Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Dilma nos EUA

312: Crise 2.0: Dilma nos EUA

 

 

Dilma Obama EUA

REUTERS/Kevin Lamarque

 

 

Alguns amigos que leem esta série Crise 2. 0 reclamam de pouco falo sobre o Brasil, como se ele não fizesse parte do mundo em Crise. Em parte é verdade, realmente não falei do Brasil, muita vezes, para não entrar no oba-oba da disputa conjuntural e mais ainda porque o eixo da Crise não passa aqui, ao contrário, parte da solução, sim, tem o Brasil, ou melhor, os BRICS como solução.

 

Mais recentemente tratei da questão do Brasil no ambiente da Crise por um fato concreto: Dilma passou, desde de janeiro, a ser a figura de proa no debate dos rumos da economia mundial. Depois de um ano “caseira”, A Presidenta fez três importantíssimas viagens: Alemanha, Índia e aos EUA. A sua presença no centro do debate mundial sobre a Crise mereceram os seguintes posts:

  1. Crise 2.0: Questões do Brasil
  2. Crise 2.0: Momento Brasil
  3. Crise 2.0: Tsunami Monetária

 

Dilma vocaliza o desejo dos países em desenvolvimento de que mais uma vez não sejam usados na solução da crise, a atual política dos BC do EUA e da UE de expansão de suas Bases Monetárias, causa um amplo desequilíbrio nas contas dos países que com eles comercializam. Dólar e Euro, artificialmente, desvalorizados, por emissão de moedas, torna a competição, frente aos produtos destas economias, extremamente desfavorável. EUA e UE além do peso tecnológico, agora com moedas desvalorizadas, levam amplas vantagens, as economias de países como Brasil, Índia passam a experimentar déficits comerciais e processo de desindustrialização. As próprias contas públicas sofrem abalo com suas moedas valorizadas artificialmente.

 

Dilma nos EUA e a Política Econômica

 

A tese levantada por Dilma e pelos BRICS, para variar é atacada pelos ideólogos do Capital, os mais atávicos são inclusive os brasileiros, que mesmo o mundo neoliberal tendo ruido eles continuam na mesma cantilena. Um dos que mais respeito, mas que divirjo sempre, Celso Ming, nos brinda com sua defesa dos EUA e UE, atacando Dilma, dizendo que esta errada, no seu artigo “Alvo Errado”, de 11 de abril de 2012, Estadão, ele expõe a tese, nestas palavras:

 

“Em sua viagem aos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff insistiu em que o governo dos Estados Unidos passasse a praticar políticas monetárias responsáveis e parasse de tomar decisões unilaterais que prejudicam o resto do mundo, especialmente os vizinhos mais próximos.

A crítica vem sendo repetida há alguns meses. Dilma se queixa de que os países de economia avançada, sobretudo os Estados Unidos e os da área do euro, emitem moeda aos trilhões e que parte dessa dinheirama provoca tsunamis monetários nos países emergentes, entre os quais o Brasil. Ou seja, a acusação é de que a enorme liquidez internacional causada por essas grandes emissões provoca afluxo de moeda estrangeira nos emergentes, o que, por sua vez, leva, pela lei da oferta e da procura de moeda, à baixa da cotação do dólar (valorização da moeda nacional) – fator que tira competitividade do setor produtivo brasileiro”.

 

Aí o velho neoliberal ataca dizendo que Dilma comete três equívocos :

O primeiro consiste em dirigir essas críticas a alvos errados: os governos dos países ricos. A política monetária (emissão de moeda) é de responsabilidade dos bancos centrais, não dos governos.

 

Ora, isto é de um cinismo atroz, dizer que os BCs( FED e BCE) não faz política de governo, mas Ming diz mais

“Não se pode exigir que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ou a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, respondam pelo efeito denunciado por Dilma. Seria como cobrar do governo americano sentenças eventualmente equivocadas pronunciadas pelo Judiciário dos Estados Unidos sobre imigração ou outros assuntos que direta ou indiretamente atingissem brasileiros.

