Arnobio Rocha Filmes&Músicas As Crônicas de Nárnia (53 – 07/2011)

54: As Crônicas de Nárnia (53 – 07/2011)

 

 

 

 

Sendo pai de duas crianças, uma agora já bem mocinha, nos últimos anos tenho me dedicado a assistir bastantes filmes com temática infanto-juvenil, alguns desenhos são absolutamente geniais, que infelizmente as franquias criam seqüências duvidosas. Alguns por terem vindas em série justificam os vários capítulos. Destacaria vários filmes desta safra: Monstros SA, Shrek, Era do Gelo, Carros, Senhor dos anéis (mais adulto e complexo), Percy Jackson, Harry Porter.

Ontem assisti ao terceiro filme da série as crônicas de Nárnia (A viagem do peregrino da Alvorada), achei uma excelente diversão, escrito por CS Lewis no pós-guerra, traz muitos elementos do mundo inglês do ponto de vista das crianças que perdem seus pais para guerra e têm que criar suas aventuras num mundo bombardeado.

As crônica de Nárnia são as estórias de quatro irmãos (Pedro, Suzana, Edmundo e Lucia) que se aventuram num mundo paralelo (Nárnia) cheio de magia, feiticeiros, bichos que falam. Um mundo de homens, heróis e guerreiros, em que eles são convidados a participar. Nos dois primeiros episódios os irmãos vão para Nárnia e tornam-se pequenos reis por sua coragem, bravura, bondade e doçura.

Este rito de passagem de ir à Nárnia fez de Pedro e Suzana dois belos e destemidos jovens, que completam seu rito nos dois primeiros filmes. Edmundo e Lucia ainda estão virando rapaz e moça, tendo ainda uma etapa a mais a cumprir.

A Viagem do Peregrino da Alvorada

 

Neste terceiro filme, Edmundo e Lucia, agora acompanhados pelo mau humorado Eustáquio, seu primo, são tragados pelo mar que cairá de uma pintura. Reencontram o Príncipe Caspian, que comando um Navio Viking, rumando a uma ilha próxima ao fim do mundo.

Mitologias: A referência

 

São muitas referência a mitologia grega, neste filme elas são mais evidentes, o barco que pode ser desde os Argonautas de Jasão ou de Odisseus. As mulheres oferecidas em sacrifício que são levadas a ilha negra, seus barcos some no meio de nevoeiros, lembram as jovens entregues na ilha de Creta para que o minotauro se satisfaça.

Vários temas também são usados como o mito de Midas, um dos sete nobres é transformado em ouro, na fonte da riqueza, e tudo que se toca também vira ouro. O banquete preparado, mas que não se pode comer é outra referência aos mitos gregos.

Aliás, os sete nobres e suas sete espadas não são um número por acaso, número sete está presente em várias passagens mitológicas e bíblicas: Sete rapazes e sete moças são oferecidos ao minotauro. São sete as portas de Tebas. Zeus “casou” com Sete deusas e Sete mortais. Odisseus ficou por Sete anos amando Calipso. No Apocalipse 5,5, Cristo é o Leão de Judá, que venceu de tal maneira, que pôde abrir o livro e desatar os sete selos. As sete cores do arco-íris no esoterismo islâmico simbolizam a imagem das qualidades divinas refletidas no universo, já que o arco-íris é a imagem inversa do sol sobre um véu inconsistente de chuva. O arco-íris é a escada de sete cores por onde Buda torna a descer do céu. Lembro ainda que depois Tolkien usou os Sete anéis como distribuição das forças.

A chegada a ilha do negra é uma volta à Odisséia quando Odisseus enfrenta o estreito em que dominam Cila e Caribde, monstros marinhos que assustará sempre os argonautas não importando a época histórica, os marinheiros são ameaçados por serpentes marinhas gigantes, aqui Edmundo terá que provar sua passagem à idade adulta.

O esnobe e tolo Eustáquio será profundamente transformado, sua personalidade será revelada na pele de um dragão uma oportunidade única de que sua psique indômita se revele forte e generoso, sua luta e depois profunda amizade com o ratinho Ripchip será uma bela passagem deste filme.

Aslam: O Leão

Por fim a busca do mundo de Aslam, o Leão, que consoanta Junito de Souza Brandrão seria a seguinte representação psicológica:

“Símbolo da justiça, o Leão é a garantia do poder, material ou espiritual. É, desse modo, que serve de trono ou montaria a numerosas divindades, assim como adorna o trono de Salomão, dos reis da França ou dos bispos medievais. Símbolo do Cristo-Juiz e do Cristo-Doutor, transporta-lhe o livro sagrado. É nesta mesma perspectiva que figura como emblema do evangelista São Marcos. Símbolo, por outro lado, da soberba e da arrogância, da impetuosidade e do apetite incontrolável, figura uma pulsão social pervertida: a tendência à dominação despótica, cuja tônica é a imposição brutal do autoritarismo e da força.

O rugido profundo do leão e sua goela aberta conduzem, no entanto, a um outro simbolismo, não mais solar e luminoso, mas sombrio e ctônio. Com esta visão inquietante, o leão se assemelha a outras divindades infernais que tragam o dia no crepúsculo e o expelem na aurora. No Egito, leões eram representados com freqüência em duplas, dorso a dorso: cada um deles olhava o horizonte oposto, um a leste, outro a oeste. Figuravam, assim, os dois horizontes e o curso do sol, de uma extremidade à outra da terra. Vigiando, desse modo, o transcurso do dia, representavam o ontem e o amanha. Destarte, a viagem infernal do sol o conduzia da goela do Leão do Ocidente para a do Leão do Oriente, de que renascia cada manhã, tornando-se os dois leões o agente fundamental do rejuvenescimento do astro. E, de uma forma mais ampla, configuravam a renovação da força e do vigor que assegura a alternância do dia e da noite, do esforço e do repouso. Como se pode observar, expelindo a cada manhã o sol, a visão ctônia do Leão foi exorcizada e a imagem da morte tornou-se penhor de vida. É exatamente isto que se observa em outras culturas, em que o leão, devorando periodicamente o touro, expressa a dualidade antagônica fundamental do dia e da noite, do verão e do inverno. “

No mundo de Aslam só aqueles que cumpriram sua missão em Nárnia podem entrar.

Belo Filme, bela aventura, que mistura símbolos e inteligência, criando um mu
ndo mágico que habita as cabeças das crianças e jovens sonhadores.

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0 thoughts on “54: As Crônicas de Nárnia (53 – 07/2011)”

  1. Acompanhar os filhos em sua construção cultural é uma delícia. Fiz isso com os meus, entretanto “As Crônicas de Nárnia” apareceram por aqui quando meus filhos já estavam grandes, por isso não as li. Vi o primeiro filme, mas não com seus olhos. Vou revê-lo e assistir ao 2º e ao 3º. Adoro quando alguém ilumina uma obra numa direção diferente.

  2. Estou lendo o livro, a edição única e vale muito a pena!

    Mais um ótimo texto, Arnóbio! Adoro quando vc escreve sobre simbologias e mitologias!

    E Junito Brandão é o mestre!!!

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