Arnobio Rocha Literatura Macbeth: Trono de Sangue (28 – 18/2010)

29: Macbeth: Trono de Sangue (28 – 18/2010)

 

 

 

Tema: Tragédia

(As bruxas desaparecem.)

BANQUO — A terra tem borbulhas, tal como a água. Elas são justamente isso. Mas para onde sumiram?

MACBETH — No ar; e tudo quanto nos parecia ser corpóreo se fundiu como ao vento nosso anélito. Oh! se tivessem demorado um pouco!

Segundo o grande Professor e crítico literário Harold Bloom: “Shakespeare e Dante são o centro do cânone porque superam todos os outros escritores ocidentais em acuidade cognitiva, energia lingüística e poder de invenção”, esta definição própria dos três dons fundamentais se funde nas obras dos grandes bardos. Em que momento esta genialidade aflora é muito difícil precisar, Bloom arrisca que no caso de Shakespeare inicia-se com “Trabalho de amores perdidos” e vai numa seqüência incrível que em menos de cinco anos(1593-1598) tinha “Sonhos de uma noite de verão”, “O Mercador de Veneza”, as duas parte de “Henrique IV” “Rei João” e “Romeu e Julieta”. Com Falstaff ele atinge o primeiro grande pico de personagens que culminará no maior deles Hamlet.

Atingindo por uma tragédia pessoal, morte de seu filho, Shakespeare escreve várias grandes tragédias, entre estas, a mais diabólica delas Macbeth:.

Resumo

Macbeth, o grande general do Rei Duncan, no campo de batalha debela a revolta contra o trono promovido por Macdonwald. Simultaneamente o Thane(Duque) de Cawdor  se alia ao rei norueguês para tentar derrubar o rei Duncan e tomar o poder, porém as forças reais os derrota. Na volta da batalha Macbeth e seu melhor amigo Banquo são surpreendidos por uma aparição terrível de três bruxas que proclamam:

MACBETH — Respondei, se puderdes: quem sois vós?

PRIMEIRA BRUXA — Viva, viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Glamis!

SEGUNDA BRUXA — Viva, viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Cawdor!

TERCEIRA BRUXA — Viva Macbeth, que há de ser rei mais tarde!

BANQUO — Meu bondoso senhor, por que motivo vos mostrais assustado, parecendo recear o que de ouvir é assim tão belo? Em nome da verdade, imaginárias sereis realmente, ou o que mostrais por fora? Meu nobre companheiro foi saudado com títulos, por vós, de atual valia e grande predição de haveres nobres e de real esperança, que parece deixá-lo arrebatado. Porém nada me dissestes. Se podeis ver a seara do tempo e predizer quais as sementes que hão de brotar, quais não, falai comigo, que não procuro nem receio vosso ódio ou vosso favor.

PRIMEIRA BRUXA — Salve!

SEGUNDA BRUXA — Salve!

TERCEIRA BRUXA — Salve!

PRIMEIRA BRUXA — Menor do que Macbeth, porém maior!

SEGUNDA BRUXA — Não tão feliz, mas muito mais feliz!

TERCEIRA BRUXA — Gerarás reis, embora rei não sejas! Assim, viva Macbeth e viva Banquo!

As duas primeiras profecias em relação a Macbeth são inesperadamente cumpridas, ainda no campo de batalha ele é informado que recebera os títulos: Thane de Glamis e de Cawdor. Aguça nele o desejo ardente de que seja cumprida a terceira profecia, de que seria rei. Convidado a entrevistar-se com o rei Duncan, ele vai com Lady Macbeth sabedora das predições das bruxas, ambos tramam a morte do rei e a executam na mesma noite após o jantar.

Numa longa seqüência, Macbeth mata os dois sicários contratados para assassinar o rei, e assume o trono. Lembrando das profecias em relação a Banquo seu amigo e cúmplice, também o mata, o trono está todo manchado de sangue.

Transtornado volta ao local que vira as bruxas e conclama-as a novas previsões:

MACBETH — Ouve-me, força ignota…

PRIMEIRA BRUXA — Não prossigas. Sabe o que pensas. Ouve e nada digas.

PRIMEIRA APARIÇÃO — Macbeth, Macbeth, Macbeth! Toma cuidado com Macduff, acautela-te com o thane de Fife! Desobriga-me; é o bastante.

(….)

SEGUNDA APARIÇÃO — Sanguinário sê sempre, ousado e resoluto, e aprende a rir do homem, porque ninguém nascido de mulher poderá, em nenhum tempo, fazer mal a Macbeth.

