Arnobio Rocha Política PT, 34 Anos, o Governo e as Ruas.

1023: PT, 34 Anos, o Governo e as Ruas.

Dilma no discurso de 34 Anos do PT (Foto: Bruno Santos / Terra)

Dilma no discurso de 34 Anos do PT (Foto: Bruno Santos / Terra)

É inegável que se liberou energias em demasia com as imensas manifestações iniciadas em junho de 2013, aqui no Brasil, mas que têm suas origens na Praça de Tahir, Cairo (Egito), ou na Plaza de Mayo, Madri (Espanha). Há pautas imensas e muitas com justos pedidos, negar isto é burrice, mesmo sabendo que pode ser distorcido ao bel prazer de quem “informa”. No Brasil, um Governo ligado à esquerda, não estaria imune às estas energias das ruas, é fato que governa se torna conservadores, mas não pode se tornar CEGOS também. É preciso agir de forma rápida e decisiva, incorporar as demandas, se associar a elas como patrimônio de nossa história, de nossas lutas.

É preciso entender que quando se chega ao Governo e não ao PODER, dentro de uma lógica capitalista, fica impossível não se tornar “conservador” de defender o seu governo, as suas ações e conquistas, mínimas que sejam. É quase um milagre saber que um partido de massas, que foi forjado no seio da classe trabalhadora, chegou ao governo central de um país continental, imenso, cheio de diferenças culturais, contradições políticas, econômica e uma imensa dívida social secular.

Esta última dívida, a Social, vem de uma realidade que foi se adiando o combate, desde as capitanias hereditárias por uma Elite que jamais se fez povo, ou mesmo nação. O resgate é imenso: Educação, Saúde, Saneamento, mas centralmente a Fome e a Miséria Endêmica secular. A chegada de Lula ao governo central, só  foi possível pela agravada crise legada pelo último governo da Elite egoísta, que tinha rifado o patrimônio público e mesmo assim falido o país.

As saídas eram poucas, minoria no congresso, dominado pelo balcão de negócios, sem menor preocupação com as questões reais, o governo entrou no toma lá da cá, sem perceber que o mensalão histórico, praticados por todos anteriores, seria visto como exclusividade do PT. O partido, queria governar, dentro do jogo parlamentar e da lógica burguesa, sem povo, a cobrança foi e é fatal. Parte da sua bela história ficou manchada.

Mesmo com tudo isto, com o cerco ferrenho das vestais da ética, os velhos corruptos de sempre, com seu poder midiático, não conseguiu derrotar mais duas vezes a proposta de governo petista. Mas os erros graves do início, o distanciamento, os acordos e um alimentado ódio bem focado pela mídia sendo cevado ao longo dos anos, uma hora explodiria. Ainda que, não tem como contestar estruturalmente o Brasil refloresceu economicamente, mesmo que os CEGOS ainda achem que foi graças a FHC, mas esquecem, ou preferem não lembrar, o Caos do país entre 1999 e 2002, apagão elétrico, corrupção, país caiu de oitava para décima quinta economia mundial.

O mundo passa por uma profunda mudança, em particular no Estado, como escrevi antes: “O Estado Gotham City é a síntese da Crise 2.0, ele é, ao mesmo tempo, causa e resultado da maior crise do Capital desde 1929, uma crise que denomino de paradigmática, aquela que muda e aprofunda os controles do sistema. Do ponto de vista do Estado ele começa a ser forjado no final dos anos de 1970, com a Crise do Petróleo e das Dívidas externas no início dos anos de 1980. Precisamente com Reagan e Volcker(FED) o Goldman Sachs captura o Estado para sí e começa a determinar a ordem do capital financeiro.

