385: 400 Portos

 

“Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.

Só quero torná-la grande ” (Fernando Pessoa)

 

Escrever é antes de tudo um ato de vida, de celebração dela, as letras que vão aparecendo e tornando sua existência mais rica e interessante. Iniciar este blog não foi tarefa fácil, os receios de que não se sustentasse, que fosse apenas uma empolgação momentânea, fez com que adiasse. O medo era tão grande que não conseguia rascunhar nada, mesmo tendo muita coisa escrita, principalmente resumos e comentários sobre livros, poderia ser o ponta pé inicial, mas tinha pavor em transportar para algo público.

 

Sem dúvida a vaidade de ser criticado, ou até ridicularizado pelo que viria a escrever, também foi outro fator para desanimar a iniciativa. Lia muitos blogs, me identificava, opinava nos comentários, percebia que poderia até falar melhor sobre determinados assuntos que achava que dominava, mas me faltava a coragem decisiva de começar. O primeiro passo que dei foi entrar no Twitter, por volta de julho de 2009, ali passei a conviver mais estreitamente com uma infinidade de blogueiros, isto me deu mais certeza, que era possível escrever um também.

 

Passei mais uns 4 meses maturando a ideia, pois vi que muitos blogs morriam cedo, me lembravam pequenas empresas, que abriam cheia de expectativas, em um ano, 80% fechavam, em 5 anos apenas 4% continuavam a funcionar. Bem, muitos blogs também tinham esta dinâmica, de começar, depois a coisa não durava mais que 2 ou 3 posts, como sou teimoso, não queria algo assim comigo, tinha em mente que, se fosse criar um blog, tinha que perdurar, teria determinação pelo menos para escrever uns 10 artigos.

 

Enfim, dia 23 de novembro de 2009, abri o blog com a este artigo: Primeiras Palavras, por uma boa coincidência comecei ali publicando uma música do MadreDeus, O Navio, bem não sei se intencional, mas é mais ou menos o que é este blog, um pequeno navio, no meio do mar, sujeito às tempestades, e como foram grandes nestes dois anos e meio, mas a nau continua a navegar, singrando parando em tantos portos que fui descobrindo mês a mês, tornando o blog um pouco melhor, mais interessante, pelo menos para mim, que é o que mais importa.

 

A evolução do blog foi natural, me lembro que ao ler um livro sempre é difícil chegar na página 100, parece um marco, depois fica mais fácil, aqui para chegar ao post 100 passe 1 ano e meio, exatamente em maio de 2011, publiquei, sem perceber aquela que era a centésima postagem: Crônicas do Japão XIII: Miyajima, fé e poesia. Mais outra feliz coincidência, estava escrevendo sobre o Japão, minhas aventuras naquele país, coisa de 16 anos atrás, justamente o post 100 me lembra a bela ilha de Miyajima, minha Nau, ali aportou e me encheu de fé e poesia.

 

Agora um ano depois chego ao post 400, um número grande, incrível, quase inacreditável, mas aqui estamos, as mudanças foram enormes, desde o primeiro, mais ainda desde o centésimo, a maturidade e a forma de escrever se tornou mais simples e rápida. Os textos começam a brotar com facilidade, o prazer de realizar este blog aumentou sensivelmente. Tem sido o lugar que desafoguei todos a sorte de males que tenho enfrentado, mas não trago para cá, ódios ou mágoas, mas reflexão de um ser, muitas vezes atormentados pelas dores.

 

Mas continuo a navegar, nunca a frase dos antigos,  do General Pompeu, tornada imortal por Fernando Pessoa, caiu também para definir este espaço: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Mais significado ganha quando se ler todo o poema, que tanto bate com meu atual estado de espírito:

Navegar é preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: 
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.

Quero para mim o espírito [d]esta frase, 
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar. 
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. 
Só quero torná-la grande, 
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; 
ainda que para isso tenha de a perder como minha. 
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue 
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir 
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=iqb6rNUwvtg[/youtube]

 

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0 thoughts on “385: 400 Portos”

  1. Bom para nós,seus leitores que vc não recuou na intenção de começar este rio de águas frescas, às vezes turbulentas ,mas q nos incitam a reflexão, muitas vezes a emoção que marejam os olhos.. Parabéns ,amigo pelo sucesso da empreitada ! que venham os próximos 400!!!Abração !!

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