Arnobio Rocha Filmes&Músicas Ainda sobre o Poderoso Chefão

395: Ainda sobre o Poderoso Chefão

 

Michael Corleone conderado pela igreja - Poderoso Chefão 3

 

Ontem escrevi sobre a trilogia do Poderoso Chefão, em particular sobre o filme terceiro, que teimava em não assistir, por tanto tempo, por um receio que não fosse fiel aos primeiros, por uma série de acontecimentos envolvendo as filmagens, como a acusação de que Coppola o fizera apenas para se salvar da falência, de que pusera a filha para estrelar, a inexperiente Sofia Coppola, que recentemente brilhou intensamente como diretora.

 

Talvez tenha perdido muito tempo, mas não foi tarde, vi o filme e alguns detalhes a mais me deixou pensando nestes últimos dias, sobre nossa existência, vivemos num mundo conectado, quase tudo que fazemos é possível ser lido e visto por milhares de pessoas, por uma série de cadeias de coincidências ou não, podemos “explodir” ou não, mas a maioria de nós vai viver uma vida absolutamente medíocre, jamais será lembrado por nada de mais relevante, é uma constatação pesada, que a vida é, em regra, medíocre, sem maior charme ou brilho.

 

Numa cena em que se debate o futuro da fictícia imobiliária do Vaticano, que será controlada pela família Corleone, os bastidores da negociação são intensos, as traições, as vilanias, quem manipula quem, percebe-se um jogo de nervos, mas principalmente de protagonismos. A questão que me vem: Quantos ou quem de nós efetivamente esteve/está em posição que possa participar dos grandes jogos? de sentir a adrenalina de decisões tão graves, numa empresa, no Estado ou no Poder.

 

Em parte no filme se reproduz a eleição de João Paulo I, o cardeal Albino Luciani, que adotou o nome de João Paulo I, no terceiro escrutínio ele derrotou Giuseppi Siri, que era favorito, ali foi a última vez que a igreja progressista, que pelo menos tolerava a teologia da libertação, venceu, ou impediu de vencer, a ala mais conservadora, ligada aos valores da direita mundial. Luciani, votou nos três escrutínios, no cardeal brasileiro Aloísio Lorscheider, um homem extraordinário, que conheci durante seu mandato em Fortaleza. Lorscheider seria o candidato dos progressistas, mas recusa, pois como tinha problema cardíaco não achava conveniente, ele tinha apenas 58 anos(viveu até 87 anos).

 

Acredito que raramente se encontra homens assim, que se recusam a algo muito maior, por um compromisso ético e moral com os seus, a grandeza dele me impressionou, quando soube deste detalhe em 1986, Dom Aloísio era figura das mais queridas em Fortaleza, seu trabalho em favor dos mais pobres, da justiça social, incansável, lembro quando o vi tão próximo numa dura greve numa fábrica da família Queiroz, Esmaltec( Fogões), a repressão da polícia do governo Tasso, por acado genro de Edson Queiroz, só abrandou diante da presença do Cardeal, às 5 da manhã no portão da fábrica.

 

Apenas como curiosidade, o Cardeal Luciani, feito Papa, João Paulo I, morreu apenas 32 dias depois de eleito, ou seja  Dom Aloísio, bem que podia ter sido o escolhido. Mas como bem mostra o filme, talvez teria tão breve quanto o outro. Mas a reflexão aqui, são os dois destinos humanos, ou protagonismo ou viver na sombra, mas também há risco de viver na Luz. Viver é perigoso demais.

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