Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise Dois Ponto Zero – EUA, Império em Risco

798: Crise Dois Ponto Zero – EUA, Império em Risco

 

 

O Herdeiro e o Rosto da Crise

 

 

Dorme à vontade, mas fica sabendo:

as dívidas que hoje me atormentam

a ti atormentar irão um dia.

(As Nuvens – Aristófanes )

 

 

 

As dores da Crise nos EUA.

 

 

 

Os EUA patinam numa dinâmica econômica distinta do resto do mundo, o auge da superprodução do Capital, por volta de 2005, reduziu drasticamente o desemprego e a miséria, apesar de grande, se concentrava nos guetos pobres formados por negros ou latinos, mas com bolsões de riquezas dentro destes dois grupos. Os números indicavam desemprego de 4,9%( cerca de 6,8 milhões de trabalhadores da PEA), enquanto os beneficiários dos Food Stamps(um espécie de Bolsa Família) era de 28 milhões de pessoas.

Foi o auge de uma época, vencidos os “inimigos” do leste, mas, já sob pressão dos “novos inimigos”, afinal império não sobrevive sem guerra, sem flexionar seus músculos.  Por volta de julho/agosto daquele ano, começa um amplo processo de pulverização dos ganhos. Por dois anos os bancos se entupiram de créditos podres, os títulos tóxicos, sem nenhum controle da SEC ou FED, o que os leva a imensas quebras durante o ano de 2008, culminando com o Lehman Brothers um dos maiores bancos do mundo.

 Com os preços deflacionados, alto desemprego, a retomada se dará em novo patamar, confirma assim que a o momento da Crise de Superprodução se deu em 2005, quando preços e empregos estavam em alta, em pleno uso das forças produtivas. Porém, os sintomas, reais, da queda aconteceram apenas em 2008, passando por um período longo de recomposição. A taxa de lucro começa a ser recomposta apenas em 2011, com a perspectiva de crescimento em 2012.

O Governo Obama, do ponto de vista econômico, não existiu, durante 3 dos seus 4 primeiros anos de mandato o país esteve em recessão, os dados do departamento de comércio são elucidativos, o PIB americano a preços de 2005 (em trilhões de dólares) descontada a inflação do período:

Ano

PIB(Trilhões US$)

2007

13,2

2008

13,2

2009

12,7

2010

13,1

2011

13,3

2012

13,6

*Valores em dólares, descontada a Inflação (Fonte:FMI)

 Apenas em 2012, efetivamente o país começa a “rodar para frente”, aqui lembremos mais uma vez, o velho Marx, sobre a queima de Forças Produtivas, os preços nos EUA estão no mesmo patamar de 2005, uma situação clara deste movimento, é como se o país tivesse parado por 6 anos, o problema é que em 2005 o desemprego(Força Produtiva) era 4,9%, chegou a 9,1%(meados de 2011), mas com a retomada está em 8,2%(Março de 2013).

 Passados sete anos, entrando no oitavo ano da grande crise, os números ruins da Economia chegaram ao seu auge, em 2011, desemprego de cerca de 14,8 milhões de trabalhadores, com 45 milhões de pessoas usando os Food Stamps. A renda média dos trabalhadores tinha caído 40%. Os planos que torraram cinco trilhões de dólares, apenas entre 2007 e 2009, ou cerca de 1/3 do PIB dos EUA foram quase que integralmente destinado aos bancos e para as grandes empresas. Apesar disto, a economia não reagiu de forma ampla, apenas no último trimestre de 2011, com o último acordo fiscal começou uma dinâmica de retomada, o que se confirmou em 2012, porém uma nova queda no quarto trimestre de 2012 voltou às incertezas.

