Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Novos Tempos na UE?

392: Crise 2.0: Novos Tempos na UE?

 

Merkel, agora questionada - Foto EuroNews

Tive que reler alguns artigos destas série Crise 2.0, para me certificar de que como forma as reuniões anteriores dos dirigentes máximos da UE, como se comportavam, o que teve de diferente para esta desta semana. Estes dois posts abaixo exemplificam as ações de Outubro e de início de Dezembro, que passamos a analisar, comparativamente com a atua.

  1. Crise 2.0: Estados Unidos da Europa;
  2. Crise 2.0: A ruptura do Bloco Europeu;

O que tem em comum nas duas reuniões foi um desejo de que a UE avançasse para uma nova condição, um novo patamar, quem sabe um “federalismo”. Na primeira a apresentação de Durão Barroso propunha um conjunto de medidas que iam além do simples ajuste fiscal, mesmo este sendo um dos eixos:

1) uma resposta aos problemas na Grécia;

2) a conclusão das intervenções na zona do euro para conter a crise;

3) uma abordagem coordenada de reforço do sistema bancário;

4) a aceleração de políticas de crescimento e de estabilidade; e

5) a definição de políticas de governança sólidas e integradas para o futuro.

Estes cinco pontos, foram totalmente desprezados por Merkel, em Outubro, trocado todos eles por uma política de austeridade, ainda embrionária naquele mês. Que se materializou nas quedas de Berlusconi e Papadreou, substituídos por “tecnocratas” da troika, por coincidência ligados ao Goldman Sachs.

 

Na reunião de Dezembro começou com um showzinho prévio de Sarkozy, que saiu cantando que ali se refundaria a UE, que seria consolidada uma nova união, que combateria de forma conjunta a crise, sendo a base dela ajuste fiscal, mas combinada com a emissão de “Eurobônus”. Era a refundação. Nem bem começou a reunião novamente a Alemanha impôs a mais dura de todas as políticas da UE desde sua fundação, fez aprovar um projeto fiscal que tem como pena a exclusão automática de quem não cumprir as metas.

 

O pavão Sarkozy, que na semana aparecia como o refundador da UE, acabou sendo o porta-voz de Merkel, fazendo o trabalho sujo da quase expulsão da Inglaterra, interpelando duramente David Cameron, defendendo com unhas e dentes sua chefe, Merkel, assim resumindo: “Muito simplesmente, para aceitar a reforma do tratado aos 27 membros da UE, David Cameron pediu que achávamos que era inaceitável: um protocolo para exonerar o Reino Unido de regulamento dos serviços  financeiro”, disse Nicolas Sarkozy, o presidente francês. ”Nós não poderíamos aceitar isso como pelo menos parte dos problemas [Europa está a enfrentar] vieram deste setor.”

 

 

Hollande – o contraponto à Merkel

 

Hollande - O desafio à Merkel - Foto AFP


A situação começa a se alterar de forma significativa com a vitória socialista na França, Hollande, desde sempre se mostrou imbuído de não aceitar a Austeridade como saída de mão única aos países da Zona do Euro, nem os demais da UE. Contrapôs a isto, o Crescimento, como equilíbrio à política de ajuste. O confronto com Merkel se mostrou inevitável, estiveram juntos na Alemanha, logo após sua posse, não havendo acordo, depois na reunião do G8, mas a coisa se tornou intensa na reunião extraordinária da UE.

 

Espertamente, Hollande, resgatou os pontos de Durão Barroso, além de incluir o “Eurobônus” como eixo central, numa estratégia inteligente demais, isolou completamente Merkel, que ao final só encontrou eco de suas posições na Finlândia e Aústria, representados pela extrema-direita.  De prático não se tomou decisão alguma, mas a semente do discurso francês brotou rapidamente, encorajou que outros líderes assumissem nova postura. Como nos reporta o Estadão de hoje: “A pressão por um “salto de federalismo” na Europa cresceu ontem, um dia após mais uma cúpula de chefes de Estado e de governo que não resultou em medidas estruturais para enfrentar a crise europeia.

