Arnobio Rocha Literatura Influências Literárias (Post 112 – 66/2011)

113: Influências Literárias (Post 112 – 66/2011)

 

 

 

Primeiras Letras

Quase sempre, ao escrever, lembro-me das minhas fontes, ou de como cheguei a tal autor ou determinada obra, ou por muitas vezes até situações prosaicas de como cheguei a determinado livro, hoje vou relembrar algumas destas histórias e homenagear meus mestres e guias.

A primeira grande referência literária que tive foi Monteiro Lobato, mas isto eu já escrevi um post lembrando dele, mas, o que não falei é como cheguei a ele. Pois bem morava, no interior do Ceará, a cidade é Bela Cruz, muito longe de Fortaleza, contava não mais que sete anos e meus primos que moravam na capital vieram nos visitar, ano era 1976, pouco depois das Olimpíadas de Montreal, que eu não assistira, mas eles sim. Resolveram fazer uma competição entre nós, como eu era o menorzinho, só fiz pontos na leitura, que por acaso foi um livro de Monteiro Lobato, que mostrava as aventuras de Pedrinho.

Tudo bem, desde aí ganhei “fama” de leitor, na verdade eu já lia desde os quatro anos, meus irmãos liam os livros eu decorava as estórias e pegava os livros e “lia” em cima, fui alfabetizando lendo, sem saber as letras direito. Mas tomei gosto pela coisa. Como era tradição de família, aos 8 anos fui fazer primeira comunhão e virar coroinha, naquel tempo chamávamos de acólito, ganhei uma bíblia ilustrada e aquilo era uma maravilha, a lia como literatura, as histórias e estórias eram fantásticas. Confesso que ler aquela bíblia era melhor do que ajudar o padre, dava um azar danado sempre caia na missa do sábado as 18 horas, justo no horário da Disneylândia, ia chateado e com sono, às vezes cochilava durante o sermão, de bom é que decorei todas as falas do padre, aliás antes dele as pronunciar eu me antecipava, ele me olhava com reprovação.

Juventude e Esquerda

Depois morando em Fortaleza conheci o professor de português Roberto Falcão, estava na época com 12 para 13 anos, ele fôra preso político da ditadura por sua militância no teatro, ele participara do grupo do José Wilker, eram área de influência do partidão. Falcão, além de excelente professor, era um baita contador de histórias sobre o leste europeu, onde tinha se exilado, contava sobre os operários e povo leitor, que devoravam livros, mas ali pouco de nós era afeito a ler. Foi dele que ganhei o gosto por meus dois autores nacionais pré-adolescente: Jorge Amado e Érico Veríssimo.  Aquela descoberta foi maravilhosa, minha mãe era diretora de escola e os vendedores de livros costumavam presenteá-la com coleções em capa dura, ou vender a preços módicos. Para minha sorte ela tinha todos os livros de Jorge e Érico, acabei lendo os dois fim a fim. Depois já na escola técnica me dediquei a Machado de Assis.

Mas justamente na Escola Técnica travei meus primeiros contatos mais próximos com os textos marxistas. Por um lado através de Elias e Leal, que eram do Pc do B, pelo outro lado Simone que era Trotskista. Dos debates com os dois lados, acabei tendo contato com uma turma sensacional que me identifiquei logo de cara, Alexandre, pequeno, Carlos e Hélade, eles faziam parte de um grupo ultra-secreto que rompera com o partidão e eram dedicados aos estudos marxistas. Estes me levaram efetivamente a buscar um caminho mais sistemático do marxismo. Daí parti para leitura de Marx (menos o Capital, que fui ler bem depois), Engels e Lenin. Foi um achado, líamos muito e debatíamos tudo, os antigos militantes do Coletivo Gregório Bezerra, eram conhecidos como “ratos de livros”. A combinação de leitura, debates e participação no movimento estudantil me moldou e me tornou o que sou.

Literatura Clássica

Quando vim para São Paulo, em 1989, não podia levar para o trabalho livros marxistas, não era de bom tom alguém andar com tal literatura numa empresa privada. Mas como leitor voraz voltei-me para literatura clássica, quase por coincidência certa manhã, num sábado, estava trabalhando no Guarujá fui de bicicleta a Santos, lá numa livraria na praça independência, deparei-me com o Hamlet, um pequeno livro da edições de Ouro, tradução do Carlos Nunes, resolvi comprar, ainda ali em frente ao mar comecei a ler, voltei na livraria e encontrei mais três peças do Shakespeare: Macbeth, Coriolano e  Comédia dos Erro, levei para casa.

