livre da pressão de parte das forças do antigo estado, que não serão beneficiados pelo “novo”estado, aliás, agirá contra eles, na indústria, na agricultura e no comércio exterior.

São estes os eventos e elementos de contradições do Brasil, que entrou na Crise 2.0 em 2010, mas não sucumbiu completamente a ela, talvez o maior mérito de Dilma e do PT, o de não ter deixado o país falir, toureando bravamente à crise. Pouca ou nenhuma saída há diferente do que se tem hoje, cabe a nós analisar, debater e participar de alguma forma deste momento histórico, sem nos deixar ser atropelados pelo passado e a nova onda neoliberal.

 Ao combate!

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