Do ponto de vista do capital, nas palavras do Falcão Democrata, Larry Summers, sobre a atual retomada da Economia dos EUA, ele fiz que “já por algum tempo, o crescimento do emprego vem acontecendo bem acima da expansão da população. O nível das cotações do mercado acionário é maior e sua volatilidade é a menor desde 2007, indicando que se reduziram as incertezas no mundo dos negócios. Consumidores que adiaram a compra de automóveis e outros bens duráveis criaram uma demanda reprimida que agora parece emergir. Até que enfim, o mercado de imóveis residenciais se estabiliza. Por anos, o ritmo de constituição de novas famílias tem ficado abaixo do normal e mais jovens passaram a morar com os seus pais. Em algum momento, eles vão se estabelecer, criando um círculo virtuoso constituído de um mercado de imóveis mais forte, mais “formação de famílias” que impulsiona a demanda, melhoras adicionais nas condições de habitação e assim por diante. Além disso, se não houver uma regulação punitiva, as inovações na tecnologia de informação, as redes sociais e as novas descobertas de petróleo e gás natural parecem ser fontes de investimento e criação de empregos”. Depois, conclui que “mesmo que a economia crie 300 mil empregos por mês e cresça ao ritmo anual de 4%, muitos anos serão requeridos para que se restabeleça a normalidade. Assim, uma virada rumo ao tipo de políticas apropriadas em tempos normais seria muito prematura”.

Os Movimentos do Capital

Os EUA são nosso norte neste movimento, entender sua dinâmica econômica é essencial. Ao explodir a economia, o problema central foi no setor que mais emprega e mais reflete a economia como um todo: A construção civil, ou melhor, o setor imobiliário, pois dele se criou uma verdadeira espiral de valorização, somada à especulação futura, sem lastro real, a imensas hipotecas e a alavancagem dos bancos, elevada a máxima potência, teve um efeito danoso sobre todo o restante da Economia, o Estado, como sempre, veio em socorro dos banqueiros e empresas, sustentando um peso insuportável em cima dos trabalhadores e da classe média americana.

A tese que venho defendendo, sobre o momento da crise, vai se confirmando, em particular pelos relatórios, agora divulgados, como este publicado pela agência Dow Jones: “Quase sete anos depois do estouro da bolha imobiliária, a maioria dos índices registraram melhoras. “Finalmente, é possível ver algum aumento nos preços das residências”, comentou David M. Blitzer, presidente do comitê de índices da S&P, após a divulgação do índice de preços de residências S&P/Case-Shiller ter registrado a primeira alta mensal em abril, após sete meses consecutivos de retração. Em maio, foram vendidas cerca de 10% a mais de residências existentes em relação a igual período do ano anterior, muitas delas compradas por investidores que planejam alugá-las agora para vendê-las mais tarde, um sinal importante e um ponto de inflexão”.

Ou seja, sete anos depois, se estamos em 2012, bate com 2005, ano que identifico como o pico deste ciclo do Capital. Diz mais o relatório, que “Os construtores começaram a construir 26% a mais de casas para famílias em maio de 2012 em relação aos níveis deprimidos de maio de 2011. Os estoques de novas residências não vendidas estão de volta ao nível de 2005. Em cada um dois quatro trimestres passados, a construção de residências foi acrescentada ao crescimento econômico. No primeiro trimestre, esse estoque respondeu por 0,4% na margem na taxa de crescimento de 1,9%.“Mesmo com a economia geral desacelerando”, afirmaram economistas do Wells Fargo Securities, cautelosamente em nota a clientes, “a recuperação do mercado de construção de residências parece estar ganhando impulso gradual.”

Entender que o Capital chegou a seu apogeu naquele ano, mas apenas em 2008 se tornou “pública” sua Crise, é central, mostra que em tese perdemos 3 anos de debates, de iniciativa políticas, para por em xeque o sistema. Vejamos os números e percebamos qual o tamanho de queima de Forças Produtivas: “O mercado imobiliário ainda está longe de ter se recuperado totalmente, apesar dos esforços do Federal Reserve para ressuscitá-lo ajudando a conter as taxas de hipotecas para extraordinárias baixas: 3,62% para empréstimos de 30 anos, segundo levantamento da Freddie Mac. A construção de unidades residenciais iniciadas, por sua vez, permanece 60% abaixo do ritmo de antes da bolha em 2002. Os ativos dos americanos em residências estão em US$ 2 trilhões, ou 25% menos do que estavam em 2002 e metade do que estiveram no pico. Mais de uma em cada quatro hipotecas ainda continuam com o valor muito acima do valor do imóvel, ainda que o aumento nos preços das residências tenha reduzido essa fração lentamente. A reviravolta no mercado imobiliário é um marco, particularmente bem-vindo em meio à pressão por emprego. Por algum tempo, esse mercado foi considerado uma das causas do enfraquecimento econômico, mas agora ele agora se moveu para o outro lado. “Um pequeno sopro é muito melhor do que um vento contrário” lembrou o economista do Case/Schiller. A partir de agora, é improvável que o mercado imobiliário possa afundar a economia dos EUA ainda mais”.

