Arnobio Rocha Política A Queda do Forte Schoonenborch

623: A Queda do Forte Schoonenborch

 

Vila de Fortaleza, quando reconquistada pelos portugueses, Sec XVII

 

Leio, com dor no coração, aqui exilado nas terras Piratiningas, as notícias de que o meu  “Siará Grande” caiu nas mãos portuguesas, a derrota no Pernambuco das forças de Nassau, trouxe de volta os colonizadores Jesuítas e a inquisição. Desde o começo com a primeira Maria, sufocada pelas forças da coroa, não permitiu que os holandeses ali se estabelecesse, por longos anos, a terra abandonado  apenas vigiada pelo Forte São Sebastião, dominada pelo Jereissatis e neo-aliados.

Os holandeses, laranjados, quase vermelhos, com um pequeno agrupamento, fundaram a cidade com um pequeno forte, denominado de Schoonenborch, vindo do Recife, comandados por Matias Beck, a “Bruxa Lora“,  se estabeleceram na margem esquerda da foz do Riacho do Pajeú, de frente ao mar, próximo do Pirambu. Saídos da Europa da reforma, inspirados na tolerância, trouxeram judeus, cristão católicos, protestantes e ateus. Com apoio dos índios locais ali começa um processo civilizatório, com uma nova experiência de convivência, no partilhamento dos parcos recursos.

A língua diferente, em parte atrapalhou o processo, os aliados mais à leste, vermelhos e radicalizados, tupinambás romperam, fazendo oposição ao governo local. Ao oeste, o forte da prainha, dominado pelo Ferreira Gomes, aliados ad eternum do burgos da aldeota, tinha uma frágil aliança com os Laranjados, a mística da “Bruxa Lora” que tão bem liderara nos primeiros anos, caíra doente, só reaparecendo para trocar farpas com o irmão mais radical dos Ferreira Gomes, o atormentado irmão mais velho, de longo pescoço.

A nova disputa pela intendência, do palácio da catedral, teve rompimento da aliança, as forças restauradoras de Portugal se alinham, a Bruxa lora, elege seu líder impondo uma Demarcação Social, sem muita experiência. Os mais ao leste também se apresentam com nome próprio. Ao centro surge um Ferrer que mistura portugueses e ex-aliados, inclusive um Arruda que tanto recebera do Forte Laranjado, mas que mal agradecido não se fez aliado. A primeira batalha, elimina as forças de centro e ao extremo leste.

 

Uma longa e decisiva batalha se concentrou no último domingo do mês de outubro, a configuração não restava dúvida, o Forte do Pirambu enfrentaria as forças da Aldeota, juntos os ferreira gomes, os jereissatis, os dias macedos, até a pequena nau portuguesa de Moroni de alinhou para atirar nos laranjados. Os Tupinambás, diante da batalha, acharam que não havia diferença de lados, a maioria foi banha-se nas Barra do Siará, alguns poucos deram armas aos laranjados, mas se recusaram a atirar. Os do centro, como os Arrudas, foram trair os laranjados, se firmando com as forças restauradoras. Os Ferrers ficaram calados, como se calar fosse opção.

A vitória do Forte da Prainha, com as forças jesuítas invadindo Schooneborch, caçando um a um seus líderes, o troféu maior será o tribunal de inquisição para condenar à fogueira a “bruxa lora”. Assim, como no passado, o presente é reacionário para minha terra. Os judeus, os ateus, os reformistas todos serão exilados, não há composição, a caça às bruxas serão intermitentes, os ferreira gomes, como os Jesuítas, só entendem a linguagem da força e da conversão violenta. Os Tupinambás vão sentir o peso do aculturamento, quando voltarem da Barra do Siará.

 Os erros dos laranjados foram grandes, não resta dúvida, mas no horizonte o que se enxerga de castigo de fogueira será desproporcional, mais uma vez os portugueses radicais, impuseram um Rotundo Intendente, sem expressão, que vai cumprir os desejos  dos velhos oligarcas. Triste momento se cumpre, o forte destruídos, realinhar as forças, sem perda de tempo. A civilização dar lugar à contra-reforma e a volta do inquisitório.

 Save as PDF

0 thoughts on “623: A Queda do Forte Schoonenborch”

  1. Excelente metáfora. Mas quem sabe se em dois anos, os siarenses se rebelam e se unem aos quase vermelhos para expulsar os novos e os velhos dominadores.

  2. Grande Arnóbio, grande é a saudade de você, mas me contento lendo seus textos sempre que posso. A nossa querida Fortaleza teve que escolher entre o menos ruim. Se os “portugueses” foram vitoriosos foi porque os “holandeses” agiram com exclusivismo, usaram a cartilha do hegemonismo, maltrataram aliados e até membros do próprio partido, foram arrogantes ao cubo, o próprio Lula disse na Praça do Ferreira que iria eleger “postes” por todo o país. Até ofender nossa inteligência fizeram. Querido Arnóbio, não há o que lamentar, a não ser os descaminhos no PT.

  3. Tenho lido muita coisa ultimamente, mas …um cearense radicado em São Paulo, escrever o melhor texto ..descreve em detalhes minuciosas as dores por que passo agora neste momento…Peço licença para transcrever esta bela obra no meu Feicibuqui ,sei que lá familiares e todos os siarenses ….

  4. Ô caba bom esse Siarense réi de caneta afiada. Sou um tupinambá e tenho medo dessa oligarquia. Quem sabe a gente não dá o troco daqui a dois anos, somos um povo forte por natureza e ainda acredito que poderemos pensar melhor!!!

  5. Que maravilha de texto. se eu pudesse pagava pra publicar no jornal daqui. Aqui é so tristeza. Pra quem bate em professor e acha que medico é igual sal branco e barato e tem em toda esquina. o que podemos esperar agora?

    1. Segundo o cacique la das tribos do Maracanaú a atormentação do “pescoço longo” é por que ele cheira farinha de mandioca ! Isso deve descompensar o nobre português ! Aprendi com minha mãe que nasceu lá pros lados da Caucaia que farinha de mandioca era pra fazer tapioca e não pra cheirar !

    1. resposta Salvador: Petralha aqui de Carteira filiação e tudo .”Lamentável, boa nova aí na velha Fortaleza de coronéis que todos reverenciam expandir tapetes”O Brasil anda para frente Fortaleza prefere o atraso!! Depois não chorem!!.

  6. Caro Arnóbio,

    Acho que você cometeu um grande engano ao pensar que o holandeses perderam Fortaleza. Engano de quem se afastou do Siará e não sabe como a banda toca.

    Os mandatários flamengos Camilo Santana, Nelson Martins e Francisco Pinheiro vão muito bem, obrigado, cada um cuidando da sua capitania, alheios a toda confusão que a Bruxa Lora arrumou. Dizer que um capitão mor do porte de Guimarães perdeu alguma coisa é ser por demais inocente.

    Há muito tempo que os portugueses e holandeses se misturaram e desta miscigenação saiu toda uma leva de novos nobres que tão se lixando para os índios locais. A única coisa que os portugueses fizeram foi assumir de vez o terreiro ao invés de deixar um preposto.

    A Bruxa Lora voltou pra roça, tudo é festa e na hora de eleger novo El Rei do Brasil todos estarão lá no mesmo palanque, abraçados, enquanto a indiarada espera a sua vez.

  7. A Bruxa Lora que se firmou mesmo na fogueira da inquisição, assim como na terra dos Bandeirantes na marco Zero inicial a Guerreira Laranja em 1988. Na terra de Nassau faltou humildade também.

Deixe uma resposta para Rebeca Perez SilvaCancelar resposta

Related Post