Arnobio Rocha Literatura O Tempo e o Vento

407: O Tempo e o Vento

 

Foto Montagem do blog Ericoblogfinal

 

Hoje conversando com a Letícia, minha filha mais velha, sobre “Ana Terra”, uma pequena parte da magistral “O tempo e o vento”, obra do grande escritor gaúcho Érico Veríssimo, lembrei de quando li, por inteira. Foi uma volta ao passado, não sei se já contei, se sim, não custa falar outra vez. O ano era 1985, uma semana santa, todos tinham viajado em casa, fiquei só, porque tinha uma objetivo: Ler integralmente os 7 livros. Era um grande desafio, mas estava decidido.

 

Naquele ano a Rede Globo, estava passando uma minissérie baseado na primeira parte da trilogia de “o tempo e o vento”, o livro “O Continente”. Com a competência de sempre, a minissérie foi uma adaptação de Regina Braga e Doc Comparato, a direção ficou a cargo de Paulo José. Era um desfile de grandes atores, desde a primeira fase com  Glória Pires e Lima Duarte. Depois com Tarcísio Meira, incorporando o imortal Capitão Rodrigo Cambará, Louise Cardoso como Bibiana e José de Abreu, Juvenal Terra. Na fase seguinte a excelente Lilian Lemmertz, como Bibiana e a Bela Carla Camuratti como Luzia. E na última parte, Armando Bogus como Licurgo e Bete Mende como Maria Valéria. Grande elenco, figurino e uma estória espetacular.

 

Tarcísio Meira e Glória Pires - Montagem da Revista Quem

Meu desafio era ler os livros antes que começasse a ir ao ar a minissérie, fiquei da quarta a noite até o domingo de Páscoa lendo e devorando os livros, chorando, vivendo e sofrendo com a Saga, Érico Veríssimo me levou ao sul, a curiosidade daquela terra, tão longe do meu Ceará. Dois anos depois eu conheci o Rio Grande, atravessei o estado inteiro, passando por muitas cidades de Porto Alegre até Tucunduva, perto da Argentina, em julho, num frio de matar, mas esta é outra história.

 

O Tempo e o Vento é  a maior saga da literatura brasileira, a grandiosidade da obra, os personagens, a estreita relação com a história do Rio Grande do Sul,  as lutas e guerras. A formação sócio-econômico, política e cultural do gaúcho, foi escrita de forma apaixonante, as figuras retratadas, as tragédias, os amores e vida. São três partes : O Continente, que vai das missões a até a guerra federativa, passando pela farroupilha. É a parte mais conhecida da trilogia, principalmente por Ana Terra e Um certo Capitão Rodrigo, que são substrato publicados de forma autônoma, transformados em livros paradidáticos pelas Editora Globo. Como iniciação, é uma boa ideia, mas agora estou incentivando minha filha a ler toda a obra.

 

A Segunda parte é o Retrato, cobre o início do Século XX, e uma luta entre o velho gaúcho camponês e a nova vida urbana, mesmo de uma cidade pequena, os novos costumes. Um novo Rodrigo Cambará surge, não mais com as espadas dos farroupilhas, mas um janotinha , médico, formado em Porto Alegre, volta para casa e viverá o conflito com seu pai, tradicionalista, Licurgo, à sombra do avô, herói que lhe transmite o gosto pela esbórnia e o machismo que a medicina e cultura não lhe tirara.

 

As duas primeiras partes escritas quase num fôlego só, entre 1949 e 1951, deixou esperança de que se concluísse, mas a saúde frágil de Érico Veríssimo acabou adiando por quase 11 anos. Mas a chegada de O Arquipélago, veio a fechar com força a saga, Dr Rodrigo é eleito Deputado Federal, vai viver no Rio de Janeiro, em plena era Vargas, aqui as contradições e mudanças de rumos são maiores e já plenamente vinculadas ao destino do país, se nas outras partes o Rio Grande era o foco, umbigo, aqui é a relação nacional, o poder central, que o gaúcho exerce. As grandes figuras estão ali no livro, e os Terra-Cambarás vão viver.

 

A trilogia tem como centro o homem gaúcho, seu apego e costumes locais, muitas vezes  suas revoltas ao poder da capital, tanto contra o Vice-Rei, depois na Monarquia local, até na República. Por fim a sua chegada ao poder, sua visão de mundo que vem do Rio Grande, sua concepção de nação. Amim parece que  com Getúlio Vargas, sua ida ao Rio, criou este laço ou este desejo do gaúcho de sair e brilhar longe se sua terra, sem jamais perder o sotaque ou as raízes, Érico, o pai do não menos grande, Luis Fernando, é o mestre que nos conduz a conhecer sua gente, seu povo e sua vida.

 

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0 thoughts on “407: O Tempo e o Vento”

  1. Meu querido!!! Seguindo orientações de gerações passadas, quando meu João nasceu, as tias mandaram colocar o umbigo do menino, depois que caísse, dentro de um livro, para que ele fosse um grande escritor! E qual livro a mãe aqui usou? O Continente! Érico Veríssimo, pra mim, é sem dúvida, o melhor escritor brasileiro. Na juventude devorei tudo! Amo muito!

  2. Ando nessa releitura e rememoração por conta do filhote. É um redescobrir sempre ler o mestre Veríssimo, mesmo para nós que temos no dna muito de cada um dos personagens.
    Bela leitura e história a tua também!
    Abraço!

  3. Comecei a ler Erico por Clarissa, era ainda uma menina. Fui ler o Tempo e o Vento mais tarde e com mais calma. O Continente para mim uma obra prima. Um clássico épico que me fascinava e que nenhum filme ou mini série jamais conseguiu retratar com a magia que os meus olhos e coração viram no livro. Depois o Retrato. Romance puro. O Arquipélago já me pareceu mais pé no chão, mais terra a terra. Desci das nuvens para uma quase realidade, um Rio Grande que me era mais conhecido. Adorei relembrar disso aqui contigo. Abraços

  4. Arnóbio

    Estou aqui em Brasília hoje. Mas só de ler o que tu escreveste, já me deu vontade de colocar as bombachas,passar no Parque da Cidade, onde esta acontecendo a Expo Thê, que como já dizem os cartazes do evento, é a maior exposição gaúcha do universo. Sim, por que afinal de contas, sendo gaúcho, não poderia ser algo menor. É como diz o hino da pátria rio grandense “…Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra…” eeeheheheheh . Muito bom teu texto, como aliás são os muitos que elaboras e com os quais tanto aprendemos.
    Abç.

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