Em números absolutos o desemprego saiu de 8 milhões para quase 15 milhões, hoje ainda atinge 13 milhões de pessoas. Os salários recuaram em 25% e a renda das famílias caiu quase 40%(parte dela era alimentada pelas hipotecas, que inflavam seus “ganhos”). O fosso social aumentou incrivelmente nestes últimos 7 anos, as 750 famílias mais ricas têm o mesmo que 155 milhões pessoas. Como informa a agência Dow Jones, no inicio de junho de 2012, sobre o empobrecimento das famílias nos EUA, “A mediana da riqueza líquida das famílias norte-americanas diminuiu quase 40% entre 2007 e 2010, recuando aos níveis de 1992, informa o Federal Reserve Bank dos Estados Unidos em estudo divulgado nesta segunda-feira, 11 de junho. Depois de três anos tumultuados para a economia dos EUA, as famílias norte-americanas viram tanto a renda quanto o patrimônio líquido caírem acentuadamente, revela a Pesquisa sobre as Finanças dos Consumidores realizada pelo Fed. A mediana da riqueza líquida caiu de US$ 126.400 por família em 2007 para US$ 77.300 por família em 2010. A queda de 38,8% é a maior da série histórica, iniciada em 1989, e o nível é o mais baixo desde 1992, informa o Fed. Já a média da riqueza das famílias, que é a diferença entre o patrimônio e o endividamento, caiu 14,7%.

A crise da dívida americana, o Abismo Fiscal.

 

Insisti várias vezes nos debates no nas redes sociais de que os EUA não dariam calote na sua dívida, que o objetivo da extrema-direita americana, liderada pelo Tea Party/Republicanos, era “sangrar” Obama em praça pública, humilhá-lo ao extremo e fazer o pior acordo. Os financiadores de campanhas de Wall Street não deixariam seus financiados irem além da humilhação e prejudicar seus negócios.

Irrefletidamente, vários debatedores, inclusive de esquerda, torciam pelo calote, uma atitude mais que irresponsável, pois a conta, tanto do acordo e, mais ainda de um calote, recairia sobre as costas dos trabalhadores, muitas vezes esquecemos a razão e ética, para destilar desejos juvenis e inconsequentes, não olhamos a economia com o devido e necessário distanciamento, ou subestimamos que:

A)  De setembro de 2008 até 2010 houve um crescente enriquecimento dos bilionários americanos, com um aumento do número deles incomparável em qualquer momento histórico, nada menos que 31 novos bilionários em 2 anos;

B) Os quatrocentos mais ricos americanos detêm mais renda do que 155 milhões de americanos, uma brutal concentração de rendas, graças aos pacotes bilionários de salvamento dos governos Bush/Obama;

C)  Os pacotes de salvamento giraram em torno de 5 trilhões de dólares ( Dois PIBs do Brasil), porém o retorno é de pouco mais de 57% , gerando um passivo de mais de 2 trilhões( quase um PIB do Brasil) de calote privado, agravando mais ainda a dívida pública americana;

D)  Uma clara transferência de rendas do Estado, para os grandes grupos econômicos privados, demonstrando que este papo de estado mínimo é só para miriams, sardenbergs se iludirem, na hora H é o ESTADO quem paga a conta de quem o domina, no caso americano, nomeadamente o Morgan Stanley e seus clientes bilionários;

E)  Nestes últimos 3 anos o número de americanos abaixo da linha de pobreza, que recebem os Food Stamps pulou de 31 milhões em agosto de 2008 paras 45 milhões em julho de 2011, um aumento dramático da pobreza, o bolsa família deles é de US$ 137 por pessoa;

O orçamento aprovado no congresso americano aponta não apenas para não permitir o calote, pois aumentou o endividamento do Estado, na verdade apenas reconheceu os números atuais, de 99,7% da relação PIB x Dívida, mas apontou para a face mais cruel dele, corte no orçamento, não no socorro aos ricos, mas no corte nos gastos públicos, o que deve agravar a crise, o desemprego e assistência social, aponta para corte de impostos dos ricos e num pequeno corte nos gastos da conta estratosférica da defesa.