Os 25 anos de longo domínio desta lógica de funcionar do Capital encontrou limites na Crise 2.0 e na resistência do velho Estado de Bem Estar Social, que trava a “liberdade” total de movimentos mundiais do Capital. A Crise é o problema-solução, toda uma nova ordem pode advir dela, inclusive a Revolução. Mas, descartada a Revolução de ruptura, o Capital faz a sua própria revolução, ou melhor, impõe uma dura mudança dentro do sistema que lhe mais favorece, em detrimento dos trabalhadores e da sociedade. A “face mais visível é a repressão aberta, ou a sutil, a do controle de tudo que acontece na sociedade para melhor dominá-la”.(Escândalo de Espionagem e o Estado Gotham City).

Esta “LIBERDADE” não é valor para todos, mas para o Capital(K), porém, ideologicamente, é preciso que a sociedade comungue plenamente com este valor, cada vez mais abstrato, a tal Liberdade. Em nome dela e por ela se sacrifica qualquer valor anterior como solidariedade, comunidade e humanidade. Tudo se resume numa formulação simples e inteligível, queremos força para que você tenha mais liberdade, um contrassenso que não é jamais questionado. O movimento que melhor expressou estes conceitos ultraliberais foi o Tea Party, na extrema-direita.

Contraditoriamente, na Esquerda, estes valores foram assimilados de forma sutil, pelos movimentos de “Indignados” “Occupies”, agora, aqui no Brasil pelo tal “Gigante”. A maior expressão deles é a força pela diluição dos partidos, sindicatos e organizações civis, como se estes fossem empecilho ao “novo”, mas de que novo estamos a assistir? Um Estado ultraliberal, sem “políticos” sem ordem e sem freios sociais, como define: “A democracia passa a ser um “estorvo”, os velhos políticos ou as velhas formas de representação são tragados ao caos, esta aparente desordem esconde o “Novo”, um estado controlador, espião, policial que consegue galvanizar as revoltas não contra si, mas contra a própria democracia, vide Egito, Turquia e agora no Brasil. As massas perdidas gritando contra as instituições, contra os políticos, mas não contra o Estado. Aliás, este ganha força com as propostas de intervenções das “forças da Ordem” ou o surgimento de um Batman, de um herói que ajude a criar mais uma “máscara” e proteja o Estado Gotham City”. (Escândalo de Espionagem e o Estado Gotham City)

Os sinais contraditórios do mundo e do Brasil, me fazem concluir sem embargo que o PT perdeu força criativa, de sua capacidade de se dirigir aos novos atores que surgem não que tenha perdido o elo com o Povo, mas não consegue se mobilizar e incorporar as novas demandas, sua direção envelhecida e débil, fica dependendo da ação do Governo, não do Partido. Entender a velocidade e ansiedade desta nova geração, não enxergando neles apenas a forma aparente de agressividade, bem próximas ao fascismo, mas nem isto eles saberiam o que é, cabe a nós nos somarmos.

A conjuntura se torna complexa e com poucas certezas, exceto a que todos os inimigos anti-petistas se unirão numa guerra sem trégua, com farto espaço para atacar visando derrotar o Governo Dilma, a principal temática é apostar em manifestações violentas, que criem a sensação de Caos e ao mesmo tempo tentar quebrar a âncora da Economia, o Pleno Emprego. Todos os males da economia (a maioria são reais) serão colocados à mesa como se fosse a responsabilidade única por séculos de desmando, sem levar em consideração que o mundo está mergulhado em Crise desde 2008.

Tudo isto será cobrado e batido, nada será deixado de lado, a Copa do Mundo terá palco próprio de embate com os “jornalistas” esportivos dando sua contribuição para a visão de Caos. Os erros públicos ou privados cairão na conta única de Dilma, a torcida sincera será pela derrota do Brasil, se houve vitória, vão procurar alguma maneira de macular, basta ler o que escreveu Juca Kfoury ontem, não será a “Copa das Copas, mas a Copa das Covas”, ele hipocritamente atuará como coveiro. Há pouco espaço para erros ou vacilos, já foram cometidos todos os permitidos e não permitidos.

Doze anos em um, esta é a realidade que nos espera.

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