Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Presente Grego (Post 146 – 100/2011)

147: Crise 2.0: Presente Grego (Post 146 – 100/2011)

 

 

“Me apavoro com o estrondo das armas

que aos gritos se aproximam da minha terra” (Os Sete contra Tebas – Ésquilo)

 

Escrevi na semana passada sobre o Crise 2. 0: Heroico povo grego, de como resistiu a invasão persa, comanda pelo glorioso Xerxes e seu imenso exército, o General Leônidas atrapalhou o seu caminho pelo estreito de Termópilas, com apenas 300 homens de sua guarda pessoal.

Mas este mítico povo, nossos pais da cultura, que tanto nos legou e de bom grado nos deu, acha-se, mais uma vez, numa situação limite, iguais as de duas famosas tragédias: Aceitar a “ajuda” dos “blindados” Alemães e Franceses, perdendo o que já não mais têm, ou resistir-lhe com alguma honra eis o mote destes fados adversos, a este povo que enfrentou/enfrenta tantas provações.

Finalmente a mídia brasileira descobriu a Crise 2.0 e seu ponto mais crítico, a questão Grega, justiça seja feita, o Estado de S. Paulo faz uma ampla cobertura pelo menos desde abril, e Celso Ming tem produzido excelentes colunas de analises (concordemos ou não com ele). Os jornalões dão, desde domingo amplas manchetes, sobre o que acontece no velho mundo, mas para variar, além de chegarem atrasados, noticiam pela ótica dos “vencedores”. As informações publicadas com aquela quantidade de em “off” típica de quem não tem contatos reais com os atores verdadeiros do embate.

Mais ainda a velha mídia brasileira, mostrando sempre o seu pior enfoque servil, publica as maledicências proferidas por autoridades raivosas contra os mais fracos, por exemplo, A Senhora Angela Merkel dizer que a Grécia “manipulava” seus números da economia há muito tempo, perguntou Eu: Os alemães não o fazem?. Outra, as ameaças do desesperado Sarkozy que no seu nanismo político, com grande risco de perder a eleição francesa, fala grosso com os gregos: “Ou aceitam o pacote, ou não damos mais ajuda alguma”.

Plebiscito ou Ruptura

 

 

A última e arriscada jogada política de Geoge Papandreou, o fraco primier Grego foi lançar a idéia de um plebiscito para que o povo descida sobre se aceita ou não o “pacote de ajuda”. Aparentemente esta medida pode nem prosperar no parlamento grego, que pode negar o referendo e ainda por abaixo o governo atual, mas só a circulação da possibilidade criou um furor nas bolsas de valores de todo o mundo, caindo em mais de 5% em Paris e Frankfurt, as ações dos bancos franceses e alemães queda de 10 a 12%, não por mera coincidência os mais prejudicados pela crise grega em particular. Hoje 66% de toda dívida grega está concentrada nos bancos dos dois países: 39% franceses e 27% alemães.  Por debaixo do pacote de perdão de 50% da dívida grega, está a possibilidade de capitalizar estes bancos com os recursos do Fundo Europeu, esta sim é a questão de fundo.

Num delicioso artigo de Gilles Lapouge, no Estadão de Quarta, dia 02 de novembro, ele escreve sobre o que dizem as vozes numerosas: “compreendemos perfeitamente os gregos. Sarkozy e Merkel vão salvá-los, sem dúvida, mas também obrigarão a tomar cada remédio amargo, que no dia em que se curarem, eles estarão mortos”.

A situação é terrível, sem receber os 8 bilhões de Euros a Grécia para de vez em meados de novembro, os riscos de lançar sua própria moeda frente ao Euro pode ser catastrófico, mas basta lembrar que a Argentina chegou ao limite em 2001, com a diferença que o Brasil lhe deu a mão, o que não parece o cenário grego. Dia 1º houve uma ampla troca na cúpula das forças militares gregas, que estão divididas, mas com risco de golpe ou guerra civil.

A questão grega se complica por algumas razões fortes:

1) Eleições gerais francesas que podem derrotar o arremedo de estadista o “pequeno” Sarkozy;

2) Eleições Alemãs que ameaçam a solidez de Merkel;

3) Os bancos franceses e alemães estão com saúde comprometida;

4) O default Grego pode ter efeito em cadeia com: Portugal, Espanha, Irlanda e principalmente coma Itália.