Uma ressalva, sem ele o caos seria instalado imediatamente e conta viria de uma vez só, atingindo o mundo de forma violenta, basta lembrar que os títulos da dívida americana remuneram as 75% das reservas cambias do Brasil, da China e da Rússia, imaginem os efeitos sobre estes países um calote americano?

O governo americano usou como vetor de saída da crise uma guerra cambial despejando apenas ano passado 600 bilhões de dólares no mercado mundial sobrevalorizando moedas e tornando suas mercadorias competitivas. Este movimento não teve um contra-ataque imediato.

Porém, com a perspectiva de que acordo da dívida americana seria o pior, como demonstrou ser, alguns Bancos centrais começaram uma corrida para comprar dólar e evitar que suas moedas locais se valorizem frente a ele. Banco do Japão (BOJ) comprou de dólares (US$ 12,6 bilhões) no mercado, para tentar segurar a valorização do iene. O Banco Central Suíço, O Banco da Inglaterra recomprou 200 Bilhões de libras. Segundo Celso Ming “O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, criticou asperamente a iniciativa do BOJ, observando que essas intervenções têm de ser coordenadas; não podem ser unilaterais. E, a despeito da posição contrária das autoridades monetárias da Alemanha, avisou que reiniciaria a recompra de títulos de dívida de Portugal e Irlanda, que vêm perdendo preço nos mercados. O BCE já detinha em carteira 78 bilhões de euros em títulos de dívida de países do bloco, especialmente desses dois. Além disso, reabriu leilões de liquidez ilimitada com vencimento em seis meses”.

 

Ben Bernanke voltou ao Senado na busca de um acordo, antes das eleições presidenciais de 2012. Celso Ming, articulista de economia do jornal Estado de São Paulo, deu mais detalhes do imbróglio: ”É uma situação esdrúxula. Enquanto os grandes bancos centrais são fortemente convocados a imprimir moeda, para desempoçar o crédito e estimular a atividade econômica, o presidente do Fed adverte que são os políticos ou, no caso dos Estados Unidos, é o Congresso que tem de fazer sua parte. O problema de fundo é que as despesas em 12 meses do governo dos Estados Unidos vêm sendo cerca de US$ 1,3 trilhão mais altas do que sua capacidade de arrecadação. A solução imediata implica expansão da atual capacidade de endividamento, hoje de US$ 15,2 trilhões. Se o Tesouro dos Estados Unidos não for autorizado a emitir mais títulos, a única saída passaria pela drástica contenção das despesas públicas, cuja principal consequência seria uma profunda recessão. O maior obstáculo para essa solução é a recusa do Partido Republicano em aprovar tanto o aumento da dívida quanto o de impostos. Em agosto do ano passado, o Congresso dos Estados Unidos conseguiu aprovar, à décima primeira badalada, uma elevação da dívida pública de US$ 14,3 trilhões para US$ 15,2 trilhões. Outro aumento desse teto, para US$ 16,4 trilhões, só poderia acontecer com nova aprovação explícita do Congresso. Se o Tesouro dos Estados Unidos não puder emitir mais dívida, o governo terá duas opções: ou passará o calote em parte dos seus fornecedores ou será obrigado a cortar despesas unilateralmente, com os desdobramentos já apontados”.

Aqui reforça o que estamos repetindo como mantra, tanto EUA, quanto a Alemanha, não economizaram nos gastos para conter a crise, mas exigem dos endividados, ou seria dos que não têm poder real, que cortem gastos. Basta ver o gráfico:

Somados os déficits de 2008-2011, teremos o acumulado de 4,6 trilhões de dólares, que foi torrado na tentativa de salvar a economia, na verdade para remunerar o grande capital, pois o Estado cumpre o papel específico de equalizar o valor, beneficiando as frações do Capital que o domina, no caso, os banqueiros.