Isto é, ainda que a influência dos chefes de governo seja forte, os bancos centrais são tão autônomos quanto o Poder Judiciário nas mais importantes democracias”.

 

Uma evidente mentira, óbvio que Obama e Merkel determinam a política dos seus BCs, só uma “fantasia erótica” dos liberais achar que estes órgãos agem por moto-próprio, jamais, todos eles são extremamente vinculados aos desígnios do país, a autonomia é relativa. E o mais grosseiro compara decisões de BC ao Judiciário.

 

Mas não satisfeito faz uma apaixonada defesa dos “patrões” do norte: “Em segundo lugar, não dá para exigir coordenação global de políticas monetárias. Presidentes dos grandes bancos centrais mal conseguem apagar os incêndios que tomaram suas economias. Não podem cuidar dos efeitos colaterais que extravasam para outros paralelos do mapa-múndi”.

 

E vai mais além na defesa dos interesses dos EUA e UE: “Bernanke avisou que a política monetária expansionista do Fed tem como objetivo neutralizar a crise e que, do ponto de vista do interesse dos emergentes, é melhor enfrentar um afluxo de capitais num mercado global com crise controlada do que enfrentar uma crise global mesmo sem afluxo de capitais.

 

Por fim ataca a política do Governo Dilma no seu terceiro ponto : “Isso sugere que tanto a teoria do tsunami monetário como a da guerra cambial parecem usadas mais como justificativas para políticas tomadas internamente do que como molas propulsoras de mudanças na administração das grandes economias.

 

Celso Ming é um dos mais honestos no debate econômico, mas jamais nega sobre o que pensa, imaginem os outros neoliberais mais babões, que nem preparo teórico têm? ( vide o Post Economistas ou humoristas ). O debate, como observa bem meu amigo Sergio Rauber, é a questão da expansão da Base Monetária, quais os efeitos dela no mundo, mais ainda se o Brasil também pode promover sua QE? Os efeitos concentradores e inflacionários, podem ser combatidos com um ambicioso projeto de transferência de renda? intensificar Renda Mínima?

 

Este é o eixo das saídas da Crise, os EUA já pegaram seu rumo de retomada, a UE ainda está cambaleante, os BRICS podem e devem ser o novo ator, então precisa tensiona
r, debater o que quer no mundo. Dilma como uma porta-voz qualificada dele cumpre muito bem seu papel. A importância que o Brasil tem no mundo deve ser acompanhada de liderança e ousadia, desde Lula, é o que mais fez. Dilma reafirma este caminho.

 

Jornalismo de fofoca e desinformado

 

Viajar mostrar a cara e agir. Mais um gol esta visita, a despeito das bobagens que a mídia local diz, como Catanhêde, que ontem disse que Dilma não foi assunto nos EUA, prontamente desmentida por Jorge Pontual, seu colega de GloboNews, que disse: Em 16 anos que vivo nos EUA, foi a maior cobertura que um Presidente do Brasil teve. Preciso dizer mais alguma coisa?

 


 

 

 

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0 thoughts on “312: Crise 2.0: Dilma nos EUA”

  1. O jornalismo econômico de Celso Ming não convence nem as mais inocentes donas de casa e sua fala de que “política monetária (emissão de moeda) é de responsabilidade dos bancos centrais, não dos governos” é tão surreal que me me faz perguntar: de que água bebem esses nossos acadêmicos?

  2. Olá, Arnobio!
    Alguém disse que jornalismo econômico não é nem uma coisa nem outra. Encaixe o Celso Ming. Dilma tem razão. Despejaram bilhões na Europa para manter a tal credibilidade das instituições financeiras frente à crise. Não resolve. O povo quer produzir pelo país com esse dinheiro. Mas é o liberalismo. O deus mercado manda! Quem sabe um dia eles leiam Amartya Sen.
    Abraços

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