Os pedidos de maior integração foram liderados pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, para quem o bloco vive momento crucial de sua história. Entre as soluções mais defendidas estão a mutualização das dívidas futuras com a criação de “eurobônus”, medida defendida pela França”.

 

Aquilo que escrevemos na durante a semana francesa, pós-vitória de Hollande, resumida aqui ( Crise 2.0:Semana Francesa ) começa a tomar corpo, até antes do espera, como nos reporta o jornalista do Estadão de a liderança de Merke, efetivamente está em xeque pela :” emergência do presidente da França, François Hollande, que em sua primeira cúpula defendeu uma nova abordagem, mais estrutural, para combater a crise da zona do euro.

Durante a reunião, Hollande propôs uma série de medidas para aprofundar a integração da zona do euro, a começar pela mutualização das dívidas. A ação seria possível com a criação de títulos da dívida soberana garantidos por todos os países da zona do euro, os chamados “eurobônus”. Eles substituiriam parcial ou totalmente os títulos nacionais, cujas crises de credibilidade elevam a pressão sobre Grécia, Portugal, Itália e Espanha. Merkel, contrária à medida – porque a Alemanha teria de refinanciar seus títulos a uma taxa mais elevada do que atualmente -, se viu isolada em Bruxelas, contando apenas com apoio de países menos influentes, como Finlândia e Áustria.

Ao lado de Hollande, se posicionaram líderes como Mario Monti, primeiro-ministro da Itália, e David Cameron, do Reino Unido. Além deles, instituições como a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontaram nos últimos dias que a mutualização das dívidas é uma das saídas necessárias. “Os eurobônus, ao lado de garantias para a recapitalização dos bancos e dos bônus de projetos de infraestrutura, são necessidades”, afirmou o economista-chefe da OCDE, Pier Carlo Padoan. “Precisamos de medidas fortes.”

 

Para mim, a declaração mais significativa deste novo momento veio de Mario Draghi, Presidente do poderoso BCE, que pela primeira vez não se curvou diante de Merkel: “As medidas não convencionais de política monetária adotadas pelo BCE nos permitiram ganhar tempo e evitar o desmoronamento do sistema bancário que teria consequências graves sobre a produção e o desemprego”, disse, referindo-se ao empréstimo de € 1 trilhão concedido aos bancos europeus a juros subsidiados de 1%.

“Nós chegamos a um ponto no qual o processo de integração europeia precisa de um salto corajoso de imaginação política para poder continuar”, disse Draghi, falando em “momento crucial”. Para ele, “é preciso que os governos dos países-membros definam de forma conjunta e irreversível sua visão do que será a construção política e econômica que sustenta a moeda única”. (Estadão, 25/05/2012).

 

O confronto com Merkel, rendeu a Hollande bastante matérias na mídia europeia e sendo saudada como os novos tempos: As imagens da primeira cúpula da União Europeia desde a posse do novo presidente da França não deixam dúvidas: a era “Merkozy”, marcada pela estreita relação entre o ex-presidente Nicolas Sarkozy e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, acabou. Numa atitude simbólica, o novo chefe de Estado, François Hollande, cancelou a tradicional reunião bilateral entre o representante francês e a alemã, sem medo de demonstrar sua crescente insatisfação. Para o jornal Süddeutsche Zeitung, França e Alemanha estão “em rota de colisão”.

Para revista alemã Der Spiegel:” Hollande “roubou a cena” ao “desafiar” a chanceler. “Foi a primeira cúpula europeia em anos não dominada por Merkel.” Segundo a imprensa alemã, essa realidade lhe deixou em posição de força na Europa. Enquanto Merkel representa “o que está aí” – e não vem dando certo -, Hollande se apresenta como o homem cansado das coisas “como estão”. O resultado é que ele propõe novas ideias, como o eurobônus, constrangendo quem preferiria apostar apenas nas medidas em vigor”. ( Trechos do Estadão, citando jornais e Revistas, 25/05/2012)


A política hegemônica por parte de Merkel é questionada frontalmente, mas o poderio econômico alemão não se curvará com facilidade, provável que caminhem para um acordo, menos mal, se pensarmos que até a poucos meses Merkel se recusava até a ouvir, quanto mais negociar. Novos Tempos? Veremos e acompanhemos

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