Vejamos que de repente, Ming se dá conta da contradição central, EUA gasta trilhões aumenta sua dívida, mas a política exigida aos outros é diminuição de despesas, quando fala da UE:“Na Europa, multiplicam-se críticas ao excesso de austeridade imposto aos países prostrados pelo excesso de dívidas e, ao mesmo tempo, exige-se que o Banco Central Europeu (BCE) tome o mesmo caminho do Fed: emita moeda e, com ela, recompre os títulos de países do euro – especialmente os de Espanha e Itália. O objetivo dessa manobra é criar mais demanda para os títulos, de maneira que os juros possam cair e, assim, mantenham o endividamento sustentável. O governo alemão vetou essa política, que implicaria o uso do BCE para levar todos os países do euro a pagar um pedaço da conta, que é só de espanhóis e italianos. Mas a falta de uma solução duradoura para a crise do euro talvez torne inevitável esse passo do BCE, que atualmente é considerado irresponsável”.

Países prostrados é a definição perfeita mesmo, a pressão é para que BCE use as mesmas armas do FED, mas o veto alemão como já disse amplamente, é bem calculado, pois o quanto pior daqueles países, mais a Alemanha se beneficiou, até agora. Nos EUA, o FED tem mãos livres para agir, nos seguidos QE(1, 2 e talvez um 3), mas o BCE, com oposição da Alemanha e seus aliados menores, não fará o mesmo na UE, o que apenas piora o quadro.

Obama II

 

 

As eleições dos EUA, foi a primeira no pós-crise que um governo, em crise, se reelegeu, mas com o atenuante de que os números dos últimos trimestres deu a esperança para que o frágil governo Obama permanecesse por mais quatro anos. Mitt Romney um bispo Mórmon, foi Governador do rico estado de Massachusets, além ter presidido os jogos olímpicos de inverno em Salt Lake City, a capital dos Mórmons. Um multimilionário e ultraliberal que só apareceu com chances pela circunstância de crise, pois sua profunda mediocridade assustaria os eleitores. Mas, relembremos Obama também foi o grande beneficiário da crise nas eleições passadas.

O governo Obama, na verdade poderia ser definido como o de Benjamin Bernanke, o Presidente do FED, nomeado por Bush Jr, foi o condutor da economia, o Presidente do País foi mera figura decorativa. O trio que jogou o país no abismo (Paul hank, Tim Geithner e Ben Bernanke), se desfez em 2009, porém, os dois últimos, continuaram e foram as figuras de proa destes anos terríveis. O recuo da economia dos EUA foi enorme, apenas em 2012, é que o PIB, descontada a inflação, superarou o de 2005. O uso indiscriminado da emissão de moedas (QE) inundou o mundo de dólar, barateando artificialmente os produtos dos EUA, entretanto a economia pouco reagiu.

A política fiscal de grandes isenções, simultaneamente aos QEs, levou ao que se chamou de “Abismo Fiscal”, que é uma bomba relógio, que explodirá nas mãos do novo Presidente, logo em 1º de Janeiro de 2013. Durante o impasse de votação do orçamento de 2012, em agosto de 2011, os Republicamos, em ampla maioria, impuseram um duro golpe ao governo Obama, votaram uma proposta de remendo fiscal que imporá um corte compulsório nos gastos de 2013 na ordem de 600 bilhões de Dólares. O que obrigará o governo a corta totalmente todos os incentivos fiscais que deu às empresas para que estas retomassem a produção.

A questão é tão que na reunião do G-20, no México, já se sentia o clima ruim, não se discutindo que seria o novo Presidente, mas como este lidaria com a bomba do “Abismo Fiscal”, uma fonte da burocracia do G-20 disse ao Estadão que ”todo mundo está consciente de que tem um problema. A própria administração americana fala que está consciente, mas por enquanto não pode dizer como vai lidar com o problema enquanto não tiver a eleição e o embate no legislativo começar“, Ou seja, a coisa vai muito mais além do que a própria escolha presidencial. O esforço do pequeno crescimento deste ano pode simplesmente acabar em 2013, jogando o país numa espiral de crise ainda maior.

Os Democratas obtiveram uma pequena maioria no Senado, mas ficaram em minoria na Câmara, o frágil acordo para votar o orçamento de 2012, em agosto de 2011 para evitar a paralisia geral do país, foi feito com base numa bomba-relógio, que explodiria em Janeiro de 2013. Os subsídios e incentivos não seria renovados, além da exigência de um corte de 600 bilhões nos gastos públicos. Agora que a economia reagiu, em cima de uma base baixa, cresce em torno de 2%, pode ser abortado o voo com esta nova realidade. O entendimento desta questão é fundamental, pois o contexto da crise se prolongará por mais anos.

