Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: “Refundar” a Europa (Post 159 – 113/2011)

Crise 2.0: “Refundar” a Europa (Post 159 – 113/2011)

 

 

 

Neste desenrolar da Crise 2. 0 muitas verdades inconfessáveis tornam-se publica, algumas inconfidências, que habitavam apenas as pequenas rodas, agora são ditas sem meias palavras. Deveríamos guardar em algum lugar uma série destas frases para nunca esquecermos, no futuro, como esta gente empolada, perde a compostura no desespero.

Figura ímpar nesta “sinceridade” tem sido o pequeno Sarkozy, sua truculência verbal, sua postura de fiel acólito da Senhora Merkel já produziu alguns bons incidentes, basta lembrarmos o que disse sobre a Grécia: “foi um grave erro deixar os gregos aderirem à Zona do Euro”. Ou a reprimenda clássica em Berlusconi na cúpula europeia, quando lhe fulminou: “Estamos fartos de suas mentiras perante esta cúpula, assume compromissos, mas os esquece quando chega a Roma”.

O balé encenado pela primeira bailarina, Merkel, e seu par menor, Sarkozy,  é dos mais conhecidos, algumas vezes parecem não estarem no mesmo palco, mas raramente deixam de sincronizar seus corpos. A iluminação, como é própria deste espetáculo, varia quando cada um dança, mas juntos em gran finale, representaram sua morte do cisne.

Refundar a Europa

Eis que Sarkozy em plena campanha eleitoral, não totalmente aberta, volta a Toulon, conclama toda mídia para suas últimas declarações bombásticas, já iniciando com a necessidade de “refundar” a Europa, mas não qualquer uma, esta refundação,segundo sua palavras será aquela em que a França fará “todo o possível para que a França e a Alemanha sejam um polo de unidade”.

Foi mais além e disse que a crise do euro “uma crise de credibilidade” e “de confiança”. E a questão grega foi bem particular e que é “preciso que fique claro que o que houve com a Grécia aconteceu em um contexto muito particular e que não se repetirá mais”.

Empolgado o Senhor Sarkozy, lançou bases (ou apenas serviu de escada para Merkel?) do que seria a “nova Europa”

1) BCE é “um organismo independente e continuará sendo (…) e atuará contra as ameaças da crise da dívida na Europa”;

2) Fim da proteção social: Não podemos financiar nossa proteção social como antes, com cotações salariais quando as fronteiras são mais abertas e temos que enfrentar a competência de outros países com baixos salários”.

Mas a primeira bailarina, Senhora Merkel, virtualmente em outro palco, troca olhares e passos com seu coadjuvante, ela cortesmente deu-lhe a chance de brilhar por alguns instastes, mas entra triunfal. Apresenta seu número por inteiro, com dose cavalares de realidade, direto do parlamento Alemão, a real cada de poder na Europa, Merkel, deu a receita

1)      “união fiscal”- os países europeus estão prontos para cria uma “União Fiscal” com uma supervisão rigorosa (Alemã??) para enfrentar a crise da dívida. Em suas palavras: “Não estamos falando apenas de união fiscal, nós estamos começando a criá-la”, Merkel, avança ainda dizendo que  a união orçamentária terá “regras estritas, ao menos para a Eurozona”. E que “O elemento central desta união da estabilidade, buscada pela Alemanha, será um novo teto de endividamento europeu”.

2)     Zona do Euro e crise – Foi bem clara ao afirmar “Não há mais alternativa que uma mudança dos tratados”, e não aceita “eurobônus” como remédio para a crise: “Quem não entende que os eurobônus não podem ser a solução da crise não compreende nada da natureza do problema”.

Chega a ser patética a tentativa de Sarkozy para se associar a Alemanha, suas juras de amor e confiança de que “com Alemanha e França unidas, toda a Europa estará unida e forte”. De repente bate uma lembrança sobre o que são franceses e alemães, então ele concede: “cada um sua história, suas feridas e que é preciso respeitá-las”(…) .”França e Alemanha optaram pela convergência, mas isso não quer dizer que teremos que renunciar a nossa identidade”.

O que no fundo demonstra é que a França e toda Europa prestam vassalagem a Alemanha, prova cabal é que nada hoje se faz lá sem que Merkel lhe dê aval. Com toda crise rondando a país a país a Alemanha segue cada dia mais sugando as economias dos outros países da Zona do Euro.

Aquilo que se falava a boca pequena começa a tomar forma, a União Europeia pode se consolidar, como uma confederação de Estados que giram em torno de Berlim, nem Hitler em sonho imaginou isto. A questão agora é: Será pacífico este caminho?

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0 thoughts on “Crise 2.0: “Refundar” a Europa (Post 159 – 113/2011)”

  1. Following up!

    O grande problema com análises conjunturais é a quantidade de categorias que tomamos como “dadas”. Isto é, como postas e recebidas como verdades absolutas e que não merecem ser discutidas. É quase sempre esta condição que não permite vislumbrar o futuro senão como algo hipotético, provável, possível, incerto e inseguro.

    Poderíamos passar horas, compa, discutindo a “flexa do tempo” nas pegadas de Prigogine e nos modos da percepção da teoria dos sistemas como formas de entropia.

    Antes de entrar no comentário do post, gostaria de te chamar a atenção para um dos “dados” do problema. Farei isso na forma de uma metáfora do que chamarei de “governing rule” ou “medida da realidade”.

    Para os clássicos, cuja produção e cultura já manisfestou apreço, a medida da realidade era um conceito – que hoje nos parece um tanto vago, a vida. Para os antigos, não há pólis, não há ágora, não Odisséia que se desenvolva sem uma profunda relação com esta abstração chamada vida. É o tempo da vida que governa todas as relações, inclusive as de produção. Para os modernos, que ouso datar ao “descobrimento” da América e a aventura de Cristóbal, a medida da realidade não é mais o tempo da vida, mas a obsessão pelo tempo do espaço. Controlar a imensidão que fracionou o reino de Alexandre e o império de Roma. Na pós-modernidade, a medida da realidade tudo ficou reduzido ao tempo. A hegemonia está no interior do domínio não meramente intelectual, mas concreto do tempo.

    Se o tempo da vida dos antigos é uma percepção coletiva, decalcada do próprio movimento da natureza, o tempo do moderno é um desdobramento desta potência. A obsessão pelo tempo do espaço é suplantada pelas formas de ação do homem sobre a natureza. Já o tempo dos pós-modernos, tendo o império do domínio da ação sobre a natureza, transforma-se numa apreensão subjetiva e individual. Controlar o tempo passou a ser dominar o homem, submetê-lo ao seu império.

    Quando Merkel e Sarko falam de uma união fiscal, em minha opinião, menos do que significar a fundação de um Estados Unidos da Europa, refere-se a um profundo deslocamento do centro de controle do tempo e de sua percepção. Na prática, com TGV’s, aviões e telecom’s os espaços geográficos deixaram de ser realmente importantes. Creio que o Merkel e Sarko pretendem determinar é o domínio dos meios e modos de produção.

    Nesse sentido, tudo é menos economia e mais logística. Uma união fiscal pressupõe um orçamento unificado e não acredito que nem alemães, tampouco franceses queiram estender a sua concepção de direitos sociais a um Estados Unidos da Europa, a menos que estejam dispostos a abrir mão de conquistas temporais.

    Acho que a leitura de alguns conceitos de dromologia (velocidade) nos ajudariam a por mais luzes sobre esta questão.

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