Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Brasil e o alerta do BIS

452: Crise 2.0: Brasil e o alerta do BIS

 

G-20 e Brics - o Caminho do Brasil - foto: Victor Ruiz/Reuters

Pensar o Brasil no contexto mundial é uma tarefa árdua, principalmente como olhamos apenas para nosso umbigo, de sorte que, hoje, o Brasil está relativamente bem, então facilita esta certa alienação ao que se passa no mundo. Quando resolvi escrever com mais afinco sobre a Crise 2.0, propositalmente, passei, na maioria das vezes, ao largo do que ocorre aqui, imaginei que se descrevesse bem o cenário externo, mormente, onde é o centro da Crise, contribuiria de alguma forma para aparar as arestas interna, ledo engano.

 

O recente relatório do BIS, que comentei hoje no artigo Crise 2.0: Serão 20 Anos de Crise?, traz um panorama global extremamente sombrio, como deixei claro, fala-se em 20 anos de Crise, ou mais, se nada for feito de forma radical. Bem este relatório, para mim, que venho estudando os efeitos da crise, não me surpreende, exceto pelo reconhecimento direto, sem meias palavras de que todas as políticas aplicadas são um FRACASSO. Tanto na expansão de moeda, a chuva de trilhões como a louca austeridade alemã.

 

Uma parte do relatório fala do emergentes, com destaque maior, óbvio para China, mas também para a segunda força, o Brasil. Lá diz claramente, segundo a matéria do Estadão: “O caminho escolhido nos últimos anos para promover o crescimento econômico – crédito – se tornou insustentável e pode levar o Brasil ao desastre. Ao lado de outros emergentes, o País poderia conduzir a economia global a uma nova crise financeira. O alerta é do BIS, o banco central dos bancos centrais, que neste fim de semana reuniu os BCs de todo o mundo na Basileia.

Depois de anos de rasgados elogios à economia brasileira, o informe anual não deixa dúvidas: o País já vive uma “desaceleração acentuada” e precisará agir com urgência para mudar de rota. O BIS levanta a hipótese de que o endividamento no Brasil já estaria em nível perigoso e vê riscos até de um boom imobiliário com repercussões negativas no futuro. Alexandre Tombini, presidente do BC brasileiro, esteve na reunião, mas se recusou a falar com a imprensa”.

 

O viés é claro, alarmistas se armaram e comemoram quase como a queda do modelo Lula/Dilma, mas antes de entrar em pânico devemos reconhecer, que é melhor ficar preocupados de que ignorar o que se passa no mundo, mesmo que não seja exatamente o caso local. O nível de endividamento ainda é baixo, os padrões mundiais falam em 80% de comprometimento da renda, enquanto aqui mal chegou aos 20%.  O que afirma o relatório é que “O crescimento médio de 13% foi três vezes superior ao aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Para o BIS, qualquer taxa que seja seis pontos porcentuais acima da expansão do PIB é considerada insustentável. A diferença entre a expansão de crédito e do PIB nos países emergentes está acima da tendência histórica e, segundo o BIS, é um “presságio” de crise.

 

O problema é que eles não percebem que o crédito sempre foi muito baixo no Brasil, fruto de juros altíssimos e restrições impostas pelo BC. Quando estourou a crise de forma ampla, o Brasil abriu linha de créditos, como nunca antes, uma forma de se manter o consumo e a expansão, com sucesso. Este modelo assusta, porque lá fora eles sempre tiveram um nível de crédito altíssimo, mas aqui é bem mais modesto, claro que não se vai “dormir com o sucesso”, principalmente pelos problemas mundiais que tendem a piorar.

 

Agora a tarde um série de analistas consultados, do setor privado rebateram categoricamente as afirmações do relatório: “Na avaliação de Bistafa, mudanças microeconômicas no País que ocorreram a partir de 2003, como a adoção do patrimônio de afetação, ajudaram a elevar as garantias para os agentes financiadores de que não serão afetados por um movimento grande de inadimplência de compradores de imóveis. Além disso, ele aponta que os bancos no Brasil são muito sólidos e bem cautelosos na liberação de crédito.

“Um outro fator importante é que no País a supervisão e a fiscalização do Banco Central sobre toda a atividade dos bancos, inclusive a relativa à área habitacional, diminuem muito os riscos de ocorrer qualquer movimento de bolha nesse segmento no País”, disse Bistafa.

Em alguns países que enfrentaram problemas no setor não havia este tipo de análise vigorosa de órgãos regulatórios. Na Espanha, o sistema financeiro precisou de pacote de socorro emergencial de 100 bilhões de euros para evitar o surgimento de risco sistêmico, dado que a forte exposição daquelas instituições a ativos de recuperação difícil na área imobiliária chegaria a cerca de 180 bilhões de euros, apontam analistas internacionais.

“No caso do Brasil, as condições dos bancos são muito favoráveis e o BC tem controle absoluto sobre a supervisão de suas ações”, ressaltou Bistafa”.

 

Parece claro que ainda não é um motivo de maiores preocupações, devemos nos concentrar nas linhas de créditos internacionais que minguam, isto sim, afeta de forma forte países com baixa poupança, como o Brasil. A diminuição do volume de empréstimo, em particular pelo BIS, preocupa, o Brasil fez um acordo semana passada com a China de um fundo mútuo de 60 bilhões que servirá com mais uma linha de defesa, uma ideal genial, para o momento. Este caminho que percorremos não é fácil, mas não podemos deixar de perseverar.

 

A mídia nacional é dominada política e ideologicamente pelo mercado financeiro, então há uma tentativa hercúlea de impedir que o Governo Dilma continue buscando diminuir os juros, spread bancário, fonte última que piora a qualidade e o endividamento das famílias. Até setores da esquerda se mostram pessimistas, não sem razão, mas deveria fechar fileiras no apoio decisivo ao que se passa no Brasil. A crise ronda o mundo, em 2008, Lula deu excelente combate, o momento é outro, precisamos de outras ferramentas para não sucumbir. Ao meu ver, Dilma segue o caminho certo, se tem que retroceder, em algumas políticas, foi preciso, para não cair.

 

É preciso firmeza para acreditar no que se faz, senão parte-se para o desespero e demagogia.

 

 

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0 thoughts on “452: Crise 2.0: Brasil e o alerta do BIS”

  1. Que beleza, que beleza! Obrigada, bebi! O engraçado é que o analista contradiz o BIS e o próprio PIG… já-já eles ficam sem gente que comente o que eles querem…

  2. Suas análises são racionais, lúcidas, fico muito feliz, pois aprendo e ao mesmo tempo tenho argumentos para conter o pânico dos meus colegas, que se informam pela grande imprensa.

  3. Obrigado, Arnóbio, vc tem colocado lanterna na minha reflexão sobre a crise. Aprendo muito com vc. @midiatico

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