Recorro mais uma vez ao excelente trabalho de Celso Ming, que também escreveu a questão do “Abismo Fiscal”. Ele deu dados reveladores, sobre os desafios de Obama II. “O presidente Barack Obama não terá muito tempo para comemorar a vitória apertada nas eleições presidenciais de terça-feira. Enfrentará agora o desafio dramático do abismo fiscal (fiscal cliff), ao que tudo indica, em condições políticas complicadas. Nas próximas semanas, esse tema será o pesadelo que assombrará o mercado financeiro global, provavelmente ainda mais do que a ameaça de quebra da Espanha. Nesta quarta-feira, o temor do abismo fiscal derrubou a Bolsa de Nova York em 2,4% e os preços do petróleo em 4,8%. Mas não teria sido muito diferente do que aconteceria caso o vencedor fosse Mitt Romney”.

O enunciado dá uma ideia do buraco geral que a economia dos EUA se meteu, lendo um pouco mais, ele nos mostra de onde vem o problema, didaticamente, assim, explicou Celso Ming: “Para entender do que se trata, é preciso conferir as cartas à mesa. Tudo começa porque, nos Estados Unidos, o poder executivo não pode aumentar a dívida federal sem autorização do Congresso. Hoje, o rombo orçamentário (déficit fiscal) é de US$ 1,1 trilhão, em princípio, o valor a ser coberto por expansão da dívida pública. Em agosto de 2011, o passivo do Tesouro dos Estados Unidos chegara ao teto anterior, de US$ 14,3 trilhões. Depois de intermináveis negociações, Obama arrancou autorização para uma meia sola provisória que elevasse essa dívida para US$ 15,2 trilhões, com a possibilidade de que esse limite fosse revisto em fevereiro deste ano, no contexto de novo acordo com novas cláusulas.Também depois de duríssimas negociações com os republicanos, que controlam a Câmara dos Representantes, o presidente Obama conseguiu que a dívida pudesse ser puxada para até US$ 16,4 trilhões. Para que a dívida se mantivesse nesse patamar foram impostas condições: a partir de janeiro de 2013, terão de entrar em vigor cortes automáticos de despesas públicas, de subsídios e de incentivos fiscais, conjugados com aumento de impostos, num total próximo de US$ 600 bilhões em 2013 (cerca de 4% do PIB). Hoje o passivo do Tesouro dos Estados Unidos está nos US$ 16,2 trilhões, já bem próximo do teto”.

Um novo acordo, muito frágil, foi fechado, mas o alerta final, de Celso Ming é bem claro que “Se a nova ponte política não for construída sobre o abismo, apenas os cortes de despesa e as elevações de impostos atirarão o setor produtivo americano na recessão (recuo do PIB). Certas projeções do Fundo Monetário Internacional avaliam essa recessão em cerca de 2% em 2013. Seria uma trombada de 4% no PIB (atual crescimento de 2% e futuro recuo de 2%). E, como todo abismo atrai outro abismo (Salmo 42, na redação dos Setenta), a recessão, por sua vez, tenderá a reduzir receita, o que exigirá ainda maior esforço arrecadador”.

Há Saídas para Crise?

 

A “Nuvem de trilhões” da bolha especulativa que atingiu em títulos algo como 3 vezes o total do PIB mundial algo em torno de 140 trilhões de Dólares contra 46 trilhões de PIB, teve papel fundamental na imposição de uma nova realidade de relações econômicas mundiais. A rapidez com o Capital vai de país a país, impondo seus desejos de lucros transforma o estado/nação em mero intermediário do Capital global.

Mas atentem bem que quando irrompe a Crise em 2008, esta “Nuvem” controlada fundamentalmente por grandes bancos, como Goldman Sachs, HSBC, Mitsubishi, BNP Paribas, UBS e outros, passou por grandes fusões e quebras impressionantes como Lehman Brothers, a seguradora AIG e muitos outros que trabalhavam com taxas de alavancagem de até 40 vezes sobre seu patrimônio líquido.

