437: Hugo Cabret

 

Hugo Cabret é de forma bastante resumida um sonho dentro de um sonho, ou melhor uma fantasia dentro de uma fantasia. O ano é 1931, a cidade é Paris, a boêmia, o encanto, os encontros e desencontros dos maiores gênios da literatura, das artes, da política e filosofia se dava nos cafés e festas intermináveis, era o centro da cultura e do prazer no mundo, a expressão maior do cosmopolitano era ir e se perder em Paris. Tudo isto rompido pela violência da Primeira grande guerra, a luz deu lugar à sombra e escuridão; o fausto cedeu lugar à miséria, fome; alegria substituída pela tristeza.

 

A incrível e poética estória do garoto órfão que vai morar na estação de trem central, depois da morte do pai, que lhe deixa apenas um autômato, com suas engrenagens emperradas. O pequeno Hugo, sobrevive naquele ambiente de chegadas e partidas, com pequenos furtos e mantendo os relógios da estação, funcionando. Seu tio, tinha direito de “morar” ali, graças ao ofício de ajustar as horas, que Hugo continuará, clandestinamente. Sua atividade é reconstruir e fazer funcionar o autômato, último presente do pai, achando ele, que receberá uma mensagem deixada pelo pai.

 

A estação é frequentada por todos os tipos humanos do pós-guerra, a florista romântica, a boêmia com seu cachorro, o jornaleiro apaixonado, o terrível inspetor com sua perna mecânica quebrada e seu cão de guarda assustador, ambos prontos para coibir furtos, roubos e prender os que ficam a vadiar, principalmente os órfãos. Pelas brechas do relógio, Hugo observa o soturno dono da loja de brinquedos, que conserta peças, ali é seu alvo pegar pequenas engrenagens que podem dar vida  ao autômato. Porém, um descuido, fará de Hugo prisioneiro ao destino daquele senhor.

 

Ao mesmo tempo, conhece também a bela, Isabelle, de mesma idade e órfão, criada pelo tio, o dono da loja de brinquedos. A inteligente e sonhadora Isabelle passa ajudar Hugo na busca de peças e meio para que consiga fazer funcionar seu autômato. A delicada relação daqueles que não tem pais, a descoberta do cinema e dos segredos grandiosos guardados pela máquina, desvendará o passado e a vida de todos que ali vivem, o sonho perdido, as ilusões o amor, breve será desencadeado por esta pequena dupla, de onde menos poderia se esperar.

 

Hugo Cabret é o maior filme, que vi, sobre garoto/Cinema/fantasia desde ” Cinema Paradiso”, a direção e criação de Martin Scorcese, fazendo um filme, aparentemente para jovens, é de uma delicadeza sem par. Scorcese, para mim, o maior diretor de cinema da atualidade, faz filmes sobre redenção humana, sua alma consumida, quase sempre pela violência, poder e força, mas que busca de alguma forma a se purgar ou por outra forma a se redimir.

 

A seleção de elenco com os ótimos Asa Butterfield e Chloe Moretz, um papel brilhante de  Sacha Baron Cohen, mas ainda a magistral interpretação como Georges Méliès,  Ben Kingsley, um pioneiro gênio do cinema francês e mundial. O prazer de ver em cena Christopher Lee, em pequeno papel, mas que confessa que não poderia fechar sua enorme carreira sem trabalhar com Scorsese.

 

As engrenagens dos relógios me lembraram de “Tempos Modernos”, a metáfora da vida, que cada um de nós não passa de uma peça, mas que devemos ter algum propósito por estarmos aqui, cabe a nós sabermos qual é, assim como Hugo e Isabelle descobriram. Paris, nos últimos dois anos foi palco dos dois grandes filme que vi, este e ““Meia Noite em Paris”. Dois grandes mestres do cinema dos Eua( Scorsese e Woody Allen), homenageando a cidade da luz.

 

 

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0 thoughts on “437: Hugo Cabret”

  1. Concordo inteiramente com seu texto, esses dois filmes foram as melhores coisas que eu vi no cinema nos últimos tempos,retratam com muita sensibilidade toda a magia do cinema e uma utopia de uma humanidade melhor.

  2. O filme é uma grande homenagem ao Cinema, com C maiúsculo. Scorcese escolhe George Méliés, francês que no início do século XX inventou praticamente o cinema como espetáculo (cortes, efeitos especiais, maquilagem, cenografia etc – tudo saiu dele) e costura toda uma história em volta do Mèliés em sua imaginária decadência.
    veja mais sobre o Mèliés na wikipedia (o artigo em francês é bem mais completo): http://pt.wikipedia.org/wiki/Georges_M%C3%A9li%C3%A8s

    Além da beleza do roteiro e das imagens (é um dos poucos filmes em que o 3D é utilizado de forma não invasiva), o filme deixa qualquer um que conheça alguma coisa dessa história emocionado.

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