Arnobio Rocha Política Rearmamento Teórico (13 – 03/2010)

Rearmamento Teórico (13 – 03/2010)

 

 

Pós-muro de Berlim: a grande melancolia da Esquerda

As imagens da queda do muro de Berlim, mostradas e reprisadas à exaustão foi um baque imenso na Esquerda mundial, havia dois sentimentos nas principais correntes de pensamento:

1)       Estupor: Por parte dos grupos que tinham vínculos históricos político-afetivos com a URSS, em particular correntes Stalinistas e não-trotskistas em geral. Aquele profundo desanimo de repensar a vida e valores morais, culturais, fé e utopia;

2)      Euforia: Por parte das correntes Trotskista, que viram na queda a justeza de que sempre tiveram razão de que lá não era Socialismo e mais ainda que uma nova revolução estava em curso, os trabalhadores não aceitariam à volta do “capitalismo”.

Sabemos as profundas conseqüências deste comportamento. Na parte não-trotskista e stalinista, muitos companheiros se quebraram, moralmente abatidos, era uma paulada atrás da outra, todos os sonhos ruíram de forma rápida e inequívoca, praticamente Todos os projetos de esquerda no mundo foram desarticulados, a vitória histórica foi acachapante.

Do lado trotskista a ficha demorou a cair se é que efetivamente caiu para alguns, de que eles também não teriam público para continuar a revolução, a própria análise de que o leste não era Socialista, mas mesmo assim os trabalhadores de lá não iam aceitar o Capitalismo é uma flagrante contradição.

Houve uma tentativa meio “tateado às cegas” de fazer balanços históricos de se entender o que passara nos 72 anos de URSS, os grandes erros, o que levar de lição da revolução. Porém faltaram “audiência” e disposição moral para ir até o fim.

Na metade dos anos 90 a atomização da esquerda revolucionária era fato, com a integração do PT ao regime, as experiências de PSTU e mais recente PSOL, ainda não tem dimensão de massas e não conseguiram discutir um programa capaz de empolgar o ideário revolucionário. Permanecendo assim o PT ainda dentro de um campo de debates de idéias e suas de experiências de administrações dentro dos marcos burgueses são referência para o conjunto da classe.

Pós-queda de Wall Street: a grande melancolia da Direita

Setembro de 2008 é o marco da queda do castelo Neoliberal, a bancarrota de toda a lógica de acumulação de capital dominante da última do Século XX e a década inicial deste século tem efeito político-ideológico similar à queda do muro de Berlim.

Ruiu a visão de que a História tinha acabado, de que o Estado não era mais necessário, de as organizações coletivas eram peças de museu. Todo arcabouço ideológico foi “triturado” pela crise.

As ações dos frágeis Governos nacionais foram em busca do receituário do passado, ninguém propôs menos estado, por que será? O estado virou a salvação de todos os pecados, aquele mesmo que fora “demonizado” nos áureos tempos Reagan, veio como o Salvador, não deve passar despercebido que a mídia fechou os olhos para esta heresia.

Óbvio que o desmonte feito no Estado em alguns países foi de uma violência tamanha, que nem a possibilidade de uma ação mínima foi tentada. Nações inteiras faliram, exemplos piores na periferia foi México, Argentina e Turquia. Nas economias centrais os seus déficits públicos e endividamento estatal foram ao espaço, noticias de hoje dão conta de que: Grécia, Espanha, Portugal e Itália estão na completa insolvência. Caricato é Dubai ilha artificial da burguesia de mau gosto também faliu.

Hoje lendo o Blog do Luis Nassif me deparei com um artigo do Bresser Pereira e José Luis Oreiro:  “Keynesianismo vulgar e o novo desenvolvimento “(http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/02/05/keynesianismo-vulgar-e-novo-desenvolvimentismo/) que me chamou a atenção para o fato de que a Direita está sem rumo, não sabe em que se pegar, revive velhas políticas, está parecida conosco nos anos 90, a diferença é que não alternativa ao Neoliberalismo nem à Esquerda nem à Direita.