O artigo de Paul Krugman “O crepúsculo do Euro”, no Estadão, é lapidar e merece ser lido na íntegra:

“As coisas estão se desmanchando na Europa; o centro não está segurando. Papandreou vai realizar um referendo; o voto será não. Bônus italiano de 10 anos a 6,29%; este é um nível em que o custo de rolar a dívida existente forçará um default, apesar de a Itália ter um superávit primário. E com todos buscando simultaneamente a austeridade fiscal, uma recessão parece quase certa, agravando todos os problemas do continente.

Venho mapeando esse desastre de trem há uns dois anos, e estou me sentindo exausto demais para retraçá-lo neste momento. Digamos apenas que o euro foi uma ideia inerentemente falha que só pode funcionar com uma economia europeia forte e um grau significativo de inflação, mais crédito ilimitado a dívidas soberanas que enfrentam ataques especulativos. Mas as elites europeias abraçaram a noção de economias como peças morais, impondo austeridade a torto e a direito, endurecendo o crédito apesar da inflação subjacente baixa, e estiveram preocupadas demais com a punição dos pecadores para notar que tudo ia explodir sem um emprestador efetivo em último recurso.

A questão que estou tentando responder agora é como o ato final será encenado. A essa altura, eu suporia taxas crescentes sobre a dívida italiana provocando uma corrida gigantesca aos bancos, tanto por temores com a solvência de bancos italianos em caso de calote, como pelo medo de que a Itália acabe saindo do euro. Isso leva então a um fechamento de emergência dos bancos, e quando isso ocorrer, uma decisão de abandonar o euro e instalar a nova lira. Próxima parada, França.

Isso tudo soa apocalíptico e irreal. Mas como essa situação vai supostamente vai se resolver? O único caminho que eu vejo para evitar algo assim envolve o Banco Central Europeu mudar totalmente seu enfoque, e rápido.

Afora isso, sr. Draghi, está gostando de seu novo emprego?”

Concordo na íntegra com o que ele escreve, um atento amigo, que chegou semana passada de uma longa viagem de negócios, por vários países europeus, me disse: “Velho, aquilo virou um barril de pólvora, que pode explodir em qualquer momento, está degringolado, governos, estado, desemprego gigante e falta de perspectiva: vai dar uma guerra civil”

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0 thoughts on “147: Crise 2.0: Presente Grego (Post 146 – 100/2011)”

  1. Sarkozy e Merkel são medíocres, fazem exercícios distintos falando grosso para a Grécia e fazendo todos os tipos de concessão conservadora dentro de seus territórios. De fato Celso Ming é um dos sobreviventes neste mar de lama da mídia. Lúcido e rigoroso.

  2. Arnóbio,

    Um dia o povo comerá os banqueiros. Será ?

    Mas que o gesto da estátua representa o meu pensamento em relação a isso tudo, não tenha dúvida.

    Abreço

  3. Excelente análise.
    Merkozy [Merkel + Sarkozy] representam de modo contundente
    o que já houve de mais ignóbil na política européia, mas não estão sós.
    As ameaças de Durão Barroso enchem de vergonha os portugueses progressistas
    e os há.

    A óptica mais interessante para acompanhar o processo grego
    é a dos espanhóis e italianos.
    Os primeiros porque estão confrontados com o vazio político nas eleições
    de 20/11 e diante da perspectiva trágica e amarga do retorno do Conservadorismo nas cores do PP, que já anuncia suas medidas fascistas.
    Do outro lado o PSOE que não honrou seus votos, a tal ponto que a militância denomina o pleito como PPSOE, igualando-os. Na raiz disso: a BANCA, que como em toda Europa sangra o povo para lucrar ainda mais.
    Quanto aos italianos, Berlusconi finalmente perde terreno na sua coalizão de direita, mas a Italia ainda não vê nenhum caminho para escapar às armadilhas por ele preparadas no futuro.

    Seja qual for o desfecho grego, a chamada EUROZONA desmancha a olhos vistos
    e é mais do que justo que a banca francesa e alemã,
    que lucraram pornograficamente com a desgraça de todos,
    também se desmanche.

  4. Perfeita a análise do Krugman, hein? A “punição dos pecadores” sempre foi imposta com empáfia e desprezo, e agora os “pecadores” assombram seus algozes.

    A Turquia que fique esperta e pare de fazer concessões para entrar nesse “clube da luta” que só aposta em derrota. Seu amigo está certo. Europeu é velho de guerra, pode mesmo apelar ao “estrondo das armas”.

    E quando a gente pensa que não pode piorar lê o excelente comentário da Beattrice. Então a gente senta e chora.

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