Arnobio Rocha Crise 2.0 O Surpreendente Papa Francisco

946: O Surpreendente Papa Francisco

Papa Francisco, a força para mudar a imagem da ICAR

Papa Francisco, a força para mudar a imagem da ICAR

 

Acompanhei o conclave que elegeu o Papa com muito interesse, principalmente pelos desdobramentos da crise na Igreja Católica com o Vatileaks e a renuncia papal, do cardeal Ratzenger, o homem que comandou a igreja durante o papado de João Paulo II, mas que foi incapaz de dirigir seu próprio trono. Envelhecido e traído por seus mais próximos asceclas, não sobrou qualquer outro caminho, senão a humilhante renuncia. O conclave foi cercado de grandes expectativas para saber qual o caminho que a ICAR seguiria.

A surpreendente escolha do Cardeal argentino, Jorge Mario Bergoglio, indicava que seria apenas um governo fraco e de transição como, erroneamente, analisei no texto Habemus Papam, Ou Mais um Interino?. Ali cometi vários equívocos, que prontamente faço autocrítica, como, por exemplo: “E reafirmo, a igreja fez a opção para continuar sua sangria, com uma escolha para lá de ruim, o Cardeal Bergoglio já fora candidatíssimo em 2005, quando ainda tinha 68 anos, hoje aos 76 anos, não terá um longo mandato, as lutas internas continuarão, os problemas não serão enfrentados com a urgência necessária, assim como Ratzinger, lhe faltará energia e apoio. O seu nome é bem visto na cúpula, tido como bem relacionado e de muito diálogo. Porém, sua imagem, será lembrada pelas acusações de que colaborou com a ditadura argentina, com documentos oficiais sobre as suas ações”.

Ainda disse mais que “A escolha é para lá de temerária, num momento mais do que delicado da igreja, se esperava algo mais do conclave, que  na prática, apenas adiou por mais tempo qualquer solução contundente. Será o primeiro papa Jesuíta, o primeiro Francisco, o primeiro não-europeu, uma série de ineditismo, mas, a mim, só me deu tristeza, pois é um recado ao mundo, não nos importamos com o que vocês pensam, só nos interessa a nossa igreja”. 

Entretanto, o Papa Francisco tem feito intervenções públicas absolutamente surpreendentes, as melhores, diria, desde João XXIII, tem se mostrado extremamente oportuno, com declarações que fecham um período de profundo obscurantismo da ICAR em relação às mulheres, Gays, aborto, religiões. Tem posto a nu a cúpula do Vaticano, abriu as contas do Banco do Vaticano, depois de 125 anos. Mudou a secretária de estado, além de trazer para junto da cúria, cardeais distantes do poder, com a nomeação do grupo dos oito que farão as reformas do poder. São apenas sete meses, mas posso dizer, avaliei de forma errada e precipitada. O Cardeal Bergoglio é uma mudança de discurso, uma esperança de que a ICAR volte ao Vaticano II e volte ao caminho do diálogo.

 As frases cada vez mais diretas como esta sobre o poder do Vaticano: A corte é a lepra do papado”, e que “muito vaticano-cêntrica” e que os chefes da Igreja Católica “geralmente têm sido narcisistas, amantes da adulação e excitados de forma negativa por seus cortesãos”. (Folha de S Paulo, 1/10/2013).  E completou dizendo que “A Igreja tem que voltar a ser uma comunidade do povo de Deus e os presbíteros, os párocos e os bispos devem estar ao serviço do povo de Deus”.

Sobre as questões do aborto, machismo e homossexualismo, poucos nomes da igreja foram tão contundentes, numa entrevista à revista jesuíta La Civiltá, traduzida pelo site português DN Globo:

“Não podemos insistir somente em questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contracetivos”, disse o Papa numa extensa entrevista. O Sumo Pontífice lembrou que a Igreja tem uma posição sobre estes temas e que ele próprio é “filho da Igreja”, mas insistiu que “não é necessário falar disto continuamente”.Por outro lado, o Papa Francisco considerou “importante acompanhar com misericórdia” uma pessoa que “procura Deus e a sua graça”, dando o exemplo de uma mulher que, tendo abortado no passado, tenha entretanto constituído família. “O confessionário não é uma sala de tortura”. O Papa falou ainda do papel da mulher na Igreja, defendendo que o sexo feminino “é necessário nos lugares onde se tomam decisões importantes”. Apesar de também ter equiparado alguns argumentos sobre o papel das mulheres na Igreja, designadamente o sacerdócio, a “machismo de saias”.

É fato que a vida não se resume às palavras, mas é salutar que um papa as fale abertamente, até oitos meses atrás todos estes temas eram tratados com ódio, sem diálogo. No dia de São Francisco de Assis, refaço minha visão sobre o outro Francisco, agora torcendo por sua saúde e que consiga preparar grandes mudanças no Vaticano e o caminho para novos papas, num mundo tão fechado, de pensamento único, com o risco de ser destruído pelo Estado Gotham City, é um alento.

Pouco importa se é porque a ICAR está em crise, o importante é que antes não dizia, este papa tem tido coragem de dizer, isto faz toda a diferença. Ouçamos, portanto.

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