Semana seguinte comprei todos os títulos dele disponíveis, aquilo me encantou, havia e, há, um tabu sobre a dificuldade de entender Shakespeare e qualquer obra clássica, mas me senti um asno de aos 21anos não ter lido antes, perdi tanto tempo, em pouco mais de dois meses já lera todas as obras publicadas pela gloriosa Edições de Ouro, no formato bolso. Quando voltei a São Paulo passei a freqüentar a sede da Ouro ali perto do largo do Paissandu. Lá descobri Goethe, Platão, e as maiores descobertas o teatro grego.

O teatro grego eu já conhecia alguma coisa, mas ali na Ouro eu passei a ler o que tinham, tempo depois comecei a comprar as edições mais elaboradas da Zahar com traduções diretas do grego, do Mario da Gama Khury e tomei as primeiras aulas do mestre para sempre Junito de Souza Brandão. Ele me abriu amplo campo de visão sobre o mundo grego, através dele eu me encorajei e li de uma levada só Ilíada e Odisséia, coisa de uma semana, passei a buscar tudo que havia sobre o mundo Greco-romano. Fui atrás da Paidéia, os livros de Platão e seu personagem Sócrates, depois Aristóteles, os historiadores Tucidide e Herótodo. Depois no lado romano Sêneca, Marco Aurélio, Plauto, Suetônio, Plutarco e suas vidas comparadas, Virgilio, Ovídio e o mais espetacular de todos: Dante. A Divina Comédia, em particular o Inferno, continua sendo uma eterna fonte de consulta

Quem também me causou impacto foi Camille Paglia com seu grandioso “Personas Sexuais”, um delicioso livro.  A erudição e os ensinamentos do mestre Harold Bloom me fez reler livro a livro do Shakespeare por várias vezes, o Hamlet acredito que devo ter lido pelo menos umas 20 vezes, sempre acho que ainda não li tudo. Com Bloom se Cânone Ocidental me fez repensar autores e leituras, compreender melhor cada um.

De tudo isto conclui que a literatura me fez um homem melhor, transformou decisivamente minha vida e minha história, a vontade de ler e aprender leva-nos a outros mundos, a viagens fantásticas, a lista de livros fundamentais é imensa, e o Google não lhe ajudará a conhecê-lo, para o bem ou para o mal você tem que ler. Todos têm sua lista de imperdíveis, segue as minhas em ranking imaginável:

  1. Hamlet;
  2. Ilíada;
  3. Divina Comedia;
  4. Odisséia;
  5. Fausto;
  6. O tempo e o vento
  7. Trilogia Tebana;
  8. Trilogia de Orestes;
  9. Macbeth;
  10. Capitães de Areia;

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0 thoughts on “113: Influências Literárias (Post 112 – 66/2011)”

  1. Arnobio,

    Quando escrevi o post Torre no meu blog (http://migre.me/5uRk9) estava exatamente a pensar que se rememorarmos nossa história pessoal com a literatura, estaremos nos conhecendo um pouco mais e, de quebra, nos revelando aos outros.

    Para mim, generosidade é, por muitas vezes, contar ao outro o que há de bom e sagrado por essa terra afora. Você fez e faz isso constantemente no seu blog. Muito legal!

    Beijo,

    Gisele

  2. Que delícia, devorei cada palavra. Vou pensar na minha lista de imperdíveis! (medo de nada me vir à mente, é tanta coisa esquecida…)

  3. Prezado, quanto mais sei de vc e de sua trajetória pessoal, mais te admiro !!! A amizade de pessoas – como vc, Marinilda e o Felipe (@lufeba), são verdadeiros tesouros que vou conservar com muito carinho, pelo o resto da minha vida.
    Um abraço
    Jorge

  4. as vezes eu acho que você não existe!!! cada diz que passa aumenta minha admiração por sua dedicação a leitura pela forma inteligente em que passa suas ideias! obrigada por compartilhar conosco o seu bom gosto! ainda tenho muito que aprender!

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