Interessante debate, mas buraco é mais embaixo, no post anterior do Blog “Apogeu e queda do Neoliberalismo” (http://arnobiorocha.wordpress.com/2010/02/04/apogeu-e-queda-do-neoliberalismo/ ) busquei mostrar que, assim como a Esquerda ficou desarmada pós-muro, vejo que a Direita agora está sem terra sob os seus pés.A saída da esquerda foi buscar seus teóricos(Marx,Lenin) agora a Direita busca keynes assombradamente, como uma miragem.

Um novo debate de projeto de mundo

Este jogo de projetos alternativos volta ao mundo depois de 19 anos de massacre e pensamento único, a Direita tinha seu projeto e era incontestável, hoje ela não tem projeto, apenas administra (mal e porcamente) a crise gigantesca, mas ainda não achou um novo cabedal político e ideológico a ancorar.

A esquerda na sua longa crise letargia ainda não forjou um novo paradigma na luta contra o capital, aqueles(trostkistas) que achavam que a revolução se abria não conseguiu encontrar seus “novos/velhos Soviets” nem a Direita achará seu “Estado de Bem estar Social”.

A questão é complexa para os dois lados, buscar teoria já testada é necessário, porém mundo não é o mesmo de 1917 e nem anos pós-guerra. Este é desafio da Direita e o nosso da Esquerda: entender o mundo parece secundário, mas ambos (direita e esquerda) dão respostas com receituário velho para novas doenças. Agora empatamos o jogo, estamos sem armas e certezas absolutas

Claro que a situação é melhor já não sofremos o massacre político-ideológico destes últimos 20 anos, mas também não nos conforta saber que fomos incapazes de repensar nossos conceitos, nem o velho Marx conseguimos entender. Neste tempo todo não termos feito nada de concreto, alternativo, apenas resistir é muito pouco.

A Direita tem tempo, dinheiro, quadros, controle da conjuntura para se repensar, cooptar alguns dos nossos, torná-los dóceis e usáveis, mas não demonstrou nada global que substitua o modelo Reagan.

É um mundo novo cheio de significados e mistérios, propício às novas idéias será que somos capazes de conquistá-lo?

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0 thoughts on “Rearmamento Teórico (13 – 03/2010)”

  1. Rearmamento teórico é pensar em Software Livre; na Sociedade em Rede; em Antonio Negri, Michael Hardt, Giuseppe Cocco, Domenico De Masi, Emergência, Cauda Longa. Remidiação, Midiatização.

    A esquerda ainda pensa o mundo da modernidade, do talorismo-fordismo e do mero conflito entre classes. Pensa em massa e em povo, quando deveria pensar em multidão; pensa em democracia representativa e em socialismo quando deveria pensar em democracia emergente.

    Pelo menos essa é a minha opinião: partidos e sindicatos não são mais a solução para lidar com opressão, desigualdade, ilegalidade e arbitrariedade. E a mídia de massa (rádio, TV, jornal e revista) é uma indústria que influencia muito menos corações e mentes do que se possa imaginar.

    []’s,
    Hélio

  2. Complemento com algumas ideias a mais:

    – Link interessantíssimo para refletir sobre a democracia emergente:http://www.trezentos.blog.br/?p=2193

    – Todas as pessoas possuem dentro de si um potencial de engajamento, politização, esclarecimento e espírito de solidariedade e colaboração. Todos tem causas individuais e coletivas a defender. Contudo, além de não querer ou não saber como se libertar do individualismo imposto pelo consumismo, há também o medo de que, se for “revolucionário” demais, sofrerá com a polícia assim como ocorria durante a ditadura militar;

    – Existe um preconceito fortíssimo de pessoas da esquerda clássica quando algum “burguês” resolve se engajar: acham que não é uma atitude sincera nem isenta de segundas intenções. Depois, com os privilégios da máquina do partido, acabam agindo exatamente da mesma maneira.

    – As pessoas são atraídas por CAUSAS. Causa independe de ideologia, de partido ou de formação de quadros políticos técnicos ou teóricos: o que incentiva as pessoas a participar presencialmente a partir de ações iniciadas online é principalmente a possibilidade de confiar na HORIZONTALIDADE, isto é, na sensação de ausência de hierarquia, de burocracia e de repressão no desenrolar da ação social. É o ato puro de ser ator da construção do próprio conhecimento e da percepção da sua própria identidade sem que seja mandano ou “catequizado”.

    []’s,
    Hélio

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