Arnobio Rocha Crise 2.0 Deu Zebra: Chipre 1 x 0 Troika

776: Deu Zebra: Chipre 1 x 0 Troika

O Povo disse não e o Parlamento Cipriota também. Foto de YORGOS KARAHALIS (REUTERS)

Ontem pode ficar marcado como um dia histórico, não apenas para a pequena ilha de Chipre, mas para toda Europa, o Parlamento do país recusou a oferta degradante de resgate feita pela UE, especificamente pelo Eurogroup, a reunião de ministros das finanças do bloco, que juntou ainda, para esta decisão humilhante o FMI e BCE, enfim a Troika queria impor o mais duro e cruel ajuste a um país, uma punição sem par. Para quem não acompanhou, escrevi aqui os posts (  O Confisco da Poupança em ChipreO Medo do Efeito Chipre  e O Efeito Troika Assombra a Europa).

A recusa deu uma sensação de alívio ao povo cipriota, mas não apenas a ele, é um fio de esperança para toda Europa, em particular os países que são tutelados pela Troika, Irlanda, Portugal e Grécia, além daqueles que estão em processo de negociação de resgate como Espanha e Itália. É um gesto ousado e simbólico, que ainda precisamo melhor digerir e entender em toda sua dimensão, não é um assunto qualquer, é enfrentar uma burocracia mortal à serviço dos banqueiros e anti-povo.

O pressuposto da fundação da UE, desde seu princípio era unir a Europa em torno de um ideal, de romper as fronteiras, ser uma alternativa econômica ao mundo e mostrar uma forma diferente de gerir povos distintos. A adoção do Euro, união monetária, foi um passo fundamental para equalizar o modo de vida, mesmo com discrepâncias de produção tecnológica e serviços. As economias mais fortes seriam beneficiadas com o livre comércio, mas ao mesmo tempo ajudaria na padronização de consumo e de crescimento das menores. Rapidamente, se transformou em pilhagem alemã, em pouco mais de 10 anos, a zona do Euro, se tornou a economia da Alemanha, com os demais submetidos a ela.

Enquanto a crise não bateu, havia dinheiro farto e créditos que financiavam o consumo, não a equalização do padrão tecnológico ou de serviços, todos os países se tornaram altamente dependentes da Alemanha, sua produção de ponta e, principalmente, de seus bancos. Com a crise, a Alemanha passou a dirigir efetivamente, em nome dos seus banqueiros, os destinos de todos os países do bloco. A dura imposição aos resgastes saíram dos políticos alemães, agora mesmo, no caso de Chipre o Ministro da Finanças da Alemanha exigia que ao invés de 10% de confisco se impusesse 12%.

A situação de Chipre, que vive fundamentalmente de seu sistema bancário, que chega a er 4 vezes maior que o PIB do país, que funciona como lavanderia informal e, mesmo assim, faliu, é só mais um dos muitos casos de desequilíbrio regional, do fracasso da UE. A imposição de duplo sacrifício, pois não era apenas o confisco que se impôs, além dele, tem uma série de medida de Austeridade, que joga mais incerteza sobre o futuro do povo cipriota, a exemplo de Grécia, Portugal e Irlanda, que já vivem sob o chicote da Troika, com a situação só piorando ano a ano.

Segundo o site EuroNews a população estava em festa com a recusa do Parlamento uma “explosão de alegria no exterior do parlamento cipriota, em Nicósia, depois da rejeição da taxa extraordinária sobre os depósitos bancários, imposta pelo plano de resgate europeu […]  uma manifestante diz que Chipre serve como “um exemplo forte para países como a Grécia, a Itália ou a Espanha. O povo pode resistir”. O imposto extraordinário foi rejeitado por 36 deputados e contou com a abstenção dos 19 representantes da formação do presidente Nicos Anastasiades. Ninguém votou a favor. O chefe de Estado vai receber hoje todos os líderes partidários”.

As autoridades da Troika ficaram atônitas, ainda segundo o EuroNews pois, “a Zona Euro via-se novamente mergulhada numa crise de consequências incertas”. Entretanto, “O presidente do Eurogrupo frisou que a oferta de assistência de 10 mil milhões de euros continua em cima da mesa. Jeroen Dijsselbloem reagiu ao voto no parlamento cipriota dizendo que “é uma desilusão, mas é claro que a proposta da Zona Euro e do Eurogrupo a Chipre mantém-se”. Por seu lado, o governo cipriota vai a Moscou buscar ajuda, ou seja, fora da Zona do Euro, o que deixa a situação mais intrigante e interessante.

A grande derrota da Troika, não é apenas a recusa do Parlamento, mas o efeito devastador de que ela pode partir para o confisco, o que assombra toda a Europa, ontem mesmo, o Ministro das Finanças da Espanha, Luis Guindos disse que “em meu país, os depósitos, até Cem Mil Euros, são sagrados, jamais alguém confiscará, ou imporá impostos sobre eles”. Um recado à Troika, mas, principalmente, uma tentativa de acalmar os espanhóis, pois o país está em fase final de ajuste de um resgate mais amplo, o resgate parcial de 120 bilhões de Euros do ano passado em nada resolveu a questão econômica da Espanha.

O temor generalizado é de uma corrida aos bancos na Espanha, Itália e até na França, as incertezas quanto às garantias, com a medida de confisco, fez tremer a banca. O ato heroico do parlamento cipriota, totalmente diferente do omisso parlamento grego, que assinou todas as cartas de intenções da Troika, mostra que é possível resistir, mas, ao mesmo tempo, não se sabe em que pode dar, tal ousadia. Chipre tá falido, será que a Rússia vai ajudá-los? Quais as retaliações da UE? Vão suspender Chipre da UE?

São questões que precisarão de tempo para uma resposta clara, de certo é que, hoje, vamos comemorar a Zebra.

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