(…)

TERCEIRA APARIÇÃO — Veste a força do leão, sê orgulhoso e não te importes com quem quer que resmungue ou se rebele, ou contra ti conspire, pois vencido não há de ser Macbeth, enquanto o grande bosque de Birnam não subir contra ele ao alto Dunsinane. (Desce.)

(Aparece uma seqüência de oito reis, tendo o último um espelho na mão; segue-o o fantasma de Banquo.)

MACBETH — Pareces muito o espírito de Banquo. Desce! Tua coroa cauteriza-me os olhos; teus cabelos — tu, uma outra fronte de ouro cingida — se parecem com os do primeiro, tal como o terceiro que se lhe segue. Bruxas repugnantes, por que me mostrais isto? Outro! É o quarto! Olhos, estarrecei. Como! esta linha se estenderá até ao fim do mundo? Mais um, ainda? o sétimo? Não quero ver mais nada; porém eis que surge o último com um espelho na mão, que muitos outros, ainda, me revelam. Uns distingo com duplo globo e cetro triplicado. Pavorosa visão! Agora vejo que é verdade, pois Banquo, recoberto de sangue, me sorri e mos indica, como se filhos dele fossem todos. (As visões desaparecem.) Como! É assim!

Macbeth fica paranóico e num jantar com toda a corte ele começa a ter visões de que Banquo está na mesa a assustá-lo, causa comoção a sua loucura, Lady Macbeth trata de desculpar-se dizendo tratar-se de um mal súbito. Porém a própria Lady Macbeth começa a ter alucinações com as mãos cheias de sangue do casal real morto, na sua loucura de suicida. Ao ser informado da morte da esposa e aliada de todos os crimes:

SEYTON — A rainha morreu, senhor.

MACBETH — Devia ter morrido mais tarde; então, houvera ocasião certa para tal palavra. O amanhã, o amanhã. Outro amanhã, dia a dia se escoam de mansinho, até que chegue, alfim, a última sílaba do livro da memória. Nossos ontens para os tolos a estrada deixam clara da empoeirada morte. Fora! apaga-te, candeia transitória! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre cômico que se empavona e agita por uma hora no palco, sem que seja, após, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muita barulheira, que nada significa.

A Macduff  Thane de Fife organiza um exército com nobres e apoio inglês e enfrenta o enfermo  Macbeth, confiando na profecia enfrenta um a um seus adversários até bater-se com o próprio Macduff , este lhe informa que não nascera de mulher, pois era prematuro, sua mãe não tivera parto normal.

Comentário:

Trono de Sangue é muitas vezes usada como subtítulo de Macbeth pela violência extrema, a luta pelo poder de lugar-tenente que depois de previsões mágicas (aqui a psique, fala-lhe aos seus ouvidos) ele junto com Lady Macbeth parte resoluto para fazer cumprir todos os desígnios, não importando o quanto de sangue precisará derramar.

Os elementos de ambição, necessidade de satisfazer o desejo de poder, a corrupção moral e ética, transformam Macbeth numa máquina de matar, não poupa ninguém, seus superiores e parentes, seus amigos fieis e levam a loucura sua esposa e cúmplice. O suicídio dela assim como a busca pela morte de Macbeth fecham o círculo do mal.

O General vencedor dar lugar ao humano ambicioso das intrigas palacianas, como rude homem da guerra a morte é mero detalhe na sordidez de sentimento que lhe consume. Shakespeare nos apresenta a consciência por inteiro de toda maldade que o ser humano é capaz, Macbeth reflete, diz exatamente o que sente, sua crueza e crueldade saltam nos versos.

As reflexões de Macbeth poderiam ser de qualquer um de nós no espelho, principalmente daqueles que buscam o PODER a qualquer preço. Amigos, lealdade à pátria e aos superiores são todos esquecidos pelo desejo ardente e sanguinário de ter PODER real e irrestrito.

As bruxas, por óbvio, são nossos “demônios” adormecidos, que desperta nossa vaidade e maldade, em particular nos momentos de glória (Macbeth acabara de vencer uma guerra civil). Corrompe o espírito, perde a placidez e virtude, e joga à roda viva para saciar a sede de PODER.

A peça é tida como “amaldiçoada” desde quando foi encenada a primeira vez no Globe, diz-se que pegou fogo, noutra vez o ator principal faleceu. É sempre cercada de estórias, tendo inclusive, tacitamente, banida de representação por estas coincidências infelizes. Roman Polanski fez sua versão pouco depois do assassinato de sua esposa Sharon Tate. Orson Welles fez sua em 1948. Akira Kurosawa fez Kumonosu-Jô (Trono Manchado de Sangue) em 1957.

http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/macbethr.html

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