Arnobio Rocha Reflexões São Paulo – Quando o amor acontece (Post 101 – 55/2011)

São Paulo – Quando o amor acontece (Post 101 – 55/2011)

Descobrir São Paulo, é descobrir o amor para toda vida

Ontem, como sempre faço de segunda a sexta, acordei muito cedo, um frio de matar, preparei café da minha filha e meu, conversamos rápido e saímos, para que o rodízio não me pegasse. Ao sairmos da garagem aquela paisagem de Fog londrino bateu forte na minha alma, lembrei-me nitidamente do dia que decidir viver em São Paulo.

Estas coisas não têm muita explicação batem em si e a decisão é imediatamente. Em 1986, morava em Fortaleza, fazia Escola Técnica Federal e era líder estudantil, resolvemos participar de um encontro de estudantes de escolas técnicas em, Curitiba, naquela época não era simples sair de Fortaleza e ir a Curitiba, passagens aéreas eram caríssimas e movimento estudantil saindo da ditadura ainda era incipiente. Conseguimos passagens de ônibus e fomos até a capital paranaense.

A longa viagem e o excelente encontro nos animou a passar em São Paulo para aprofundarmos alguns contatos e acertos na sede da UBES. Um grande amigo do PC do B tinha um cunhado que morava em São Bernardo e garantiu o lugar para ficarmos por dois dias. Partimos de Curitiba num fim de tarde e chegamos já tarde da noite em São Paulo.

No outro dia pela manhã, dei-me conta que estava na mítica São Bernardo das imensas lutas que efetivamente derrubou a ditadura, o companheiro que nos abrigou era militante sindical metalúrgico e nos contou sobre como era o sindicato, quem era Lula, Meneguelli e um novo quadro Vicentinho, nordestino como nós, aquilo foi uma aula para meus 16 anos.

Chegamos a São Paulo umas 10 da manhã e aquela névoa, aquele clima frio, aquela confusão de carros, a estação de metrô, falou alto no meu coração, fomos à sede da UBES na Ana Rosa, dali ao Centro Cultural Vergueiro, que naquela época era point intelectual, flanamos pela livraria Pau Brasil (Hoje o dono daquele espaço revolucionário é meu amigo). Aquilo tudo era encantador demais, respirava-se política e democracia.

Nosso grupo era heterogêneo politicamente: Elias do PC do B, Cecília, Guilherme do PT, na época não tinha filiação partidária, era próximo de um grupo que saíra do PCB com Prestes, mas rompera com ele porque fora ao PDT. Então era muito bom o debate, as discussões que na época girava em torno do Plano Cruzado, apoiado pelo PC do B e criticado por nós. Preparavam-se as eleições para o congresso constituinte, o PC do B fazia aliança preferencial com o PMDB/Sarney, e mais debate.

Mas o clima era muito bom, o debate era de bom nível, todos sonhando com as grandes mudança que viriam, neste mesmo dia a noite, revelei aos amigos: “Gostei de São Paulo, quando terminar Escola Técnica virei morar aqui”. Eles riram sem acreditar, despontava como uma grande liderança estudantil em Fortaleza, jamais sairia de lá.

Mas eles não entenderam que eu fora picado pela paixão que São Paulo desperta algo inexplicável, sem lógica, como é próprio do amor, são segredos do coração e da alma. Muitos nascem aqui, mas não escolheram morar aqui, eu não nasci aqui, mas conscientemente escolhi viver aqui. A imagem da névoa e a constante garoa deste ano renovaram meu Amor a minha cidade.

PS: Terminei Escola Técnica dia 15/07/1989, dia 17/07/1989 comprei passagens para ir a Goiânia para um congresso e depois dele em 22/08/1989 estava aqui. Qual sua história?

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  1. Prezado Arnóbio, como falava meu avô, acredito que sofremos das faculdades mentais, quando declaramos amor à São Paulo de todas as gentes.

    Eu, aí nasci. Morando no Guarujá há 40 a., digo que a minha cidade é São Paulo.

    Está enraizada dentro da gente. Sempre brinco com a Marcia ao sair do elevado e entrar na 23 de Maio, alertando-a do buraco no lado dreito da curva, velho conhecido, como muitos outros pontos entre São Miguel e a Lapa, Parelheiros e Cantareira.

    Meu passeio preferido na manhã de domingo, quando posso deixar o Guarujá, e tomar café no Girondino ao lado do Mosteiro de São Bento e almoçar no Arouche, recordando aa cosntrução do Ed Pigalle; faz tempo!

    São Paulo tem tudo: tem Paris, N York, Miami, Porto Príncipe. E está perto à São Bernardo do Lula, precisa mais?

  2. Eu nasci aqui, filhos de pai do Ceara, mãe de alagoas, cresci com a cultura do nordeste e com muitos habitos que não sabemos de onde vem.
    Acordamos pela manhã para comer pastel num domingo, saimos de bermuda e blusa com capus num dia de inverno.
    Falamos nóis e adoramos sarapatel, comemos pizza com catchup e pedimos cachorro quente com milho e catupiri.
    Casei com uma paulista, filha de paulistas com avós alemaes e italianos, minha filha nasceu aqui e acredito que todos nós somos tipicamente paulistas, misturamos tudo e vivemos com tudo, não gostamos do que mais nos identifica, o frio, então fazemos o que mais odiamos, transito, indo para praia grande. heheh…Valeu a memória. Fique em PAZ.

  3. Tudo muito lindo, o post e os comentários. Sinto enorme amor pelo Rio. Da última vez em que lá estive, em maio, revendo aquele céu azul e aquelas montanhas incríveis, disse ao meu filho: Que pena que o Rio me expulsou… Sim, porque odeio o calor e o trânsito do Rio. O resto eu adoro!

  4. Belo texto que mostra como os que nós de fora de São Paulo aprendemos a amar a cidade, sem nem saber por que. O comentário do Roberson complementa lindamente o post.

  5. Ola Arnóbio,

    minha história de amor por SP, veja só, começa muito semelhante a sua, pois tbm participava de movimentos estudantis e foi num desses congressos que tive a oportunidade de conhecer SP. Mas ao contrário de vc, desde muito jovem desejava morar aqui…não sei como, nem porque, mas era aqui que queria viver. E, quando a vi pela primeira vez, não tive dúvidas…só confirmações. Sp com suas contradições (e quem não as tem não é?) e com seus encantos…É uma cidade que nos acolhe, nos rejeita, nos afeta e por nós é afetada…Uma cidade onde temos a oportunidade de aprender a compreender de tudo um pouco e de pouco muito!!! Sou feliz aqui e não me vejo em outro lugar. “Alguma coisa acontece no meu coração…” Abraços, alegrias e sucessos aos paulistanos por opção!!!!

  6. Eu amo São Paulo, mas nasci lá. Porém, não consigo viver nesta cidade tão caótica, apesar de amá-la. Quando fui a primeira vez ao Rio, me apaixonei, da mesma maneira que você se apaixonou por Sampa. E hoje vivo aqui no Rio, mas meu coração é bem dividido, pois há tantas coisas que amo em São Paulo. A minha cidade nunca vai sair de mim, eu a carrego comigo por onde vou, é parte de minha essência, minha identidade.

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