Arnobio Rocha Crise 2.0 O Confisco da Poupança em Chipre

770: O Confisco da Poupança em Chipre

 

A corrida aos bancos no Chipre, no sábado, 16/03/2013. Foto: Karajias Petros (AP)

 

 

Mesmo tendo parado de escrever a série sobre a  Crise 2.0 , de vez em quando volto ao tema da Crise Mundial, quando algo realmente grande se justifica, como agora o caso do confisco da poupança dos cipriotas. É uma repetição histórica com ar de tragédia, como tão diz a frase de Marx. O pânico geral, as filas e corrida aos bancos e caixas para retirar o dinheiro, voltaram à cena. O dia não poderia ser mais apropriado e coincidente.

No mesmo dia 15 de março, em 1990, assumiu a presidência do Brasil, Fernando Collor, um obscuro cidadão, forjado pela maior rede de tv do país e pelos empresários, para conter o PT, o medo foi vencedor. Ao assumir a Presidência, naquele mesmo dia, anunciou o maior confisco da história do país. Houve pânico e desespero, as pessoas incrédulas com a medida, não por mero acaso, o mesmo FMI, que hoje atuou no caso cipriota, auxiliou o governo Collor. O local, não é o mesmo, mas o signo do caos da América Latina, assombra a Europa. Tutelada pela Troika ( FMI, BCE e UE), os países em crise, agora sentem o terror da economia dos “Velhos, Novos, Liberais”.

O El País, jornal espanhol, descreve a reunião do Eurogrupo, a seleta reunião de ministros das finanças da UE, acrescida de Lagarde, a Chefe do FMI e Mario Draghi Presidente do BCE. O debate do resgate de Chipre foi tenso, pois ali se quebraria a regra de ouro dos bancos que diz “que os depósitos bancários são sagrados, algo que pode ter consequências imprevisíveis a partir de hoje”. A resolução de confisco poderia ser ainda pior, pois, segundo o jornal “a  diretora do FMI, Christine Lagarde e ministro alemão, Wolfgang Schäuble, com o apoio de países como a Áustria, a Finlândia e a Holanda, arrancou da reunião do Eurogrupo, a exigência de um desconto de 12% sobre os depósitos de mais de 7  bilhões de euros”. Acabaram decidindo pelos 10%, das contas com mais de 100 mil  e de 6,75% abaixo deste valor.

Ora, os europeus, podem se surpreender com tal “curralito”, mas esquecem que impuseram o mesmo método no Brasil, na Argentina, agora, provam do próprio veneno. Uma clara evidência que caiu a última fronteira de intervenção à la modelo FMI que tanto massacrou a América Latina. Lendo a descrição do El País, fica uma sensação de Déjà vu, acompanhemos:  “Bloqueio de todos os depósitos em bancos da ilha mediterrânea de apenas um milhão de habitantes tem sido a principal concessão que a Europa e o FMI começaram a Nicósia, em troca de um empréstimo de 10 bilhões de euros imperativas para não pedir falência. Mais uma vez, a UE vem para o resgate dos bancos: o paradoxo é que esta ajuda vai em grande parte para limpar os mesmos bancos que funcionam nos próximos dias a expropriação de dinheiro de cidadãos com contas em Chipre, seja nacional ou estrangeiros. Aqueles com mais de 100.000 euros vão pagar um imposto equivalente a 9,99% de suas economias, que não chegar a esse valor pago 6,75%”.

O desespero das população é assim exemplificado, pelo El País: “O cipriota Emmanuel Constandinou, professor de espanhol de 21 anos, disse ontem: “Minha mãe estava levantando cedo esta manhã para tirar todo o dinheiro que podia do banco. Ela, minhas tias, minha avó tinha feito. Eu sou jovem e não perder muito, cerca de 200 euros, os outros vão custar muito mais “, lamentou. Constandinou lamentou que o Governo acaba de assumir “já está nos matando“.

Reparem que o empréstimo de 10 bilhões, foi condicionado ao confisco de 10 % de todos os depósitos, o que equivale aos 5,8 bilhões, ou seja, apenas 4,2 Bilhões, que em troca se exigiu ainda que “Nicósia será obrigada  a apertar o cinto em grande forma, com o pacote completo: um ajuste draconiano de 4,5% do PIB, que incluirá cortes de gastos, privatizações e ajuste fiscal, além de um desconto de dívida privada de pior qualidade. Haverá também reformas para evitar que o país continua a ser uma lavanderia de dinheiro sujo da Rússia. Uma recessão Chipre aguardado e longo prazo que será mais profunda”.

A questão é pedagógica, aceita às condições, quebra-se o tabu de confisco no “mundo civilizado”, não sendo mais privilégio dos miseráveis da América latina, agora, esta política, poderá ser aplicada em qualquer lugar. Chipre é uma pequena economia, com 17 bilhões de Euros de PIB, mas, o temor, hoje, na Europa é que o efeito deste confisco,  seja uma grande corrida ao bancos, principalmente em países como Itália e Espanha que vão mal das pernas. O Eurogrupo ainda não decidiu totalmente o caso Espanha, quem sabe, a experiência cipriota, sirva de norte?

Acompanhemos!!!

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