Apenas de 2008 para cá cerca de 50 trilhões de dólares foram literalmente “queimados” na “Nuvem”, apenas em 2011 com o repique da Crise foi de 6,7 Trilhões de dólares. O que mais uma vez nos faz lembrar Marx, que Dizia que  “a crise restabelece brutalmente, ao preço de grandes sofrimentos, as condições de rentabilidade do capital e de retomada da acumulação”.

Apenas para não deixarmos escapar a função do crédito ainda no volume III de O Capital “O crédito acelera as erupções violentas da contradição -crise- e, portanto, os elementos de desintegração do antigo modo de produção. O sistema de crédito aparece como o principal nível de sobre – produção e super – especulação no comércio somente porque uma maior parte do capital social é empregado por pessoas que não são seus proprietários e que, conseqüentemente, vêem as coisas de maneira diferente do proprietário… Isso demonstra simplesmente que a auto-expansão do capital permite um livre desenvolvimento real apenas até certo ponto, de modo que, de fato, constitui um freio e uma barreira iminente à produção que são continuamente transgredidos pelos sistemas de créditos”.

A “nuvem” ou os “mercados” que seduz de forma tão violenta os analistas do capital como Miriam Leitão e Carlos Sardenberg, entre outros, não pode também nos causar espécie, o rigor, a necessidade estudar os fenômenos sem nos deixar seduzir pelos dois lados: o da “expansão financeira” como fim último do Capital, escondendo o mais importante que é a reprodução ampliada do Capital e sua busca vital pela recomposição da Taxa de Lucros. Nem pelos dogmáticos da “crise permanente” que apenas enxergam (sic) o declínio do Capital, mas não explicam a sua recuperação e sua expansão entre uma crise e outra.

Este é um caminho muito difícil a percorrer, pois, para manter a coerência ideológica e a cabeça sempre pronta a pensar e analisar cada lance da luta de classes é um duro desafio, o modismo seduz de forma mais simples, parece dá resultados mais rápido e conjuntural.

 

O ciclo anterior, que foi iniciado em meado dos anos 80 tem seu fim com várias crises regionais, como a dos tigres asiáticos, Russa e mexicana. O advento do Euro, as guerras regionais e a China, acabam por postergar uma crise global, mas com o furo da bolha de Internet ela se tornou evidente que breve viria a verdadeira conta, ou a verdadeira crise. O que acontece, desde 2008 até agora, são os efeitos da Crise, por 3 ou 4 longos anos sentimos este movimento. A queima de Capital, para o início de um novo ciclo.

Que fique claro, o movimento de entrada e saída da Crise, não é igual, mas há números crescentes de que os EUA estão desde ano passado em crescimento, ainda que incipiente e não consolidado. As taxas não são elevadas, mas o amplo império,  que tem seus braços fincados na China, na Índia, no Brasil e no mundo, começa a se fortalecer. Sua indústria pesada, bens de capital, automobilística e construção civil (que gera muito emprego) estão voltando com força. As taxas de desemprego pararam de crescer, no mínimo estagnaram, pode ser um novo teto (algo em torno de 9%). Estes sinais são os que devemos ficar atentos.

Os EUA que lograram um ano melhor estão diante de um cenário complicado, com a possibilidade real de, em 2013 e 2014, perderem o que recuperaram, minimamente em 2011 e 2012. O “abismo fiscal”, ainda os ameaça de forma severa, se não se chegar um acordo mais definitivo no congresso, em que Obama é minoria. O FED percebendo o pântano ampliou os QE, ampliação da base monetária, através da recompra ou enxugamento de títulos, a emissão de moedas, que era de 40 bilhões mensais, resolução de agosto 2012, agora subiu para 45 bilhões, parece pouco, mas é um claro indício que os últimos dados da economia apontam para queda da atividade econômica.

Segundo a agência Dow Jones, o FED,  ”reconhece que a atividade econômica e o emprego continuam a se expandir a um ritmo moderado nos meses recentes, e ainda percebe um declínio acentuado na taxa de desemprego desde o verão”. Contudo, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed continua preocupado que, sem acomodação suficiente da política, o crescimento econômico possa não ser forte o suficiente para gerar uma melhora sustentada nas condições do mercado de trabalho. ”Além disso, tensões nos mercados financeiros globais continuam a apresentar riscos negativos significativos para a perspectiva econômica”, destaca a nota divulgada ao final da reunião do Fed. (13/12/2012).


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