Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: O massacre do povo grego

240: Crise 2.0: O massacre do povo grego

 

 

(Gustave Doré)
“Cometeste, Eva, insana, um crime enorme;
Contra ti provocaste um mal imenso
Por sentença infalível destinado;
Fora delito grande ousar com a vista
O sacro fruto cobiçar somente”;
(Paraíso Perdido – John Milton)

 

 

Meu amigo Luis Nassif escreveu hoje uma artigo muito esclarecedor sobre a questão Grega, tema que temos esmiunçado na série Crise 2.0 ,mas sempre colhemos novos enfoque para que tenhamos uma visão mais ampla do Caos que se instalou no país, na sua economia e principalmente sobre o povo grego. O título é forte e revelador: “O massacre do povo grego”.

Leiamos o que nos diz o mestre Nassif, tenho pouco à acrescentar, os posts anteriores e clareza do pensamento dele falam por si:

 

“Grécia está sendo submetida a um massacre.

Ontem foi divulgado o PIB do quarto trimestre de 2011, com uma queda de 7%; no terceiro trimestre a queda foi de 5%. Em 2009 e 2010, o PIB já havia caído 3,2% e 3,5% respectivamente”.


Hoje saiu uma projeção do site Bloomberg de que a queda do PIB grego em 2011 chegará aos incríveis 6,8%, com uma observação cáustica: “a queda do PIB foi agravada pelos pacotes receitados pela Troika”. Voltemos ao Nassif, ele vai desvendar de onde partiu o rombo e quem são os beneficiários dele:

 

“O drama grego reside em uma relação dívida/PIB da ordem de 140% e um déficit público da ordem de 8%. Desse total, apenas 1,3% se referem ao déficit primário – receitas menos despesas. O restante é juros e amortização, de empréstimos de grandes bancos internacionais que arriscaram, ganharam durante algum tempo e, agora, não querem pagar a conta.

Sua imprudência vinha da convicção de que, em qualquer hipótese, a Grécia seria bancada pela União Europeia ou pelo FMI. Ora a um ganho maior corresponde um risco maior”.

 

Aqui ele demonstra passo-a-passo o desenrolar da crise e pacotes, sempre beneficiando os banqueiros e empurrando ao povo à conta:

“Mas desde a eclosão da dívida, vem-se tratando a questão grega de maneira a minimizar o máximo o prejuízo do chamado grande capital.

O primeiro pacote de ajuda foi de 110 bilhões de euros, com participação do FMI e da União Europeia. Foi negociado um segundo pacote de 109 bilhões de euros, até se constatar que não haveria meio de resolver a questão da dívida sem descontos.

Em uma primeira rodada o desconto foi de 21% do valor presente do endividamento público, insuficiente para equacionar a dívida..

Em agosto do ano passado, a OCDE (conjunto das economias mais desenvolvidas do mundo) lançou um estudo sobre a situação econômica da Grécia.

O estudo dizia que “a Grécia lançou um ambicioso programa de ajuste para lidar com a profunda  crise econômica, restaurando a sustentabilidade das finanças públicas, competitividade e os fundamentos para saudável e sólido crescimento a longo prazo”.

É um estudo indecente no qual, para gerar ganhos capazes de equacionar a dívida, propõe-se reduzir os benefícios previdenciários, aumentar oportunidades de trabalho para velhos e crianças, precarizar o emprego restringir gastos com saúde, reduzir substancialmente o salário mínimo”.

 

Por fim a firme conclusão, em linha do que já fazíamos em outros artigos desta série:

 

“O que está fórmula conseguiu, de um lado, foi uma queda de 7% do PIB – e mais do que isso na arrecadação fiscal. A não ser que queiram encarcerar todos os gregos, é impossível um corte de despesas que compense queda tão acentuada do PIB. E se conseguir compensar, haverá nova queda no PIB, maior ainda.

Nenhuma nação, nenhum conjunto de países se sustenta sem a solidariedade advinda de relações ética do governante com sua população. Hoje em dia, mais do que em qualquer época, a Internet trouxe uma transparência inédita nas informações e nas relações de poder.Qualquer cidadão global, medianamente informado, sabe que a crise grega é fruto da cumplicidade de governantes corruptos com bancos imprudentes e investidores ambiciosos.O ponto de partida para o equacionamento do caso grego tem que ser essa identificação de responsabilidades. Caso contrário, significará jogar a União Europeia de volta à era de barbárie do pré-Segunda Guerra”.

 

A expulsão do Paraíso



(Gustave Doré)

O Estadão de hoje nos diz que se trama na Europa a expulsão do paraíso dos pródigos gregos, um trabalho de um grupo de economistas estudando como fazer para expulsar a Grécia e restringir os danos:

“Segundo o Estado apurou, economistas e assessores legais trabalharam de forma incansável nos últimos três meses para montar um esquema que permitisse o menor impacto possível no bloco com a saída da Grécia. O plano B, batizado de “Controle de Danos”, foi alvo de intensos debates entre os negociadores dos diversos governos. O esquema inclui, acima de tudo, injetar bilhões de euros nos bancos para garantir liquidez. A estratégia ainda contaria com a ação do Banco Central Europeu (BCE) para comprar uma parte substancial da dívida de Itália, Espanha, Portugal e Irlanda, países que estariam na linha de frente de um contágio do calote grego.

A atuação da UE seguiu a mesma linha de multinacionais, bancos e setor privado que, diante do risco de um calote grego, começaram a desenhar estratégias de sobrevivência”. (Estadão, 15/02/2012)

 

Talvez John Milton nos ensine como os humanos pecadores foram expulsos do Jardim do Éden, assim como os gregos hoje são da União Europeia, tratados como torpes pecadores.

 


 

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