Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Austeridade(As Fúrias)

336: Crise 2.0: Austeridade(As Fúrias)

 

As Erínias(Fúrias) atacam Orestes - William-Adolphe Bougereau(1862)

 

Nestes debates sobre a Crise 2.0, tema recorrente sem dúvida é a questão da Austeridade, sempre, em qualquer lugar do mundo o velho discurso liberal que atribui a falta de Austeridade levou país tal a falência, ou outro à dificuldade, então sacam da cartola, antes era só FMI, com seus Chicago’s Boys, agora também a Troika ( Comissão Europeia, BCE e olhem só – FMI). Estes agentes, as Erinias(Fúrias) modernas, saem a perseguir os países pecadores.

 

Lembremos dos anos 80 e 90 o papel nefasto do FMI e do Clube de Paris que deixavam em polvorosa a América Latina, com suas “missões”, que eram recebidas com medo, receio pelos Presidentes, BCs e Ministros das Finanças. Vinham auditar e impor mais sacrifícios aos países já em situações de penúrias, era a suprema humilhação, falta de soberania absurda. Os últimos que aqui, no Brasil, aportaram falando grosso foi durante o mandato de FHC, pois este governo várias vezes foi com pires na mão pedir ajuda ao FMI. É uma triste lembrança, que, espero, jamais se repita.

 

Mas na Europa, em particular na Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal estes agentes, quase mitológicos, que por uma incrível coincidência, as Erínias(Fúrias) são três: Aleto, Tisífone e Megera, como são três a Troika , que, ao visitar, apavoram os aparvalhados governos locais. A cada visita que faziam à Grécia, o parlamento se reunia, eram recebidos pelo Primeiro-Ministro, pelo BC local, todos pedindo desculpas por qualquer falha. Mas, não satisfeitos, impuseram O tecnocrata PapaDEMos no governo.

 

Esta situação se repete em Portugal, Espanha e Irlanda, as “missões” são recebidas com temor desmedido, não há sombra de homens e de soberania nestes países, os governos submissos só dizem AMÉM, pedem perdão pelos erros, que não sejam punidos pelas Erínias modernas. Invariavelmente a palavra de ordem destes agentes é a mesma: Austeridade. Que traduzindo significa – mais sacrifícios, mais medidas duras contra a população que já paga uma imensa dívida do desemprego, da desesperança, perda de aposentadorias e expectativa de vida.

 

Os economistas de várias matizes já chegaram a mesma conclusão: Austeridade não resolve, ao contrário, piora muito a situação econômica de países em crise. Leiamos o que nos diz Paul Krugman, talvez o maior crítico dos planos de austeridades:

“Os resultados eleitorais recentes na Europa parecem ter elevado a consciência de uma maneira que literalmente anos de dados econômicos não conseguiram: a doutrina da austeridade que regeu a polícia europeia é um grande fiasco”.

(…)

“Essa coisa de austeridade foi inventada do nada e de alguns exemplos históricos duvidosos para servir os preconceitos da elite. E agora os resultados são que os keynesianos estavam totalmente certos, e os “austerianos” totalmente errados – com enorme custo humano.

Gostaria de poder acreditar que isso realmente seria suficiente para prosseguirmos e analisarmos o que pode ser feito, agora que sabemos que as ideias por trás da política recente estavam todas erradas. Mas isso é otimismo injustificado, imagino. Ninguém admite que esteve errado, e as ideias “austerianas” têm um  claro apelo político e emocional à prova de qualquer evidência”. (25/04/2012 NYT)

(Num artigo mais de fundo, ainda em 1/6/2010 Krugman já alertava para o fracasso Myths of Austerity )

 

Celso Ming ainda insiste que não há outra saída, senão a velha Austeridade, mas não afirma com tanta convicção:

Economistas de renome, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, também avisam que são terapias que, além de exigir enorme sacrifício da população, impedem o crescimento, causam desemprego e agravam a crise.

 

Ele, porém dá os números da Crise:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entretanto, Celso Ming,  volta a defender a Austeridade como única saída:

“Hoje é a própria Alemanha quem mais impõe sacrifícios aos demais sócios do bloco do euro. Ou seja, a receita prevalecente são cortes orçamentários, aumento da arrecadação e reformas que reduzam salários e aposentadorias.

Por maiores e mais disseminados que sejam os protestos e as recomendações em contrário de consagrados economistas, ainda está para aparecer quem aponte saída melhor. O problema não é só o tamanho da dívida da maioria dos países da área do euro. É o rombo orçamentário anual, alto demais, de quase todos (veja a tabela). Ou seja, as dívidas sobem todos os anos em relação ao PIB, a menos que cresçam menos do que o PIB”.

 

Ora, estamos diante do pensamento da Troika em estado bruto, como não acham solução melhor, vamos continuar apostando no que conhecemos, mesmo sabendo que não dá tão certo. Mas aí se valem que na Alemanha “deu certo”, uma mentira, escamoteada, por um fato fundamental:  Alemanha, tem padrão produtivo elevado, alta tecnologia, exporta capital, seu ajuste se deu quando havia afluxo de muito capital, exatamente o oposto de hoje.

 

Só sobrou ao Capital, através de sua longa manus ,  a Troika, ou melhor, as Erínias ( Fúrias), perseguir os mais pobres, impor sua: Austeridade. Que só serve aos trabalhadores, pois os ricos recebem, sempre, mais capital do BCE e do FED.

 

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0 thoughts on “336: Crise 2.0: Austeridade(As Fúrias)”

  1. Como sempre uma análise profunda e crítica. Adoro o fato de você envolver a mitologia em seus posts e como disse, são sempre os mortais (povo) que vão sofrer com as decisões dos semi-deuses(classe dominante).

  2. É, Arnóbio, o que vemos aí é a criação do ‘estado do bem estar social dos bancos e da banca financeira’ em detrimento do bem estar social do povo! Lamentável!

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